Uma nova
filosofia requer uma nova pedagogia que, por sua vez, requer uma nova educação e
uma nova metodologia. Assim é com o Espiritismo, que é uma filosofia
espiritualista racional, que apela à razão e tem uma nova visão do homem, do
mundo e da vida. E mais: as consequências da filosofia espírita podem ser
comprovadas através de experimentos observáveis em eventos externos, assim como
podem ser sentidas e rememoradas intimamente, daí ser o Espiritismo também uma
ciência.
Não se pode
confundir o ensino espírita com o tradicional ensino religioso. Em Espiritismo
não temos catequese, não temos imposição de ideias. Quando promovemos a educação
espírita, temos que transcender o simples ensino de normas, preceitos e
interpretações de textos. O ensino espírita deve fazer pensar e levar o educando
ao encontro de uma nova visão de si mesmo e do significado da vida. Deve
permitir o desenvolvimento do senso moral para que a criança e o jovem tenham o
discernimento necessário para fazer face às diversas situações existenciais com
que se deparam no cotidiano.
Verbalismo e
experiência prática
O ensino
espírita solicita ao educador que não fique apenas com o compartilhamento verbal
do conhecimento que possua. Ele deve permitir que o educando levante hipóteses,
questione as informações e reflita sobre as conclusões. Para isso, a criação de
novas estratégias e oportunidades de ampliação do conhecimento e da
sensibilização dos sentimentos é imprescindível.
Não se deve
fazer da aula um tempo para passar informações, e sim um tempo para abordagens
críticas, para realizar questionamentos, para instigar descobertas, levando o
educando a pensar sobre situações práticas, que são vividas no dia a
dia.
Um bom
referencial é a didática de Kardec ao elaborar O Livro dos Espíritos. Diálogos
inquiridores com os Espíritos sobre os mais variados assuntos, sempre procurando
a razão das coisas e as consequências práticas dos conhecimentos
revelados.
O educador deve
sempre fazer perguntas, levar os educandos a pensar sobre o que estão estudando,
promovendo debates, pesquisas e a construção individual do conhecimento, tudo
relacionando com a vida, ou seja, não permitindo que o conhecimento seja apenas
teórico, pois as novas gerações necessitam fazer a descoberta da empatia, do
saber se colocar no lugar do outro, com visão de futuro, ou seja, o que estamos
construindo e o que vamos colher.
Levemos para a
sala de aula os fatos do mundo, as descobertas científicas, as questões sociais
para que os educandos compreendam que o ensino espírita é aplicável a tudo,
revelando a universalidade das leis que regem a vida. Compreender e vivenciar,
eis a fórmula do verdadeiro ensino espírita, fazendo com que o Espiritismo não
fique distante, ou mesmo divorciado, da realidade em que estamos mergulhados, a
qual a doutrina nos faz compreender e, portanto, melhor lidar.
Esclarecimento
espiritual
O Espiritismo
não tem por objetivo a divulgação de uma visão religiosa, ou de uma determinada
prática devocional. O ensino espírita visa realizar o esclarecimento espiritual
do indivíduo. Para isso estabelece que esse esclarecimento deva:
1 - Partir da
observação;
2 - Ter a
experimentação individual e coletiva;
3 - Utilizar a
reflexão;
4 - Provocar a
interiorização de princípios;
5 - Levar à
comprovação da veracidade dos ensinos;
6 - Respeitar o
desenvolvimento intelectual e moral do educando.
Todos estamos
reencarnados para dar continuidade ao progresso intelectual e moral, tanto
individual quanto coletivo, devendo deixar aflorar em nós a condição espiritual
de que somos essência, com a continuidade da vida após a morte, mas não porque
assim o Espiritismo ensina, e sim porque vamos pensar sobre a alma, pesquisar os
fatos e chegar à conclusão de que somos imortais, que isso consegue responder as
mais variadas questões existenciais.
Com o
esclarecimento espiritual teremos forças para mudar hábitos, para lutar contra o
egoísmo e para ter um encontro com Jesus, quando seus ensinos e exemplos passam
a ter sentido e serem aplicáveis em nós e na vida.
Do que
necessitamos para educar
Vamos agora abordar a questão do ensino espírita na
família, o que os pais devem fazer para melhor cumprir sua missão de educadores
do Espírito reencarnante.
Primeiro, necessitamos compreender que somos
Espíritos imortais, que há em nós e, portanto, em cada ser humano, um componente
a mais do que o corpo biológico, ou seja, a alma. Compreender a espiritualidade
humana é fundamental para melhor educar.
Segundo, como decorrência do primeiro enunciado,
compreenda que a criança – e também o adolescente e o jovem – é um espírito, ou
uma alma. Ela não é um brinquedo, uma boneca e nem mesmo um adulto em miniatura.
É gente como a gente, para utilizar a expressão do educador brasileiro Paulo
Freire, portanto, deve ser respeitada na sua condição intelectual e moral.
Terceiro, para melhor educar é preciso amar esse ser
que Deus confiou para nós. Não existe verdadeira educação fora do amor. Mas não
esse amor que se dissipa um minuto depois, quando passamos a tratar nosso filho
de "coisa" que atrapalha nossa vida. O amor, acima de tudo, compreende e
renuncia.
Quarto enunciado: a melhor educação é aquela
realizada através dos nossos próprios exemplos. Se você fuma, fala palavrão,
grita, fofoca a vida alheia, é egoísta, age com violência, e tantas outras
coisas que caracterizam vícios do caráter e maus hábitos, como pode querer que
seu filho seja diferente?
E, finalmente, deixe seu filho ter suas próprias
experiências. Não faça as coisas no lugar dele. Interaja com ele e delegue
tarefas. Deixe ele compreender o que são limites, responsabilidades, deveres. Se
você sempre limpar onde ele sujou, sempre guardar as roupas que ele espalhou,
sempre desculpar os erros que ele cometeu, a deseducação estará instalada.
Lembre-se que a missão de educar significa formar o
caráter, fazer com que o filho adquira o senso moral, saiba distinguir entre o
bem e o mal, pois ele é um Espírito imortal, e a única bagagem trazida do mundo
espiritual, quando do nascimento, e que será levada de volta ao mesmo mundo
espiritual, quando da morte, é a bagagem das conquistas morais e intelectuais
com a respectiva aplicação da mesma. Não importa para Deus o diploma
universitário a ser apresentado, mas sim a caridade desenvolvida, o amor ao
próximo praticado. O Espírito reencarnante necessita dos pais (ou dos
responsáveis) para melhora do seu caráter, para bom encaminhamento das suas
tendências inatas.
*Texto extraído do site da revista O Consolador. Escrito por Marcus De Mario que é educador, escritor, consultor
educacional e empresarial. Atua no C.E. Humildade e Amor, da cidade do Rio de
Janeiro.