Na infância, em Feira de Santana, Divaldo Franco sonhava em ser padre ou médico quando crescesse. Aos 87 anos, o médium acredita que cumpriu estas metas ao traçar os caminhos que o consagraram como o principal nome do espiritismo no Brasil e um dos grandes promotores da doutrina de Allan Kardec pelo mundo.
"Me tornei um consultor da alma e, ao mesmo tempo, um sacerdote e conselheiro, amigo dos dramas humanos, apontador de caminhos, alguém que pode proporcionar a medicação da cura integral", diz em entrevista na Mansão do Caminho, no bairro de Pau da Lima.
Em uma rápida conversa, é fácil perceber que Divaldo, com um sorriso acolhedor, prefere falar do que construiu visando promover o bem do que de si próprio. A Mansão do Caminho, sua grande obra social, fundada há 62 anos, acolheu 600 filhos adotivos e, ao longo do tempo, foi modificando a metodologia de modo a levar seus ensinamentos educacionais aos lares da comunidade.
Hoje, a instituição atende quase 6 mil pessoas por dia, em atividades como escola integral de educação infantil e fundamental, cursos complementares e profissionalizantes, ambulatório médico e maternidade.
"Toda a história física e biológica culmina na obra, porque de nada adiantaria que o indivíduo tivesse uma vida brilhante e não deixasse rastros de amor para aqueles que venham depois. O sentido da vida é nos encontrarmos conosco mesmos e deixarmos abertas as portas das possibilidades, para que também possa fluir do bem-estar, da alegria de viver", diz o líder espírita, justifica.
Assim, separá-lo de sua obra pareceu impossível para a jornalista Ana Landi na biografia "Divaldo Franco - A Trajetória de Um dos Maiores Médiuns de Todos os Tempos" (Bella Editora), cuja renda será revertida para a Mansão do Caminho.
O lançamento do primeiro perfil jornalístico de Divaldo Franco acontece nesta segunda-feira, 23, às 18 horas, na livraria Saraiva do Shopping Paulista, em São Paulo. Em Salvador, o evento ainda não tem data definida por conta da agenda do líder espírita, que costuma envolver cerca de 200 viagens por ano e já psicografou mais de 300 livros.
Por trás do mito
"A ideia que a gente tem é que o Divaldo é aquele das multidões, o orador, o seguro. Isso é tudo verdade, mas o que a gente tem que perceber é que ele está cumprindo a missão que abraçou: levar a doutrina espírita para os lugares onde ela nunca chegou e para as grandes plateias", afirma Ana Landi.
A jornalista, de família espírita, demorou dois anos para convencer o médium a conceder-lhe entrevistas, que aconteceram em mais dois anos. Neste processo de aproximação e de acompanhamento da rotina, a paulista pôde perceber traços do espírita que escapam à maioria dos olhos.
"O homem por trás do mito teve que pagar um preço altíssimo. É muito sozinho, tem agenda cheia, horários rígidos. Ele não cobra por palestras e vive da pensão de funcionário público, com a qual paga as viagens. É muito criterioso com o dinheiro da venda dos livros psicografados e doações, que é todo repassado diretamente à Mansão do Caminho", explica a biógrafa.
"Divaldo Franco - A Trajetória de Um dos Maiores Médiuns de Todos os Tempos" está dividido por assuntos e recupera diálogos que ajudam a contar de forma leve as passagens marcantes da vida do personagem.
Os 32 capítulos abarcam desde a infância, em que rostos ameaçadores saltavam sobre o 12º filho de uma família católica, e fases como a aproximação do espiritismo, desafios para a criação da Mansão do Caminho, a relação com Chico Xavier e com sua mentora espiritual, Joanna de Ângelis, cuja última reencarnação foi Joana Angélica de Jesus, a abadessa do convento da Lapa.
"Todos temos uma entidade superior, o nosso anjo da guarda. O que me fascina é que ela (Joanna) é a mentora de toda obra. Fui descobrindo ao longo do tempo que era ela quem nos orientava e programava todas as atividades", explica Divaldo Franco, que publica artigos em A TARDE, quinzenalmente, às quintas-feiras.
Com o "Movimento Você e a Paz", ele combate a violência desde 1998. O projeto já se espalhou pelo Brasil e exterior, envolvendo diferentes religiões.
"Tenho um amor a Cristo, um amor ao mundo espiritual. Tenho tanta certeza da imortalidade que respeito todas as religiões e não religiões. Prefiro o materialista de caráter ao melhor cristão sem dignidade, porque quando o indivíduo tem bons princípios, ele não precisa de religião. A religião é uma metodologia da arte de bem proceder e todas são boas, porque ensinam a mesma coisa", defende Divaldo Franco.
*Noticia extraída do site A Tarde por Verena Paranhos.