segunda-feira, 26 de dezembro de 2016

Poder da fé

O conhecimento doutrinário traz objetivos à vida e nos faz ver que o porvir é sempre mais florido e que o campo de rosas é o resultado do que nós plantamos hoje.

“Quando ele veio ao encontro do povo, um homem se lhe aproximou e, lançando-se de joelhos a seus pés, disse: Senhor, tem piedade do meu filho, que é lunático e sofre muito, pois cai muitas vezes no fogo e muitas vezes na água. Apresentei-o aos teus discípulos, mas eles não o puderam curar. Jesus respondeu, dizendo: Ó raça incrédula e depravada, até quando estarei convosco? Até quando vos sofrerei? Trazei-me aqui esse menino. – E tendo Jesus ameaçado o demônio, este saiu do menino, que no mesmo instante ficou são. Os discípulos vieram então ter com Jesus em particular e lhe perguntaram: Por que não pudemos nós outros expulsar esse demônio? – Respondeu-lhes Jesus: Por causa da vossa incredulidade. Pois em verdade vos digo, se tivésseis a fé do tamanho de um grão de mostarda, diríeis a esta montanha: Transporta-te daí para ali e ela se transportaria, e nada vos seria impossível.”[1]

As grades são vigas de metal plantadas no cimento que impedem a passagem das pessoas de um canto a outro. Pior do que as grades físicas são as grades mentais construídas por cada indivíduo. Preso, ele acredita-se incapaz de poder sair. O conhecimento doutrinário traz objetivos à vida e nos faz ver que o porvir é sempre mais florido e que o campo de rosas é o resultado do que nós plantamos hoje.

Muitos se encarceram em si mesmos tendo as chaves das grades em suas mãos; mas não as usam para sair. O conhecimento espírita representa a chave para a própria libertação. Isto não significa que somente o espírita conhece a fórmula para tal deslindar, até porque não existem fórmulas mágicas. O que existe é a explicação: justiça das reencarnações; o que deve ser feito para resolver: amor, paciência e caridade; como deve ser o nosso proceder: mudança de conduta.

Sempre que somos questionados sobre a questão obsessiva – e não são raras vezes – lembramo-nos do Mestre Jesus e da célebre passagem do pai que leva seu filho à presença d’Ele e diz que o jovem caiu diversas vezes no fogo e na água e que os discípulos não o puderam curar. Na sequência, o Mestre pede que o trouxessem à Sua presença e após detectar a presença do espírito equivocado que ali se aprisionava, aprisionando o jovem e levando-o à loucura, acaba por ser convencido, primeiro pelo amor – amor do Cristo a envolvê-lo –, depois pela coerência dos argumentos do Mestre. Afasta-se por fim do jovem, deixando-o para que ele também pudesse usar da chave do autoperdão e abrir suas grades internas.

A justiça das reencarnações promove o nosso reencontro com situações necessárias ao devido reajustamento com a Lei Divina. Isto não significa que o outro obrigatoriamente é instrumento de execução da justiça, mas que nós não devemos resistir ao mal que nos façam, agindo conforme nos preconiza o Cristo, não reagindo conforme o “demônio” que aliena o jovem. Alguém precisa quebrar o círculo vicioso da vingança. Nós, que fomos apresentados ao conhecimento espírita e sabemos que o momento presente representa um fascículo dentre a grande enciclopédia chamada vida eterna, precisamos tomar a iniciativa.

Uma criatura que ama não tem espaço para odiar. Todos os casos em que se findam episódios de obsessão, sem exceção, passam pela prática do amor incondicional daquele que está sofrendo a injunção do verdugo. Quando amamos, a própria constituição celular se modifica. Adquirimos mais saúde e vibramos em amor, transmitindo e envolvendo a todos que nos circundam com este amor. Estabelecemos trocas salutares com as pessoas. Aquele que se imanta a nós na prática obsessiva não só recebe de nós o amor que estamos emitindo, mas também daqueles que nos circundam e que trocam amor conosco. O amor é energia vigorosa e não há coração, por mais endurecido, que resista ao amor!

A paciência dá a lucidez de enxergar o momento presente como uma passagem necessária. Trata-se de aprendizado que durará o tempo necessário para que se possa absorver da experiência o arcabouço de entendimento que forjará o nosso comportamento futuro, que por sua vez trará outra gama de conhecimentos e aprendizados em efeito cumulativo. A prática da caridade é antídoto por excelência, pois nos avizinhamos da dor do outro e vemos que o sofrimento bate em todas as portas. Ao ajudar, ajudamos a nós mesmos; ao enxugar as lágrimas do próximo, estamos enxugando as nossas próprias.

Por fim, a mudança de conduta. O principal mote do conhecimento espírita é a proposta de modificação do proceder individual. Muito mais do que recitar os postulados espíritas, precisamos vivenciá-los. “Fé inabalável é aquela que pode encarar a razão face a face em todas as épocas da humanidade”. Parafraseando o eminente Mestre Lionês, penso que espírita verdadeiro é aquele que pode se autoanalisar e, sem contradita, ver que hoje é melhor do que foi que ontem, e tem a certeza que amanhã será melhor do que é hoje.

Vivemos num grande processo evolutivo. Não devemos nos permitir a estagnação mental, mesmo que os convites estejam pululando ao nosso redor, mesmo que eles venham de dentro do movimento espírita. O Livro dos Espíritos fará em breve 160 anos e está a aclarar as nossas mentes e nos trazer respostas. Muitos de nós o estamos vendo pela segunda vez. Não percamos a oportunidade. Quando o tumulto do furacão vier através das agressões, obsessões ou de quaisquer perturbações, esperemos ele passar com confiança e fé, depositando “(...) mais confiança em Deus do que em si próprio, por saber que, simples instrumento da vontade divina, nada pode[mos] sem Deus”. Façamos o melhor que sabemos e confiemos em Deus sempre.

1. S. Mateus, cap. XVII, vv. 14 a 20.
2. KARDEC, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo. Cap. XIX, item 4.

Texto escrito por Walkiria Lúcia de Araújo Cavalcante (walkiria.wlac@yahoo.com.br) para o site do Jornal O Clarim edição de 01/01/2017