“Uma das mais belas lições que tenho aprendido com o sofrimento: não julgar, definitivamente não julgar a quem quer que seja”.
O não julgamento tem sido uma lição passada por quase todos os grandes mestres que passaram pela Terra e podemos dizer que é uma premissa básica da espiritualidade. A frase acima, no caso, é do grande espiritualista Chico Xavier, que contribuiu muito para a evolução da consciência brasileira e também mundial.
O pensar exige que façamos algum julgamento sobre as coisas, no sentido de analisar e questionar. Sem um certo nível de generalização e avaliação é impossível conceituar o que quer que seja. Isso posto, é importante ressaltar a diferença entre pensar e questionar do julgamento negativo que fazemos sobre as pessoas e suas decisões e atitudes.
O julgamento não saudável é aquele que aponta o dedo, que critica de maneira destrutiva e sem empatia ou compaixão. Ele se baseia em noções parciais sobre a realidade do mundo e do outro, assumindo como verdade a nossa própria experiência. Assim, o não julgamento é uma das atitudes mais espirituais que podemos ter, que nos traz qualidade de vida, tranquilidade emocional e crescimento. O não julgamento é uma dupla oportunidade de aprendizado: exercitamos nosso amor e empatia e podemos receber ensinamentos através dos enganos daqueles que nos rodeiam.
Não devemos perder tempo apontando o dedo para os outros e sim aproveitar cada oportunidade para nos avaliar. Também é preciso considerar que, quando perdoamos alguém, também estamos perdoando a nós mesmos. Nos libertamos da dor, das emoções tóxicas e dos sentimentos negativos que o ressentimento e a mágoa plantam em nossa alma e nos tornamos mais livres e próximos da sabedoria e amor divino.
A RELATIVIDADE DO ATO DE JULGAR
Podemos com toda a certeza afirmar que todo julgamento que somos capazes de fazer é parcial, mesmo quando são análises que visam a evolução e não a crítica e destruição do outro. Para nós, não é difícil olhar um psicopata e pensar “eu jamais faria isso” ou “como é possível que ele tenha cometido esse ato tão terrível?”, entretanto, será que conseguimos ter a capacidade de identificar em nós mesmos o que fazemos e que em termos espirituais pode ser completamente contra os preceitos divinos?
Essa ideia é simples de compreender. Será que se Buda estivesse nos olhando gritar com nossos filhos também não se chocaria? Será que se Jesus nos observasse de fato, não ficaria admirado a cada vez que viramos as costas à pobreza e fechamos a janela do carro na cara de uma criança faminta? Gandhi se entristeceria com o simples ato de mantermos presos em gaiolas pássaros que foram feitos para a liberdade? Ou quando arrancamos uma flor de seu jardim, só porque a achamos muito bonita e queremos um pouco daquela beleza para nós?
A parcialidade do julgamento está diretamente ligada ao nível de evolução da consciência que temos. Somos tão embrutecidos que matamos mesmo sabendo que é totalmente inaceitável, apesar de termos esse valor em nosso horizonte. E com certeza cometemos atos que nem sequer nos damos conta e que ferem os princípios espirituais, tanto quanto tirar a vida de outra pessoa.
Sempre julgamos com base em nós mesmos e de acordo com nossa consciência e, saber disso, deveria ser o motivo principal para adotarmos o não julgamento em nossas vidas e a aceitação de tudo aquilo que se apresenta para nós com amor, compreensão, compaixão e empatia.
OLHAR PARA SI MESMO E A PROJEÇÃO QUE FAZEMOS NO OUTRO
O julgamento tem como objeto alguém, mas cada vez que apontamos o dedo para alguém há mais três dedos apontados para nós. Quando acusamos o outro ou algo no outro nos incomoda a ponto de fazermos criticas destrutivas, é porque esse “algo” encontrou um eco em nós, ou seja, a crítica revela as nossas dores. A psicanálise freudiana também sugere a mesma ideia, sintetizada na frase de Freud: “O homem é escravo do que fala e dono do que cala. Quando Pedro me fala de Paulo, sei mais de Pedro do que de Paulo”. Um outro exemplo que encontramos na psicanálise é a homofobia, que seria segundo essa abordagem teórica um choque entre dois homossexuais: aquele que aceita sua orientação sexual e aquele que a rejeita.
Quando julgamos de forma ferrenha ao outro, estamos não só expondo nossa alma, nosso valores e dores, como exercitando o egoísmo e mesquinhez. O exercício da empatia seria, talvez, o movimento contrário mais próximo do não julgamento, onde a compaixão faz com que a reflexão sobre a situação do outro possa ser possível. Será que, naquela mesma situação, não agiríamos nós mesmos daquela mesma maneira? Se, ao invés de julgar, tentássemos entender qual parte de nós se incomoda e porque, sem dúvida teríamos relações mais saudáveis.
Importante também é compreender que não somos os nosso erros, assim como o outro também não se resume aos enganos que comete. Sendo a Terra uma escola, almas em diferentes estágios evolutivos vivenciam experiências aqui e não há distinção de valor entre elas. O momento da jornada no qual nos encontramos não encerra em si nossa luz divina e, sem os erros, jamais teríamos oportunidades de crescimento e evolução.
Texto do site WeMystic com modificações da Equipe de Comunicação do LEAE.