Seu aparecimento pode provocar uma rede que tende a enlaçar os que se
aproximam do estressado
O assunto estresse está sempre em evidência por todos os segmentos da mídia. É
um tema também comum nas queixas das pessoas no cotidiano, nas reuniões sociais
e nos consultórios médicos, quando comentam sobre os seus modos de vida no lar,
no trabalho e no meio social.
Podemos dizer que o estresse se trata de uma
condição de ansiedade provocada por acontecimentos marcantes, alguma coisa
difícil de suportar e que causa reações emocionais e físicas que levam ao
desencadeamento de pensamentos ruins e estados infelizes da alma. Muitos
entendem o estresse como um estado permanente de susto.
Estudos científicos
atuais tentam demonstrar o quanto o ser humano é um todo integrado, composto
pela associação dos processos biológicos, fisiológicos, mental, emocional e
espiritual que devem funcionar em perfeita harmonia.
Os sintomas decorrentes
do estresse dependem da vulnerabilidade de cada um, da capacidade de se adaptar
aos estímulos estressantes com menos sofrimento possível – esta condição é
chamada de resiliência.
Na medicina o estresse entra com ênfase, pois muitas
doenças, comprovadamente, sofrem a sua ação direta no aparecimento ou
agravamento dos sintomas. O médico, além do exame clínico, ao coletar os dados
do paciente, deve também levantar os eventos traumáticos na sua história e dar a
devida importância aos fatores relacionados com o modo de vida e as condições
estressantes em que está submetido. Para resumir: o profissional recomenda
evitar o estresse quando este está presente. Evitá-lo, porém, não é fácil, pois
quem não está sujeito às situações desagradáveis, às frustrações e certas
pressões sociais?
Diante dessas situações e da dificuldade para se
desvencilhar do estresse, continua o homem submetido a essa poderosa força em
prejuízo para si e para os outros. Por que para os outros? O estresse pode
provocar uma rede que tende a enlaçar os que se aproximam do estressado.
Um
estudo de uma importante Universidade do Texas (Baylor), publicado no Journal of
Organizational Behavior, relata que o estresse pode atingir os amigos, os
parentes, parceiros amorosos; enfim, todas as pessoas que entram em contato com
o indivíduo estressado.
As pesquisas indicam que o estresse pode se
manifestar por diversos sintomas, entre eles: distúrbios do sono, dores
musculares, cefaleia, oscilação de humor, ansiedade, irritação, tristeza
profunda, sentimento de infelicidade e muitas vezes agressividade. É oportuno
lembrar que o estresse provoca abalos nos mecanismos de defesa biológicos e que
os sintomas podem ser entendidos como resposta do organismo no esforço para
recuperar o seu equilíbrio.
Considerando esses sintomas, conclui-se que fica
difícil separar as tensões que ocorrem num setor dos demais setores da vida.
Como exemplo: um trabalhador estressado pode passar a tensão para a sua esposa,
que por sua vez repassa aos filhos e estes podem repassar aos seus colegas. Na
escola, a tensão de uma criança pode contaminar a mãe, que por sua vez pode
repassar ao pai. Sempre como uma rede que vai englobando diversas pessoas. É
possível imaginar a proporção que essa rede pode assumir quando diversos
circuitos estressantes entrelaçam-se entre si.
Neste contexto, temos que
tomar o máximo cuidado para não cair na rede. A prevenção está no entendimento
mais adequado da vida, na consciência dos nossos limites, no poder da fé e
resignação raciocinadas, aumentando com isto a nossa resiliência, que podemos
definir melhor como a capacidade de cada um em entender, assimilar e enfrentar o
estresse, tentando vencê-lo. Existem várias maneiras: uma delas seria, quando
possível, evitar as situações perturbadoras; outra seria usarmos a nossa razão
para que o estímulo não nos afete tanto. Podemos ainda utilizar a inteligência,
o raciocínio e o bom sentimento e aceitarmos, enquanto precisamos, estar no foco
estressante, encarando-o e tentando vencê-lo. Um trabalhador, que necessita do
emprego para o sustento da família, não pode sair jogando tudo para o ar porque
encontrou uma situação estressante com um chefe, por exemplo. Deve avaliar a
situação, tentar amenizar o estímulo e, com bons sentimentos e boas palavras,
pode obter um bom resultado.
O problema é quando o estresse não é elaborado e
começa a desgastar o seu portador. Ele pode arrastar outras pessoas nessa onda
estressante. O marido que chega em casa irritado, ansioso e agressivo, pode
colocar toda a família numa situação constrangedora, de medo, podando as
manifestações de bom convívio com a esposa e os filhos. Isto é mais comum do que
se imagina na prática diária em Psiquiatria, e ilustra onde poderemos chegar
dentro dessa verdadeira contaminação provocada pelo estresse.
Um outro
exemplo importante e comum nos dias atuais é o bullying. Uma criança sofrendo
essa ação na escola passa a apresentar sintomas que atingem os pais. Inicia-se
assim a contaminação que poderá ter grandes proporções, envolvendo inúmeras
pessoas.
É aconselhável, sensato e inteligente que, diante de uma situação
convidativa à entrada na rede do estresse, o discernimento, os bons sentimentos
e as boas ações prevaleçam e rompam a continuidade dessa cadeia
maléfica.
Podemos fazer uma analogia com a contaminação de uma doença
infecciosa: a gripe, por exemplo. A contaminação se alastra e só não são
afetados pelo vírus da gripe aqueles que estiverem com as suas defesas
imunológicas adequadas. A defesa imunológica, no caso do estresse, seria a
resiliência: a capacidade de entender e elaborar uma melhor defesa contra o
ataque do estresse. Essa melhor defesa, como já falamos, é a compreensão, o
entendimento e, sobretudo, o respeito e o amor pelo próximo.
Acreditamos que
quando estamos equilibrados no cultivo de bons sentimentos e boas ações,
dificilmente propiciamos ou criamos um foco de estresse aos outros; e assim,
fortalecidos, estamos aptos a enfrentar qualquer estímulo que tente nos
desequilibrar. Este equilíbrio é a vacina contra o estresse.
É evidente que
no nosso planeta, embora em evolução, ainda faltam elevados e nobres valores
morais e éticos. Observando o nosso mundo terrestre atual, moderno, materialista
e competitivo, notamos como são frequentes e intensas as fontes de estresses.
Estamos neste mundo, dele não podemos fugir, pelo menos por enquanto, e é nele
que devemos aproveitar a oportunidade para fortificar os nossos espíritos.
Estamos aqui porque aqui escolhemos estar. Não esqueçamos que, para a justiça de
Deus, não há nada fora de lugar – estamos onde deveríamos estar. Neste momento,
neste mundo como está, é que devemos conhecer, estudar, aprender, respeitar,
amar, sermos éticos e agradecer a Deus por esta oportunidade de evolução. Isto é
a nossa Doutrina Espírita em ação.
Não deixemos que um estresse estrague toda
essa verdade e que nos tire do foco principal – a caminhada rumo à perfeição.
*Texto extraído do site da Casa Editora O Clarim, escrito por José Luiz Condotta.