quinta-feira, 20 de junho de 2013

Estresse: o mal que contamina

Seu aparecimento pode provocar uma rede que tende a enlaçar os que se aproximam do estressado
 
O assunto estresse está sempre em evidência por todos os segmentos da mídia. É um tema também comum nas queixas das pessoas no cotidiano, nas reuniões sociais e nos consultórios médicos, quando comentam sobre os seus modos de vida no lar, no trabalho e no meio social.
 
Podemos dizer que o estresse se trata de uma condição de ansiedade provocada por acontecimentos marcantes, alguma coisa difícil de suportar e que causa reações emocionais e físicas que levam ao desencadeamento de pensamentos ruins e estados infelizes da alma. Muitos entendem o estresse como um estado permanente de susto.

 
Estudos científicos atuais tentam demonstrar o quanto o ser humano é um todo integrado, composto pela associação dos processos biológicos, fisiológicos, mental, emocional e espiritual que devem funcionar em perfeita harmonia.
 
Os sintomas decorrentes do estresse dependem da vulnerabilidade de cada um, da capacidade de se adaptar aos estímulos estressantes com menos sofrimento possível – esta condição é chamada de resiliência.
 
Na medicina o estresse entra com ênfase, pois muitas doenças, comprovadamente, sofrem a sua ação direta no aparecimento ou agravamento dos sintomas. O médico, além do exame clínico, ao coletar os dados do paciente, deve também levantar os eventos traumáticos na sua história e dar a devida importância aos fatores relacionados com o modo de vida e as condições estressantes em que está submetido. Para resumir: o profissional recomenda evitar o estresse quando este está presente. Evitá-lo, porém, não é fácil, pois quem não está sujeito às situações desagradáveis, às frustrações e certas pressões sociais?
 
Diante dessas situações e da dificuldade para se desvencilhar do estresse, continua o homem submetido a essa poderosa força em prejuízo para si e para os outros. Por que para os outros? O estresse pode provocar uma rede que tende a enlaçar os que se aproximam do estressado.
 
Um estudo de uma importante Universidade do Texas (Baylor), publicado no Journal of Organizational Behavior, relata que o estresse pode atingir os amigos, os parentes, parceiros amorosos; enfim, todas as pessoas que entram em contato com o indivíduo estressado.
 
As pesquisas indicam que o estresse pode se manifestar por diversos sintomas, entre eles: distúrbios do sono, dores musculares, cefaleia, oscilação de humor, ansiedade, irritação, tristeza profunda, sentimento de infelicidade e muitas vezes agressividade. É oportuno lembrar que o estresse provoca abalos nos mecanismos de defesa biológicos e que os sintomas podem ser entendidos como resposta do organismo no esforço para recuperar o seu equilíbrio.
 
Considerando esses sintomas, conclui-se que fica difícil separar as tensões que ocorrem num setor dos demais setores da vida. Como exemplo: um trabalhador estressado pode passar a tensão para a sua esposa, que por sua vez repassa aos filhos e estes podem repassar aos seus colegas. Na escola, a tensão de uma criança pode contaminar a mãe, que por sua vez pode repassar ao pai. Sempre como uma rede que vai englobando diversas pessoas. É possível imaginar a proporção que essa rede pode assumir quando diversos circuitos estressantes entrelaçam-se entre si.
 
Neste contexto, temos que tomar o máximo cuidado para não cair na rede. A prevenção está no entendimento mais adequado da vida, na consciência dos nossos limites, no poder da fé e resignação raciocinadas, aumentando com isto a nossa resiliência, que podemos definir melhor como a capacidade de cada um em entender, assimilar e enfrentar o estresse, tentando vencê-lo. Existem várias maneiras: uma delas seria, quando possível, evitar as situações perturbadoras; outra seria usarmos a nossa razão para que o estímulo não nos afete tanto. Podemos ainda utilizar a inteligência, o raciocínio e o bom sentimento e aceitarmos, enquanto precisamos, estar no foco estressante, encarando-o e tentando vencê-lo. Um trabalhador, que necessita do emprego para o sustento da família, não pode sair jogando tudo para o ar porque encontrou uma situação estressante com um chefe, por exemplo. Deve avaliar a situação, tentar amenizar o estímulo e, com bons sentimentos e boas palavras, pode obter um bom resultado.
 
O problema é quando o estresse não é elaborado e começa a desgastar o seu portador. Ele pode arrastar outras pessoas nessa onda estressante. O marido que chega em casa irritado, ansioso e agressivo, pode colocar toda a família numa situação constrangedora, de medo, podando as manifestações de bom convívio com a esposa e os filhos. Isto é mais comum do que se imagina na prática diária em Psiquiatria, e ilustra onde poderemos chegar dentro dessa verdadeira contaminação provocada pelo estresse.
 
Um outro exemplo importante e comum nos dias atuais é o bullying. Uma criança sofrendo essa ação na escola passa a apresentar sintomas que atingem os pais. Inicia-se assim a contaminação que poderá ter grandes proporções, envolvendo inúmeras pessoas.
 
É aconselhável, sensato e inteligente que, diante de uma situação convidativa à entrada na rede do estresse, o discernimento, os bons sentimentos e as boas ações prevaleçam e rompam a continuidade dessa cadeia maléfica.
 
Podemos fazer uma analogia com a contaminação de uma doença infecciosa: a gripe, por exemplo. A contaminação se alastra e só não são afetados pelo vírus da gripe aqueles que estiverem com as suas defesas imunológicas adequadas. A defesa imunológica, no caso do estresse, seria a resiliência: a capacidade de entender e elaborar uma melhor defesa contra o ataque do estresse. Essa melhor defesa, como já falamos, é a compreensão, o entendimento e, sobretudo, o respeito e o amor pelo próximo.
 
Acreditamos que quando estamos equilibrados no cultivo de bons sentimentos e boas ações, dificilmente propiciamos ou criamos um foco de estresse aos outros; e assim, fortalecidos, estamos aptos a enfrentar qualquer estímulo que tente nos desequilibrar. Este equilíbrio é a vacina contra o estresse.
 
É evidente que no nosso planeta, embora em evolução, ainda faltam elevados e nobres valores morais e éticos. Observando o nosso mundo terrestre atual, moderno, materialista e competitivo, notamos como são frequentes e intensas as fontes de estresses. Estamos neste mundo, dele não podemos fugir, pelo menos por enquanto, e é nele que devemos aproveitar a oportunidade para fortificar os nossos espíritos. Estamos aqui porque aqui escolhemos estar. Não esqueçamos que, para a justiça de Deus, não há nada fora de lugar – estamos onde deveríamos estar. Neste momento, neste mundo como está, é que devemos conhecer, estudar, aprender, respeitar, amar, sermos éticos e agradecer a Deus por esta oportunidade de evolução. Isto é a nossa Doutrina Espírita em ação.
 
Não deixemos que um estresse estrague toda essa verdade e que nos tire do foco principal – a caminhada rumo à perfeição.
 
*Texto extraído do site da Casa Editora O Clarim, escrito por José Luiz Condotta.