“Tempo, tempo mano velho, falta um tanto ainda eu sei pra você correr macio…”, diz o inicio da letra da música Tempo, do grupo Pato Fu. Estes dias de isolamento social e com trabalhos feitos em casa, acaba nos forçando a rever o conceito de uso e aproveitamento do tempo.
Há vinte dias, antes de 25 de fevereiro de 2020, provavelmente se fossemos convidados para alguma atividade menos prazerosa, poderíamos dizer, como uma desculpa elegante, que os tempos estão corridos, não conseguirei estar lá em tempo. Os dias se passaram, a pandemia chegou e se estabeleceu uma nova rotina: ficarmos em casa, sem gastar nosso tempo com trânsito, compras, atividades físicas… Vemos parte do tempo sobrando e podendo ser gasto com atividades que num período tão curto, antes talvez não pudéssemos praticar.
Podemos agora dar tempo à saúde, à casa, à família, aos pets, à natureza, à leitura, à musica, e muitas outras atividades simples de convivência um pouco esquecidas pela usual correria. Criamos o hábito e a sensação de que momentos livres precisam ser ocupados com alguma atividade. Um conceito de que precisamos ser úteis, eficientes. Muitos cultivam a necessidade de ocupar sempre o tempo com tarefas habituais ou novas descobertas, o que pode passar a impressão de dias cada vez mais curtos para tantas atividades.
Reuniões infindáveis, chefes, clientes e colegas de trabalho que não têm o mesmo ritmo e objetivo e, por vezes, provocam discussões que podem tomar horas preciosas na vida de alguns. É muito comum quem vive essa situação pensar que está perdendo tempo. Por outro lado, quando se está imerso em atividades que dão prazer, costuma-se achar que o tempo passou muito rápido. Quem nunca pensou na expressão popular “o que é bom dura pouco” e acabou por concordar com ela quando acabou o fim de semana, aquela viajem maravilhosa, o encontro com as pessoas que gostamos, o prato elaborado que adoramos saborear.
Como então balancear o tempo, como deixá-lo correr macio e usá-lo em nosso favor? Cada um de nós vai ter a sua resposta, muitos especialistas sugerem que o segredo não envolve coisas grandiosas e, sim, a auto permissão de olhar para o nosso dia com mais leveza e menos cobranças. Observar e preservar momentos de alegria. Lançar um olhar novo para a rotina, buscando ver detalhes ou novidades naquilo que nos cerca.
Quando fazemos isto forçamos nosso cérebro a deixar sua zona de conforto e isso, por si só, já muda a percepção do tempo e permite refletir sobre o que realmente é importante. Permitir-se se dar tempo para conhecer pessoas, lugares, tomar caminhos diferentes ao voltar para casa, agir de maneira espontânea, envolver-se em atividades ajuda no auto conhecimento. Em tempos de confinamento, a criatividade precisa ser ainda maior.
Todos esses pequenos detalhes, aparentemente até bobos, podem nos dar o poder de mudar a forma de sentir e agir diante do passar das horas. Por isto é comum os que chamam o tempo de amigo, mano velho, pois ele permite o olhar da autenticidade, pois tem a capacidade de mostrar o que não significa tanto quanto pensávamos, e nos dizer o que, de fato, é precioso.