sexta-feira, 10 de março de 2017

Opinião do site Luz Espírita a respeito da matéria da Revista Exame

Após postar em seu site a matéria que a Revista Exame publicou intitulada Pessoa tem ondas cerebrais 10 minutos após ser declarada morta (veja aqui), Luz Espírita redigiu sua opinião baseado na doutrina espírita.

Posto aqui na íntegra os comentários, argumentos, reflexões do site Luz Espírita.

Lógica espiritualista

Este é mais um caso concreto a corroborar a lógica espiritualista de que a essência da vida é um atributo da alma (Espírito) e não de um fenômeno material, como pretendem os materialistas. Se, com a falência orgânica, o corpo material ainda se manifesta, de uma forma qualquer, não sendo por si só, há de sê-lo por intermédio de uma força extrafísica – no caso, provavelmente, em função do desligamento incompleto do perispírito pertencente ao Espírito que havia encarnado naquele corpo. E dizemos "provavelmente", por haver ainda a possibilidade (se bem, muito pouco provável) de um Espírito – seja aquele recém-desencarnado, seja outro qualquer – ter provocado tal manifestação física naquele cadáver, assim como é possível um fenômeno físico de animação de qualquer objeto material (como as manifestações de mesas girantes).

 Esta caso pode ser relatado como uma "prova concreta" da sobrevivência do Espírito? Bem, é uma evidência forte, lógica e que racionalmente nos remete à admissão da tese espírita. Porém, o termo "prova" soa modernamente como que o termo "dogma" para a religião na Era Medieval. E, relembrando Allan Kardec, a "prova da espiritualidade" não é da alçada da ciência, como lemos na, sempre interessante, fala do Codificador ao analisar a relação entre Espiritismo e Ciência, conforme o item VII da "Introdução ao Estudo da Doutrina Espírita", dentro de O Livro dos Espíritos:

Para muita gente, a oposição de cientistas — se não for uma prova —, pelo menos é forte opinião contrária. Não somos dos que se rebelam contra os sábios, pois não que nos digam que os afrontamos; ao contrário, temos grande consideração a eles e ficaríamos muito honrado se estivéssemos entre eles. Porém, suas opiniões não podem representar, em todas as circunstâncias, uma sentença irrevogável.

Se a Ciência sai da observação material dos fatos, procurando analisar e explicar esses fatos, o campo está aberto às suposições; cada um imagina o seu pequeno sistema e se dispõe a sustentá-lo com fervor, para fazê-lo prevalecer. Todos os dias nós não vemos as opiniões mais diversas serem alternativamente aceitas e rejeitadas, ora rebatidas como erros absurdos, para logo depois aparecerem proclamadas como verdades incontestáveis? Os fatos são o verdadeiro critério da nossa consciência, o argumento sem contestação. Na ausência dos fatos, a dúvida se justifica no homem sensato.

Com relação às coisas inegáveis, a opinião dos sábios é autêntica e com toda razão, pois eles sabem mais e melhor do que o homem comum; mas na questão de novos princípios, de coisas desconhecidas, a opinião desses sábios é apenas mais uma suposição, por isso que — assim como os outros — eles estão sujeitos a preconceitos.

Direi mesmo que o sábio tem mais preconceitos que qualquer outro, porque uma inclinação natural o leva a colocar tudo sob o ponto de vista donde mais especializou seus conhecimentos: o matemático vê a prova unicamente dentro de uma demonstração algébrica, o químico refere tudo à ação dos elementos, etc. O especialista prende todas as suas ideias à disciplina que adotou. Fora da sua ciência, veremos o sábio quase sempre se desmoronar, por querer submeter tudo ao seu modo de ver as coisas: consequência da fraqueza humana. Assim, pois, de boa vontade e com toda confiança consultarei um químico sobre uma questão de composição de uma substância, um físico sobre a potência elétrica, um mecânico sobre uma força motora. Porém, eles deverão me permitir — sem que isto afete a admiração que merecem o seu saber especial — que eu não dê muito valor a suas opiniões negativas acerca do Espiritismo, como seria o parecer de um arquiteto sobre uma questão de música.

As ciências gerais se fundamentam nas propriedades da matéria, que se pode experimentar e manipular livremente; os fenômenos espíritas se apoiam na ação de inteligências dotadas de vontade própria e que nos provam a cada instante que não estão subordinadas aos nossos caprichos. Portanto, as observações não podem ser feitas da mesma forma; requerem condições especiais e outro ponto de partida. Querer submetê-las aos processos comuns de investigação é estabelecer semelhanças que não existem. A Ciência propriamente dita, como ciência, é incompetente para se pronunciar na questão do Espiritismo: não tem que se ocupar com isso e qualquer que seja o seu julgamento — favorável ou não — nenhum peso poderá ter. O Espiritismo é o resultado de uma convicção pessoal, que os sábios podem ter como indivíduos, independentemente da qualidade de sábios. Pretender submeter a questão à Ciência equivaleria a querer que a existência ou não da alma fosse decidida por uma assembleia de físicos ou de astrônomos. Sendo assim, o Espiritismo está todo na existência da alma e no seu estado depois da morte. Ora, é realmente ilógico imaginar que um homem deva ser grande psicologista, porque é ilustre matemático ou notável anatomista.

Investigando o corpo humano, o anatomista procura a alma, e como não a encontra pelo seu bisturi, como encontra um nervo, ou porque não a vê se mover como um gás, conclui que ela não existe, porque se coloca sob um ponto de vista exclusivamente material. Segue-se que tenha razão contra a opinião universal? Não! Vejam, portanto, que o Espiritismo não é da competência da Ciência.

Quando a crença espírita tiver se espalhado, quando for aceita pela massa humana — e a julgar pela rapidez com que se propagam, esse tempo não está longe —, com ela se dará o que tem acontecido a todas as ideias novas que encontram oposição: os sábios se renderão à evidência. Lá chegarão, individualmente, pela força das coisas. Até então será inoportuno desviá-los de seus trabalhos especiais, para obrigá-los a se ocuparem com um assunto estranho, que não lhes está nem nas atribuições, nem no programa. Enquanto isso não ocorre, aqueles que, sem estudo prévio e aprofundado da matéria, optaram por negar e zombar de quem não lhes é a favor, esquecem que o mesmo se deu com a maior parte das grandes descobertas que honram a Humanidade.

Eles se expõem a ver seus nomes aumentando a lista dos ilustres contestadores das ideias novas e inscritos ao lado dos membros da assembleia culta que, em 1752, recebeu com estrondosa gargalhada a memória de Franklin9 sobre os para-raios, julgando-o indigno de figurar entre as comunicações que lhe eram dirigidas; e daquele outro que fez a França perder as vantagens da iniciativa da marinha a vapor, declarando que o sistema de Fulton um sonho impossível. Entretanto, essas eram questões da alçada daquelas reuniões. Ora, se tais assembleias, que contavam com os maiores sábios do mundo, só tiveram a zombaria e o sarcasmo para ideias que elas não percebiam, ideias que, alguns anos mais tarde, revolucionaram a ciência, os costumes e a indústria, como esperar hoje um melhor acolhimento da parte deles de uma questão estranha aos seus trabalhos habituais?

Esses erros lamentáveis de alguns homens notáveis, que envergonham a memória deles, de nenhum modo tiram os títulos conquistaram em outros respeitos campos; mas é preciso ter um diploma oficial para se ter bom-senso? Será que fora das cadeiras acadêmicas só encontramos tolos e imbecis? Observem os adeptos da Doutrina Espírita e digam se só encontramos ignorantes e se a imensa legião de homens de mérito que a abraçaram dá razão que seja ela igualada às crendices populares. O caráter e o saber desses homens dão peso a esta doutrina: pois se eles afirmam, é preciso reconhecer que há alguma coisa.

Repetimos mais uma vez que, se os fatos a que referimos estivessem reduzido ao movimento mecânico dos corpos, a questão da causa física desse fenômeno caberia no domínio da Ciência; porém, quando se trata de uma manifestação que se produz com exclusão das leis da Humanidade, ela fica fora da competência da ciência material, pois não pode ser explicada por algarismos, nem por uma força mecânica. Quando surge um fato novo, que não guarda relação com alguma ciência conhecida, para estudá-lo, o sábio tem que se despojar da sua ciência e dizer a si mesmo que o que se lhe oferece é um novo estudo, impossível de ser feito com ideias preconcebidas.

O homem que se julga infalível está bem perto do erro. Mesmo aqueles, cujas ideias são as mais falsas, se apoiam na sua própria razão e é por isso que rejeitam tudo o que lhes parece impossível. Aqueles que em outro momento rebateram as descobertas admiráveis de que hoje a Humanidade se honra faziam apelos à razão para rejeitá-las.

Muitas vezes, o que se chama razão não passa de orgulho disfarçado e quem quer que se considere infalível apresenta-se como igual a Deus. Então, vamos nos dirigir aos prudentes, que duvidam do que não viram, mas que, julgando o passado pelo futuro, não acreditam que o homem tenha chegado ao auge, nem que a Natureza tenha mostrado a eles a última página do seu livro.

Fica claro assim que o Espiritismo não depende da sanção da ciência, pois a doutrina se funda nas leis naturais, instituídas por Deus – e, portanto, no que se convencionou chamar de "verdade" – que é para onde a Ciência deve caminhar, independentemente do caminho seguido pelo Espiritismo. Nossa convicção, como espíritas, é que, um dia, inexoravelmente, ambos – Ciência e Filosofia Espírita – convergirão para a mesma fonte da verdade: Deus e a espiritualidade.

Mas convém anotar aqui a importância de ocorrências como essa – postada como mais de natureza científica do que mística ou religiosa – ganhe espaço na mídia atual, cuja predominância é coisas do ramo da tecnologia, das celebridades, esportes, violência, apelo sexual e consumista – inclusive, porque a mencionada revista, Exame, é voltada para assuntos de economia e consumo.

E finalizamos com um apelo: que possamos dar mais audiência em notícias científicas, educativas e espíritas.