quarta-feira, 13 de março de 2019

Filhos problemáticos - como o Espiritismo entende isso?

Como devem ser encarados os filhos problemáticos? Precisamos considerar, primeiramente, que cada filho que nasce é uma alma que já viveu diversas outras vidas e está reencarnando na Terra para continuar o seu progresso. Só o corpo é novo, criado graças à contribuição biológica dos pais; ele é simples instrumento do qual se vale o espírito para manifestar-se na matéria, como o mergulhador usa o escafandro para descer às profundezas dos mares.

Ao nascer, o Espírito perde temporariamente a lembrança do passado, para que os fatos e relacionamentos já vividos, em especial os dolorosos, não atrapalhem o objetivo a que ele se propõe na vida atual. Não obstante, traz consigo, mais ou menos afloradas, tendências e inclinações, as quais são indicadores da sua maior ou menor condição evolutiva, e a análise das mesmas pode contribuir para o crescimento pessoal.

Essas tendências, muitas vezes, já se manifestam desde a tenra idade e identificam caracteres dóceis ou rebeldes, egoístas ou generosos, malvados ou bondosos. Os pais zelosos devem observar atentamente as atitudes dos filhos. Aos que são bons é preciso proporcionar todos os recursos ao desenvolvimento de suas capacidades, sem o protecionismo ou a exaltação do ego que os possam perder. Aos revoltados, de outro lado, é necessário oferecer também a disciplina e a energia equilibradas pelo amor, a fim de que se corrijam, conquistando virtudes.

Por essa razão, certas peraltices da infância nem sempre são “coisas de criança”, passageiras, a serem aceitas com risos e incentivos. Podem ser a manifestação da personalidade deturpada da alma, a requisitar dos pais acompanhamento e medidas saneadoras, sugerindo-se diálogos francos e esclarecedores, restrição de benefícios pessoais, como forma de conscientização do erro, e encaminhamentos psicológicos ou psiquiátricos. Imprescindível, igualmente, que a criança seja levada a crer em Deus e nas suas leis, comungando com Ele pela religião e pelo pensamento.

Crescendo sem a efetiva presença e orientação dos pais, a criança-problema transforma-se, via de regra, em um jovem mais problemático ainda. A adolescência é a fase em que o espírito se assenhoreia por completo do corpo, manifestando-se tal como é no seu íntimo. As más inclinações ficam acentuadas e, agora com maior liberdade de ação, o jovem dá vazão aos seus desejos e pretensões, criando situações que fogem ao controle dos pais, que já não podem mais com a sua “criança”.

Desrespeito aos pais, inclusive com o uso de palavrões, total indisciplina dentro do lar, especialmente quanto ao cumprimento de horários, uso e abuso de cigarros, bebidas alcoólicas e até mesmo de drogas, desinteresse pelo estudo e pelo trabalho e iniciação precoce no sexo são os desvios de conduta mais comuns da juventude moderna.

Necessário, ante a adolescência conturbada, que os pais redobrem a paciência, participem mais intensamente da vida dos filhos, conversem com eles com sinceridade e firmeza, procurando demonstrar nas palavras e atitudes o amor que lhes devotam. Em não conseguindo sucesso, outro remédio não há senão o de orar por eles, deixando que aprendam com a vida, conquanto isso possa ferir de morte o coração.

Possível perceber, pois, que o bom encaminhamento dos filhos depende de um esforço contínuo dos pais desde a primeira infância, moldando-lhes a alma. Lembremos, porém, que o exemplo tem mais força que as palavras, razão pela qual é necessário que sejamos nós os primeiros a fazer aquilo que queremos que os nossos filhos façam.

Donizete Pinheiro é divulgador do espiritismo. Artigo publicado no site Comércio do Jahu