É a primeira vez que Divaldo Franco autoriza gravação de uma reunião mediúnica completa. Médium é considerado o sucessor de Chico Xavier.
O mais importante médium em atividade no Brasil psicografa diante da câmera do Fantástico. É a primeira vez que Divaldo Franco autoriza a gravação de uma reunião mediúnica completa.
Considerado, por muitos, o sucessor de Chico Xavier, Divaldo lidera uma obra social que já tirou 160 mil pessoas da miséria ao longo de seis décadas. Aos 87 anos, ele diz que sua missão está terminando.
O teatro inteiro indo abaixo, como se um ator famoso subisse ao palco. Filas, autógrafos, assédio de escritor de sucesso. Selfies, flashes, comoção, como se fosse um astro do rock. Mas o pop star do espiritismo está longe de ser o que parece.
“E não à toa é um admirador muito grande de São Francisco de Assis. Se eu fosse defini-lo como pessoa, eu diria que ele é um franciscano”, diz a escritora Ana Landi.
Quatrocentos voluntários atendem à convocação do fundador. “Nós aprendemos com ele que ajudar o próximo é a maior benção da vida”, conta a pedagoga Clese Cerqueira.
Ele é o médium em atividade mais importante do Brasil. O Fantástico encontrou Divaldo Franco à hora do café da manhã.
Fantástico: Com licença. Muito bom dia.
Divaldo Franco: Bom dia.
Fantástico: Atrapalhar o café? Muito prazer.
Aos 87 anos, Divaldo anda com desenvoltura pela Mansão do Caminho. Uma verdadeira cidade com ruas, casas, biblioteca, hospital, padaria, que ele planejou e ajudou a construir.
Fantástico: Tem cada ladeirão, né?
Divaldo Franco: Tem. Porque eram morros. Isso aqui foi feito à picareta, quando nós começamos.
Fantástico: As ruas foram abertas a picareta?
Divaldo Franco: Tudo a picareta.
“Nunca veio um trator aqui. Isso aqui tudo aqui foi feito no braço, no braço do amor”, diz a professora Nailda Lima.
Nailda tem 70 anos. Chegou à mansão pequenininha, e foi uma das 641 crianças órfãs de quem Divaldo obteve a guarda na Justiça. “Fomos criados com todo o amor, com toda a liberdade de criança”, conta.
Desde a fundação, em 1952, a Mansão do Caminho já tirou 160 mil pessoas da miséria, oferecendo escola e profissão.
Nailda: Me formei em 1968, em professora. A primeira a casar fui eu, com tio Divaldo, onde eu tive essa benção.
Fantástico: Aparece naquela fotografia espiando no quarto. O que ele tá fazendo?
Nailda: Ele está dizendo: ‘você vai dormir aqui’.
Brincalhão, sem dúvida, mas o sempre alinhado Divaldo Franco teria a vaidade dos normais?
Fantástico: O senhor, imagino, pinta o cabelo.
Divaldo Franco: Sem dúvida.
Fantástico: É vaidade?
Divaldo Franco: Não. Gosto, me faz bem. E a autoestima me impõe tornar-me, pelo menos, menos assustador para os outros. E lembrei que Chico Xavier quando colocou a peruca disse assim: eu não tenho direito de assustar os outros com a minha feiura.
Os dois maiores médiuns brasileiros se conheceram ainda jovens. Foi Divaldo quem procurou Chico. “Ele nunca me tinha visto. E então chegou-se a mim, estendeu a mão e disse: ‘olá, Divaldo. Como vai?’”, conta Divaldo Franco.
Sempre foram muito próximos. Mas alguns seguidores de Chico acusaram Divaldo de plagiar obras psicografadas pelo médium mineiro. Então Divaldo se afastou deles.
Fantástico: Algumas pessoas que eram ligadas a Chico Xavier torcem um pouco o nariz pra você. Isso é verdade?
Divaldo Franco: É verdade. É natural.
Fantástico: Por quê?
Divaldo Franco: São fenômenos humanos. As pessoas nos veem conforme sua própria ótica.
A escritora Ana Landi, autora da primeira biografia não espírita de Divaldo, que será lançada nesta segunda-feira (23), diz que os dois se reaproximaram. E que depois da morte de Chico, Divaldo fez questão de visitar seus seguidores.
“Como se fechasse um ciclo, né? Em que duas das figuras mais importantes do espiritismo no Brasil e talvez no mundo fizessem as pazes mesmo sem o Chico presente”, diz Ana Landi.
Divaldo Franco rejeita o posto de sucessor de Chico Xavier. Diz que é apenas mais um médium. E que afora o dom especial, como se fosse um sexto sentido, o médium é uma pessoa comum.
“Não tem nenhuma característica exterior. Quando, por exemplo, alguém diz que é médium, e tem determinados gestos estranhos, faz caretonas, está arrepiado, isto é um distúrbio do sistema nervoso, nada tem a ver com a mediunidade”, afirma Divaldo Franco.
Divaldo convida o Fantástico para uma reunião mediúnica liderada por ele. É a primeira vez que ele autoriza a entrada de uma equipe de televisão. Vários médiuns sentam em volta da mesa. Divaldo fica na ponta.
De acordo com o que os espíritas acreditam, os médiuns recebem comunicações de pessoas que já morreram, dando voz a elas. De olhos fechados, sob a luz de uma lâmpada verde, Divaldo psicografa diante da câmera.
Dois espíritos teriam lhe enviado mensagens. Joana de Ângelis, sua mentora espiritual, e o poeta indiano Tagore, Prêmio Nobel de Literatura de 1913, morto em 1941, que lhe ditou um poema. “As flores juvenis emurcheceram e alcancei a idade adulta em vãs tentativas de encontrar algo que me plenificasse”, lê Divaldo.
Divaldo psicografou 258 livros, que já venderam 10 milhões de exemplares pelo mundo afora. O dinheiro dos livros é todo revertido para as obras sociais. Ele não fica com um tostão. Mora na Mansão do Caminho, e vive com a modesta aposentadoria de funcionário público.
“Nós não temos o direito de viver profissionalmente desse mecanismo de iluminação de consciências”, afirma Divaldo Franco.
A amizade acima da religião o fez aproximar-se de irmã Dulce, a famosa freira católica que ele visitava com frequência. Vendo que ela estava mal acomodada em uma cadeira de madeira, quis dar uma cama de presente. “Porque é tão desconfortável essa cadeira. Ela sorriu e disse: ‘não faça isso. Essa cadeira é missionária’. Com ela eu já consegui dez camas para o nosso hospital. Todo mundo chega, vê, compadece, manda uma cama e eu mando lá para a UTI e fico aqui esperando”, relembra Divaldo.
Essa amizade fácil com outras lideranças é um traço da personalidade conciliatória de Divaldo em que o princípio da tolerância é exercido, digamos, de maneira radical. Noventa por cento das crianças atendidas, que vivem nas comunidades vizinhas, são de famílias católicas ou evangélicas. Não existe nenhum tipo de filtro religioso. O filtro que existe é o da necessidade absoluta.
Edinilson Pereira da Silva: Márcia! Cadê Márcia? Bom dia. Nós somos da Mansão do Caminho.
A missão de Edinilson Pereira da Silva é encontrar as crianças que mais precisam da Mansão do Caminho. “Eu vi uma situação sub-humana. Onde é uma casa, se é que nós podemos chamar de casa, um só vão, junto de um despenhadeiro”, conta.
Márcia já tem um filho na mansão. “O pai dele rejeitou ele e a Mansão do Caminho que abraçou ele. Foi o pai e a mãe nas horas em que ele estava mais precisando”, afirma a dona de casa Márcia Pinto. E agora quer que seus outros quatro meninos tenham a mesma sorte. “Tudo o que eu quero é meus filhos crescendo em Cristo e ter uma vida melhor do que a minha”, deseja Márcia Pinto.
Márcia é evangélica, mas Edinilson nem quis saber.
Edinilson Pereira da Silva: O nosso objetivo é atender o povo, não a religião.
Fantástico: Você nem perguntou?
Edinilson Pereira da Silva: Não é importante. Não é relevante. Não existe esse item no nosso cadastro.
O próprio Edinilson foi acolhido por Divaldo aos três anos de idade. Estudou e virou padeiro profissional. Por gratidão, visita famílias que podem ter o mesmo destino. “Me sinto gratificado quando vejo aqueles visitados adentrar a Mansão do Caminho. Eu me sinto emocionado com esse trabalho”, conta.
Divaldo diz que sua missão está chegando ao fim.
Fantástico: Você sabe o dia em que vai morrer?
Divaldo Franco: Não, mas sinto que está se aproximando. Aos 87 anos, não se pode esperar muito.
Mas diz que já tem outros livros prontos. Quer garantir a continuidade de projetos como o do hospital de parto natural. “Pariam na rua. Várias vezes demos socorro e pariam dentro da Kombi. Então veio a ideia de fazer o centro de parto e aqui estamos”, conta Divaldo Franco.
O homem que diz conversar com os mortos já trouxe à vida 1,5 mil bebês. É o caso de Murilo que veio ao mundo com 49 centímetros e pouco mais de 3 quilos mostrando para que serve uma vida luminosa.
“Para poder transmitir um pouco de sol. Porque há tantas pessoas em pleno inverno nesses dias de claridade. E passar deixando pegadas que apontam o caminho de felicidade aos que vem atrás”, diz Divaldo Franco.
Veja o vídeo aqui
*Texto extraído do G1