Pais que têm mais de um filho dificilmente escapam das comparações que estabelecem entre eles. Traços de personalidade, tendências, tipo de temperamento, por vezes, completamente distintos, manifestados desde os anos iniciais da infância os levam a indagar a razão de tanta diferença. Do ponto de vista científico, as respostas são encontradas na velha discussão acerca da hereditariedade versus meio. Na busca de argumentos a favor de uma ou outra corrente muita pesquisa já foi realizada, redundando em incontáveis produções intelectuais.
A Doutrina Espírita, porém, baseando-se no princípio da reencarnação, apresenta a esse respeito um argumento pleno de lucidez. Somos seres interexistentes. A alma que em nós habita já viveu antes e continuará viva após a nossa morte no corpo físico. Apenas mudará de estado. Na Terra, está presa à matéria; no espaço, encontra-se livre dos liames físicos. Muda na aparência, mas permanece a mesma na sua essência.
Cada filho que nasce é alguém que retorna ao cenário terrestre para mais uma jornada rumo ao seu aprimoramento intelecto-moral. Na sua bagagem traz as experiências colhidas em outros corpos quando jornadeou em condições por vezes muito diversas das atuais.
Assim, é natural que os filhos sejam diferentes entre si. Espíritos que são, carregam consigo suas virtudes e suas fraquezas, suas boas e más inclinações, suas conquistas e seus fracassos.
Importa, pois, aos pais e educadores, munidos dessa informação, saber lidar com suas peculiaridades. A frase “Trato a todos da mesma forma” deveria ser revista, uma vez que ao contrário do que se pensa, pode traduzir, na prática em tratar de modo igual a pessoas desiguais.
Assim como na parábola do semeador, narrada pelo Mestre Jesus, cada um de nós – da mesma forma que nossos filhos – traz no coração um tipo de solo, suscetível ou não de fazer brotar as sementes que ali forem lançadas.
Semeadores somos todos nós que já conseguimos fazer florescer e frutificar em nossas almas as mensagens do Divino Amigo. De posse de um pouco que seja, do entendimento das mensagens da Boa Nova que ele veio nos trazer, é nosso dever lançarmos, por nossa vez, as sementes germinadas. Pais, em especial, são semeadores nos campos das vidas dos seus filhos.
E como são variados esses campos...
Espíritos há que, apesar de todo empenho dos pais em lhes falar das verdades transcendentais, dos valores imorredouros, são como as sementes caídas à margem do caminho. Desinteressados dessas conversas, indiferentes aos exemplos que possam receber, seguem pela vida afora despreocupados. São os imaturos espirituais.
Outros, como as sementes que caíram entre as pedras, podem até ter aparente interesse por essas mensagens, mas qual o solo impermeável e sem profundidade, oferecem poucas condições para que germinem. Vemo-los, por vezes, na infância, entusiasmados com a prática do bem, desejosos de servir e compadecendo-se do próximo, e distanciados dessas atitudes quando adentram a adolescência. Pesa-lhes o dever de agir no bem com determinação e persistência. Desistem com facilidade.
Ainda comparando os filhos com os solos da parábola evangélica, vamos encontrar aqueles dos quais não podemos dizer que sejam áridos, pois que neles nasceram e cresceram, junto com a boa semente, os espinheiros. São espíritos portadores de condições propícias de se transformarem em homens de bem, mas que, a exemplo das sementes que foram abafados pelos espinheiros, foram sufocadas pelos atrativos da vida material.
E, para a felicidade dos pais, há os filhos “terra boa”, aqueles que acolhem de boa vontade as sementes lançadas em seus corações, fazendo-as germinar, crescer e frutificar abundantemente, conforme seus talentos.
Na certeza de que Cultivador Divino não desiste das suas sementes, pais que não tiveram a ventura de ter os filhos semelhantes à terra produtiva serão mais felizes se souberem revolver e adubar o solo, regar e proteger as sementes que forem entregues em suas mãos.
Alguns pais, mais que outros, terão dificuldades nas tarefas que envolvem a renovação dos sentimentos dos seus filhos. No entanto, a senda para a sua evolução espiritual exige ação enérgica e sem demora. Arrancar o mal pela raiz, substituir a terra seca pela fértil, retirar pedras existentes são formas duras, porém necessárias de colaborar nessa evolução.
E anos mais tarde, quando a colheita se fizer farta e generosa, esses mesmos pais verão que valeu a pena os esforços, porque Deus, o Dispensador das Sementes, quer vê-las crescer e frutificar.
*Por Lúcia Moysés para o site Correio Espírita