Por CHRISTINA
NUNES
Abordo este assunto com frequência, pois se trata de tema agradável à
sensibilidade e às almas. Afinal, quem não aprecia pelo menos imaginar?
Encontrar a alma gêmea! Compartilhar com ela alegrias, dilemas, problemas,
desafios. Atenho-me, aqui, ao contexto do casal, sem me estender às nuances de
almas gêmeas reencarnadas noutras situações, como um amigo, parceiro de
trabalho, primo, tia, mãe, tantas são as possibilidades nas quais pode se
inserir a situação de eventualmente estarmos numa vida, em especial, com aquela
pessoa que conosco vibra em sintonia quase perfeita. Que torna nossa existência
no propalado mar de rosas, cheio de concordâncias, comunhão, afinidades! Dois
olhares numa mesma direção! Ambos na melhor demonstração de cumplicidade
de preferências, pareceres, de considerações sobre os fatos da vida!
Quem não apreciaria?
Quem não sonha? Quem não quer? Todavia, usando de bom senso e honestidade,
forçoso reconhecer que, nesta esfera de aprendizado intensivo e de resolução de
pendências cármicas na qual transitoriamente todos nos achamos, difíceis e
especiais são os casos assim. Conta-se nos dedos. A impressão, nos tempos que
correm, sem margem a dúvidas, é a de que relacionamentos principiam e terminam
sob nova modalidade descartável perfeitamente compatível com a era de acessórios
na qual vivemos. Consumo!
Atualmente convivo
com este ou aquele. No momento, o céu! Ele, ou ela, é tudo o que queria,
sonhava, ou precisava na vida! Todavia, basta a passagem realística das horas e
dos dias para que a projeção do príncipe ou princesa encantados que só viviam
nas nossas cabeças ceda lugar ao que simplesmente é! Eu sou isso, ela é aquilo!
Simples assim. E este "isto" ou "aquilo", via de regra, e para nosso estupor,
nos defronta com o fato de que sempre existem diferenças, em maior ou menor
grau. Em muitas das vezes, intoleráveis! E a princesa transforma-se na abóbora,
e o príncipe no sapo, descartados rapidamente, para que se saia em busca de novo
sonho obcecante de amor.
Segundo nossas
expectativas sempre frustradas! E a fórmula se repete. E ninguém tolera nada que
o contrarie, e, mais e mais uma vez, se sai em busca do preenchimento deste
vazio; desta "perfeição" utópica que nunca se acha! E por aí vai...
Após alguns artigos
considerando o prisma idílico deste tema, meus amigos, sob o aspecto das
realidades espirituais, que nos ensinam que não existe esta "banda da laranja"
que nos tornaria em seres completos, mas sim sintonia, empatia, e grandes
afinidades espirituais, oportuno voltar ao assunto para propor alternativas
para as situações, talvez que em esmagadora maioria no mundo, daqueles
relacionamentos nos quais nos vemos inseridos que talvez não sejam exatamente
modelos de concordância, de harmonias e virtudes, de vez que, num mundo material
de provas, nossas almas gêmeas andam frequentemente espalhadas por aí, também
resolvendo pendências pessoais, cármicas, que as capacitem ao encontro mais
pleno da felicidade consigo mesmas e também com outros seres.
Ainda esta semana a
atriz Débora Secco, com muita propriedade, considerava acerca de relacionamentos
familiares, referindo-se mais especificamente ao contexto entre cunhados. E, com
o beneplácito de uma psicóloga bem referendada, afirmava que é imprescindível o
respeito mútuo. Respeito pelo outro! Pelo espaço alheio, para que a convivência
corra com a harmonia desejável. Afirmo, a partir disso, que esta verdade
aplica-se com relevância a relacionamentos conjugais ou amorosos. Mas para que
isso se faça possível, imperativo que, junto, se realize entendimento mútuo do
que seja lealdade com direito a liberdade, e sem possessividade
doentia.
Mas é justamente
neste ponto que o bicho começa a pegar!
Porque a passagem das
horas, dos dias, dos minutos e dos anos, caros, nos ensina melhor do que
qualquer outra coisa que convivência é processo. Não somos de fato
acessórios, enfeites na vida mútua, ou belos pássaros decorativos encerrados
numa gaiola e destinados a cantar lindamente para enlevo dos ouvidos alheios,
cerceados de liberdade de escolha e de preferências! Na realidade, mudamos a
cada instante. De gostos, de rumos, de visão e percepção. Fluímos com a vida! E
a vida que flui pede o respeito à liberdade de ir e vir, em tudo e todos, e por
tudo e por todos.
Que se faça disso um
exercício diário, naqueles muitos casos em que se descobre que nossos
companheiros não são aqueles sonhados atrizes ou atores de Hollywood, para assim
se contar com sucesso no aprendizado que este tipo de relacionamento nos
reserva: o de que é muito possível conviver satisfatoriamente, num
contexto de amizade, carinho e harmonia, mesmo com os que por umas ou muitas
razões ainda não são aquela contraparte com quem certamente um dia nos
encontraremos! Em muitas ocasiões, talvez se faça possível até transmutar-se uma
relação cheia de diferenças em algo bem grato para ambos! Mas com o uso dos
ingredientes mencionados acima: a tolerância, sem a qual fatalmente terminaremos
nossas vidas solitários por excessos de crítica para com os outros, e falta de
autocrítica para conosco. Sobretudo, com o respeito pela individualidade e
liberdade daqueles com quem convivemos!
Assim, se um quer a
praia quando o outro quer o futebol, ótimo! Vá um à praia e o outro ao seu jogo
de futebol! Outras ocasiões deverão existir nas quais poderão compartilhar o
mesmo lazer. Uma viagem, talvez! Um quer a TV para um show, o outro para um
filme. Um é festeiro, o outro não é. Um dá para matemática, outro para político.
Um é budista. O outro, católico... Ótimo. Nada errado, de fato! Exerçam as suas
escolhas. Vivenciem-nas! E cheguem de volta em suas casas felizes, para a troca
de impressões! E assim os anos terão passado de modo indolor, e - surpresa! -
com a conquista de grandes afetos -valiosos quanto o são as almas
gêmeas!
*Texto extraído do site da revista O Consolador