sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Os sábios vencem a culpa

Por Cristian Macedo
cristianmacedo@potencial.net
Porto Alegre, Rio Grande do Sul (Brasil)

(Sobre o item 1009 d´O Livro dos Espíritos)


A culpa dentro de nós

A culpa mora em nossa mente. Foi colocada lá. Isso faz com que muitas vezes não consigamos, racionalmente, entendê-la. Ela não é lógica... ela não é natural.

Diante de alguns atos, sentimos um mal-estar sem fundamento lógico. É a sensação do pecado, logo da culpa.

Não estou falando dos crimes, das ações imorais. Estas, pela lógica, você chega à conclusão de que são erradas e repreensíveis. Falo dos atos naturais, que são tidos como pecaminosos e imorais.


Comer uma torta de morango para alguns é pecado. Gastar dinheiro em lazer, questionar autoridades, fazer sexo, jogar futebol, dizer “não”... para muitos é pecado. Aí surge o problema, pois (quase) todos fazem essas coisas “pecaminosas” e naturalmente se sentem culpados.

Nunca serão bons, pois os bons são os que se privam disso tudo. Logo não merecem o céu, os planos superiores, a felicidade...

A partir daí surge o masoquismo, pois as pessoas que alimentam a culpa só se sentem bem realmente quando sofrem. O sofrimento é uma espécie de redenção... de purificação. A consciência se tranqüiliza. “Sofro para purgar.”

Mas quem a pôs aqui dentro?

Eram dois sócios.

Pela madrugada um deles jogava, nas portas e paredes das casas de uma cidadezinha, uma substância imunda e corrosiva. Após feita a maldade, ele ia embora.

Quando os moradores despertavam, viam aquela sujeira em suas portas e janelas e se perguntavam: como limpar isso? Nada parece funcionar.

Nisso chegava um dos sócios e dizia: “Para essa substância tenho uma fórmula milagrosa. Fiquem tranqüilos, basta me contratarem”.

Todos contratavam seus serviços e ficavam satisfeitos.

Essa história, Osho utiliza para ilustrar um fato milenar: os sacerdotes de diversas religiões inculcam o mal da culpa na mente dos fiéis para depois apresentarem-se como os portadores do remédio.

A culpa, o medo, o risco da possessão diabólica... são armas utilizadas até hoje na busca de fiéis.

Os que deveriam libertar consciências acabam por fazer de tudo para aprisioná-las.

Poucas coisas aprisionam mais que o sentimento de culpa.

Reconstruindo o conceito de culpa

O sentimento de culpa ligado ao pecado deve ser abolido.

Chamamos de culpa a responsabilidade diante de nossos atos.

Agora, quando falo “sou culpado”, estou dizendo: “sou responsável”.

Desta forma as coisas ficam mais tranqüilas.... Não vou mais arder eternamente no fogo do inferno, ou estacionar a vida por que errei.

Tenho que saber onde errei e procurar corrigir meu erros.

Ser responsável é saber que todas as ações realizadas por nós nos dizem respeito. Não podemos responsabilizar os outros por nossas decisões e atos.

Somos seres livres.

Se somos livres para fazer, obviamente devemos compreender que as reações obtidas com nossos atos estarão conosco.

No universo existe a lei de ação e reação e, conforme disse Jesus, cada um recebe segundo suas obras.

Se comemos demais a digestão é ruim. Se comemos de menos enfraquecemos. Se ficamos expostos ao sol de meio dia, sem filtro solar, nos queimamos. Se não estudamos para os testes não somos aprovados. Se alimentamos a raiva, surge o mal estar, dores no peito, queimação no estômago, problemas de toda ordem...

Ação e reação.

Culpa e castigo.

Quem é o culpado?

“É aquele que, por um desvio, por um falso movimento da alma, se afasta do objetivo da criação, que consiste no culto harmonioso do belo, do bem, idealizados pelo arquétipo humano, pelo Homem- Deus, por Jesus-Cristo.”[1]

Ser culpado, ou seja, responsável por “um falso movimento da alma”, significa ser responsável por agir contra a ordem universal... contra a harmonia. O belo e o bem geram a ordem. O feio e o erro a desordem.

Que é o castigo?

“A conseqüência natural, derivada desse falso movimento; uma certa soma de dores necessária a desgostá-lo da sua deformidade, pela experimentação do sofrimento. O castigo é o aguilhão que estimula a alma, pela amargura, a se dobrar sobre si mesma e a buscar o porto de salvação. O castigo só tem por fim a reabilitação, a redenção.”

Sofrer um castigo é “uma certa soma de dores”. Não somente a dor de barriga, ou a dor de cabeça. Todas as conseqüências de nossos atos perturbadores é o que chamamos de “castigo”.

E não é um castigo eterno. Pois nenhum erro é eterno.


O sábio toma consciência da vida, entendendo os mecanismos da dor, fazendo de tudo para evitá-la. Eis o bom exercício da liberdade e da responsabilidade.

*Artigo publicado sa seção 'Crônicas e Artigos', da revista O Consolador, Ano 1, N° 1, em 18 de Abril de 2007.