A edição nº 2.272 da Revista IstoÉ tem como título de chamada de capa: “O
Império Espírita de Zíbia Gasparetto”. Em que pese o forte apelo para atrair
leitores simpatizantes e contraditores do Espiritismo, a chamada induz à
associação dos interesses financeiros da referida escritora à exploração
comercial da crença espírita.
Inicialmente destacando o sucesso mercadológico de
Zíbia Gasparetto e o luxo de seu escritório no qual o repórter João Loes foi
recebido, a matéria comenta a trajetória da psicógrafa, desde o início de suas
experiências mediúnicas até a fundação do rentável negócio editorial mantido por
ela e sua família.
A reportagem destaca a declaração da escritora de
que não segue mais o Espiritismo, pois a mesma optou por trilhar caminhos que
seriam incompatíveis com os princípios espíritas.
Segundo a entrevistada, ela
preferiu ter mais liberdade para agir e afirma não ter qualquer problema em
receber os direitos autorais das obras psicografadas. “Não há problema em se
ganhar dinheiro com a mediunidade”, diz ela. Em determinando momento da
entrevista, Zíbia Gasparetto afirma, despudoradamente, que “Chico Xavier abriu
mão dos direitos dos livros dele, mas uma vez chorou para mim, arrependido do
que tinha feito”.
O texto é finalizado com a perspectiva de expansão
dos negócios da família Gasparetto no nicho espiritualista, mencionando a
abertura de novas frentes comerciais no rádio e televisão para constituir o
império que a chamada de capa da revista erroneamente rotulou de espírita, pois
se trata de um negócio privado construído sobre bases bem materiais.
O primeiro aspecto que deve ser criticado nessa
reportagem é a conduta distorcida do responsável pela revista. Uma vez que na
própria reportagem a entrevistada não se declara espírita, a Revista IstoÉ,
portanto, comete dolo intencional ao usar o termo “espírita” em sua chamada de
capa. A deplorável decisão do editor desse periódico pode induzir o leitor a
associar o enriquecimento da mencionada escritora ao Espiritismo, fato esse que
desvirtua o preceito espírita de não se cobrar pela atividade mediúnica. Ora,
Sr. Editor, até que ponto as supostas vendas adicionais da revista compensam um
ato de mau jornalismo?
O segundo aspecto a ser mencionado é a infeliz
afirmação de Zíbia Gasparetto de que o médium Chico Xavier teria se arrependido
de ter cedido integralmente os direitos autorais de seus livros. Ora, Dª
Gasparetto, será que a sua consciência está pesando por saber das consequências
do apego à riqueza transitória e sua afirmação sobre Chico é uma tentativa de
atenuar esse peso? Desde quando um homem que deu provas durante toda a sua vida
de desinteresse material passou a reclamar sobre a situação financeira? Carece
de fundamentação e lógica essa sua afirmação.
E o terceiro e último aspecto que merece ser
mencionado é até favorável à Zíbia Gasparetto. Deve-se reconhecer que a mesma
foi coerente ao não mais se afirmar adepta da Doutrina Espírita. Que bom seria
se todas as pessoas descontentes com o Espiritismo simplesmente parassem de se
autodenominar espíritas e assumissem outras linhas espiritualistas. Seria mais
racional e elas parariam de gerar modismos e celeumas para tentar adequar a
doutrina às próprias convicções.
*Texto extraído do site da revista O Consolador, Ano 7 - N° 316 -
16 de Junho de 2013, escrito por MARCO MILANI (marcomilani7@gmail.com), São Paulo, SP
(Brasil).