O desejo de ser feliz é inerente à criatura humana e o Espiritismo auxilia nessa busca, na concretização desse objetivo, porque suas diretrizes morais permitirão a exata compreensão do que é a verdadeira felicidade e quais são os meios eficazes de atingirmos esse estado da alma.
O nobre Codificador, Allan Kardec, escreveu um notável artigo na Revista Espírita, com o título O Espiritismo em 1860, onde afirma que as ideias espíritas progridem e auxiliam o indivíduo a compreender o futuro, não um futuro de desgraça ou de felicidade advinda de privilégios, mas um futuro racional, decorrente das nossas ações e escolhas feitas na atual reencarnação, afastando, dessa forma, a incerteza sobre o futuro, e a incerteza, diz ele, é sempre um tormento, portanto, um obstáculo à felicidade.
Sem essa visão correta do futuro e das leis divinas, Allan Kardec afirma que a pessoa não terá motivação para ver o bem do próximo, não terá resistência para enfrentar as privações e no afã de ser feliz, desejará gozar, ter o que os outros possuem, se preocupar apenas em ter, tonando-se ávido, invejoso e egoísta, e não se tornará verdadeiramente feliz, porque o presente lhe parecerá curto.
E conclui: Repetimos que a principal fonte do progresso das ideias espíritas está na satisfação que proporcionam aos que se aprofundam, e que nelas veem algo mais do que fútil passatempo. Ora, como antes de tudo todos querem a felicidade, não é de admirar se liguem a uma ideia que torna feliz. (…)
(…)O Espiritismo progrediu principalmente desde que melhor compreendido em sua essência íntima, desde que se viu o seu alcance, pois toca na corda mais sensível do homem: a de sua felicidade, mesmo neste mundo.(…)
Assim sendo, percebemos que o Espiritismo, na sua missão de iluminar consciências e destruir o materialismo, tem ajudado a criatura humana a entender e a construir a própria felicidade.
É notável buscarmos o tópico Felicidade e infelicidade relativas, em O Livro dos Espíritos, e constatarmos que as elucidações dos benfeitores espirituais se mantêm atuais, parecendo que foram escritas nesses dias, porque, infelizmente, as mazelas e os equívocos morais de grande parte das criaturas humanas continuam no mesmo patamar.
Ainda no aludido livro, Allan Kardec pretende obter da espiritualidade superior a gradação de felicidade possível na Terra, obtendo como resposta que a felicidade absoluta, completa é impossível, pois ainda vivemos num mundo de provas e expiações, mas depende do homem a suavização de seus males e o ser tão feliz quanto possível na Terra. E praticando a lei de Deus, a muitos males se forrará e proporcionará a si mesmo felicidade tão grande quanto o comporte a sua existência grosseira.
O confrade Raul Teixeira, com a sua pedagogia incomparável, nos ajuda a entender essa questão da felicidade relativa, afirmando que (…)é óbvio que na Terra jamais encontramos uma pessoa que usufrua de felicidade total.
Encontramos alguém que tem muito dinheiro, mas não tem saúde. Outros que têm muita saúde, mas não tem dinheiro. Encontramos quem mora bem, mas carrega problemas familiares tremendos; alguém que mora no gueto, na favela, mas a família é irmanada, é unida.
Todavia, é possível ser feliz dentro dos padrões relativos da Terra, seja na concretização dos sonhos materiais, desde que honestos e equilibrados, seja na conquista do brilho da alma, que surge com a melhoria dos nossos sentimentos.
Nas questões materiais, não será errado buscar a melhoria de nosso padrão intelectual, financeiro e social, conforme assevera Raul Teixeira, mas de entender que a busca principal, a felicidade mais ampla não estará nas coisas materiais, imediatas, mas nas questões do sentimento, onde buscaremos desenvolver amizades, cuidar da família, ajudar o próximo, tratar nossos conflitos íntimos etc.
No atual estágio da tecnologia, se não equilibramos nossos apetites materiais estaremos sempre infelizes, porque sempre haverá algo novo e mais moderno. Muitas vezes, nem sequer desfrutamos do que temos e conquistamos, porque já estamos ambicionando o produto novo que foi lançado.
Vejamos a lucidez dos benfeitores espirituais, quando Allan Kardec pergunta se a civilização, ao criar novas necessidades, gera novas aflições, obtendo a seguinte resposta:
Os males deste mundo estão na razão das necessidades factícias que vos criais. A muitos desenganos se poupa nesta vida aquele que sabe restringir seus desejos e olha sem inveja para o que esteja acima de si. O que menos necessidades tem, esse o mais rico.
De fato, saber limitar os desejos e ver sem cobiça o que o outro possui é um dos segredos para se buscar a felicidade na Terra, porque saberemos definir o que é necessário e o que é supérfluo para as nossas vidas.
Aliás, é importante saber, para ser feliz, olhar para aqueles que têm menos do que nós e são felizes, demonstrando que podemos ser felizes com o que temos, deixando de lado os caprichos ridículos que criamos, conforme asseveram os benfeitores espirituais. Dessa forma, vamos entendendo que a felicidade decorre das escolhas que vamos fazendo durante a nossa vida, sobretudo aquelas relacionadas ao sentimento, porque à medida que vamos vivenciando o amor estaremos cada vez mais ampliando o nosso estado de felicidade, que fará com que o cérebro libere, naturalmente, os neurotransmissores específicos (dopamina, serotonina, endorfina e ocitocina) para que possamos, em nível biológico, sentir esse estado emocional.
A questão 9227, por sua vez, sintetiza a medida exata da felicidade comum a todos os homens, pontuando que para a vida material será a posse do necessário, e para a vida moral será a consciência tranquila e a fé no futuro.
Não podemos deixar de registrar que no item fé no futuro, o Espiritismo nos oferta em abundância a esperança na vida futura, porque somos Espíritos imortais em processo de aprendizagem na Terra, de forma que todos os males são passageiros e levaremos para a outra vida as nossas conquistas intelecto-morais, geradoras da nossa felicidade.
Encerramos este artigo com a lúcida ponderação de Raul Teixeira: Podemos ser felizes, na Terra, sem esperar a felicidade no reino dos céus, depois da morte, porque aprendemos que a felicidade maior não é propriamente aquela que apenas nós vivenciamos, mas aquela que experienciamos, doando-nos aos outros.
Tudo quanto doamos é o que verdadeiramente nos pertence; o que tentamos guardar, reter, armazenar, é o que perdemos.
Por isso, podemos ser felizes, neste mundo, usufruindo as coisas materiais e servindo a Deus acima de tudo.
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