segunda-feira, 12 de dezembro de 2016

Quem foi o professor Rivail, quem é Allan Kardec?

“Você consegue saber se um homem é inteligente pelas suas respostas. Você consegue saber se um homem é sábio pelas suas perguntas”. Naguib Mahfuz (Prêmio Nobel de Literatura de 1988)

Todo espírita sabe que o mês de outubro, no Movimento Espírita em geral, é dedicado à memória e homenagens a Allan Kardec. Todos de certa forma conhecem sua biografia, muitas já foram publicadas. Mas quantos de nós sabemos efetivamente quem é esse Espírito, quantos de nós compreendemos sua estatura espiritual, condição essa que o fez portador da missão de elaborar e estabelecer aqui no nosso mundo a Doutrina Espírita, trazendo uma nova visão da realidade material, intelectual e moral?

Já sabemos, também, ser um espírito há milênios vivenciando experiências cada vez mais nobres e compromissadas com ideais de justiça e amor ao próximo, que trouxe para essa reencarnação uma bagagem de conhecimentos intelectuais e morais de sorte a lhe permitir dar cumprimento à missão que lhe fora destinada. Temos em Obras Póstumas as mensagens de Espíritos Superiores e do Espírito Verdade comprovando sua capacidade.

Hippolyte Léon teve uma infância difícil, ficando órfão aos 3 anos; aos 9 anos foi encaminhado à Suíça, para estudar na escola de Pestalozzi, iniciador da pedagogia moderna, que preconiza educação para todos, com aprendizagem estimulante dirigida sobretudo à razão e uma atitude de pesquisa diante do Universo, buscando transcender à mera realização terrena. Percebe-se nessa programação reencarnatória, evidentemente vinculada aos efeitos do livre-arbítrio dos envolvidos, a preparação de Hippolyte para a independência e o senso humanista que lhe seriam necessários para o cumprimento de sua missão.

Naturalmente, de retorno à França, vem a se tornar professor. E, em 1828, com 24 anos apenas, apresenta um Plano para a Melhoria da Educação Pública, aceito e implantado; em seu discurso nesse ato, o Professor Rivail declara: “Todo mundo fala da importância da educação; mas, para a maioria, esta palavra tem um significado extremamente vago, porque poucas pessoas chegaram a fazer uma ideia precisa de tudo o que ela abarca (...) A educação é a arte de formar homens, isto é, a arte de fazer eclodir neles os germes da virtude e abafar os do vício (...) Numa palavra, a meta da educação consiste no desenvolvimento simultâneo das faculdades morais, físicas e intelectuais”. (1)

Poucos anos depois, em 1834, aos 30 anos, ao final de seu discurso numa solenidade de entrega de prêmios, o Professor reafirma: “Disse, no começo, que a educação é a obra da minha vida, não faltarei à minha missão, pois penso compreendê-la. Inimigo de todo charlatanismo, não tenho o tolo orgulho de acreditar cumpri-la com perfeição, mas tenho ao menos a convicção de cumpri-la com consciência”. (1)

Como não distinguir no Professor Rivail o futuro mestre espírita Allan Kardec, o Allan Kardec que, segundo José Herculano Pires, nasce no dia 18 de abril de 1857, data da publicação de O Livro dos Espíritos? Deolindo Amorim, em seu livro Allan Kardec, declara que “se ele foi o escolhido para a grandiosa missão de receber os ensinos do Alto e organizar a Codificação da Doutrina, é óbvio que já tinha em si mesmo a urdidura espiritual do verdadeiro missionário. O Allan Kardec racionalista, moralista, universalista, naturalmente se preparou, com a bagagem do passado, para a obra missionária que realizou. Imprimiu ao trabalho da Codificação os traços do seu Espírito, com toda a independência, sem subordinação a nenhuma corrente: o racionalismo, a propensão universalista, a supremacia dos valores morais, a iluminação pela fé, a exatidão das provas (...) Nesta síntese, portanto, se descobre inconfundivelmente a personalidade ativa de Allan Kardec”.

É ainda Deolindo Amorim, em seu livro Análises Espíritas, que nos mostra as qualidades fundamentais do missionário e do homem de espírito científico: a serenidade com que encara a notícia dos fatos mediúnicos; o domínio sobre si mesmo para não se entusiasmar com os primeiros resultados; o cuidado na seleção das comunicações e dos médiuns; a prudência nas declarações, evitando sempre as publicações precipitadas; e a humildade, que é também uma condição do espírito científico interessado na procura da verdade, bem como a do verdadeiro missionário.

Na Revista Espírita de julho de 1869 há uma comunicação de Allan Kardec Espírito em que ele, comprovando mais uma vez sua elevada estatura moral, recomenda: “É necessário que a emoção que experimentais encontre ressonância entre todos os grandes Espíritos que assistem, invisíveis e enternecidos, à evocação de suas boas ações; é necessário que eles reconheçam discípulos entre os que fazem reviver o passado”.

Somos nós, espíritas, verdadeiros discípulos de Kardec? Pode o mestre espírita nos reconhecer? E nós, o conhecemos, o reconhecemos? Conhecemos a obra colossal que nos deixou, após tanto trabalho, empenho, seriedade, fidelidade e dedicação? Eis algumas questões para nossa reflexão.

(1) livro Textos Pedagógicos, de Dora Incontri.

Texto extraído do site do Correio Espírita, por Doris Madeira Gandres.