Outro dia ouvi comentário na TV de um livro educativo (infelizmente não consegui anotar ou memorizar o nome do livro e da autora), onde há uma proposta educativa para que eduquemos nossos filhos com alma de pobre. Não é alma pobre, mas de pobre. Não imaginem os leitores que a expressão tem conotação pejorativa. Não! A expressão tem alcance interessante.
O comentário fez referência à postura da maioria dos brasileiros, que é caracterizada pela carência e dificuldades financeiras e, portanto, classificada como pobre. Aqui me refiro mesmo às camadas mais carentes da população.
Pois bem. São essas camadas mais carentes que, quando estão de posse de algum recurso, estão felizes, usam dos recursos da maneira que mais lhes parece melhor. Se podem se alimentar bem, alimentam-se bem naquele dia. Quando não podem, se contentam com o que têm ou podem fazer. E nem por isso deixam de estar felizes e de bem com a vida.
Muitas pessoas são assim. Estão sempre felizes, apesar das carências que enfrentam. Contentam-se com o que possuem e não amargam expectativas inalcançáveis.
Alma de rico, segundo a abordagem, seria para caracterizar aquelas pessoas que se matam para manter as aparências. Lutam desesperadas para adquirir coisas e estão sempre infelizes. Se não conseguem comprar o carro do ano, isto vira uma tragédia... Afundam-se em dívidas apenas para aparentar aquilo que verdadeiramente não são.
Os pobres sofrem sim as carências, mas estão resignados, e isto os faz felizes.
Uma educação nesse sentido faz ser o que realmente somos, sem expectativas vazias, sem ostentação, sem aflições de aparentar o que não se é... Sem ilusões.
Isto não significa acomodação. Apenas viver a realidade da condição em que se está.
Devemos lutar por melhorar as condições de vida, é óbvio. Mas quando lutamos pelas aparências, somos, aí sim, almas pobres. Estamos iludidos ou escravizados por coisas que passam, que podem ser roubadas, que podem enferrujar, como acentua o texto evangélico.
Educando nossos filhos e educando-nos para uma vida sem ilusões, de perseverança nos bons propósitos, nas lutas inevitáveis das conquistas intelecto-morais, estaremos sempre de bem com a vida, felizes, sem a excessiva preocupação com o ter, mas na busca permanente do ser. Notem, são situações bem distintas, ser e ter.
Melhor ser autêntico, honesto, trabalhador, digno, honrado, lutador das boas causas, para não ser corrupto, desonesto, e tudo aquilo que o leitor já sabe. E descobrir outros valores...
Eis o desafio de pais e educadores: transmitir tais noções aos novos habitantes do planeta. Justamente para que formemos cidadãos íntegros, honestos, equilibrados, que respeitem a vida, o semelhante, as instituições.
A corrupção e a violência tão altamente em evidência apenas demonstram que houve um descuido na infância, na época exatamente indicada para a educação, para a formação de hábitos e comportamentos, na atenção do acompanhamento das tendências da criança, educando-a para os valores do patriotismo, da civilidade, da dignidade em toda sua extensão.
Esse papel cabe à família. É no aconchego familiar, da saudável convivência educativa, que aprendemos uns com os outros. Entre cônjuges, entre irmãos e entre pais e filhos. Na convivência cotidiana aprendemos a gentileza, aprendemos a respeitar, aprendemos a solidariedade.
O dia 8 de dezembro, que passou, considerado o DIA DA FAMÍLIA, foi uma ótima oportunidade de refletir sobre essa indispensável instituição que nos acolhe, educa e forma cidadãos conscientes e responsáveis.
Amemos, pois, nossa família e também as famílias alheias. É autêntico parâmetro de bem viver, com alegria, gratidão e exata noção do bem e do amor.
*Texto extraído do site O Consolador, em Crônicas e Artigos, Ano 7 - N° 351 - 23 de Fevereiro de 2014, por ORSON PETER CARRARA.