quarta-feira, 6 de março de 2013

Não é a alma gêmea; e daí?...

Por CHRISTINA NUNES
 
Abordo este assunto com frequência, pois se trata de tema agradável à sensibilidade e às almas. Afinal, quem não aprecia pelo menos imaginar? Encontrar a alma gêmea! Compartilhar com ela alegrias, dilemas, problemas, desafios. Atenho-me, aqui, ao contexto do casal, sem me estender às nuances de almas gêmeas reencarnadas noutras situações, como um amigo, parceiro de trabalho, primo, tia, mãe, tantas são as possibilidades nas quais pode se inserir a situação de eventualmente estarmos numa vida, em especial, com aquela pessoa que conosco vibra em sintonia quase perfeita. Que torna nossa existência no propalado mar de rosas, cheio de concordâncias, comunhão, afinidades! Dois olhares numa mesma direção! Ambos na melhor demonstração de cumplicidade de preferências, pareceres, de considerações sobre os fatos da vida!

 
Quem não apreciaria? Quem não sonha? Quem não quer? Todavia, usando de bom senso e honestidade, forçoso reconhecer que, nesta esfera de aprendizado intensivo e de resolução de pendências cármicas na qual transitoriamente todos nos achamos, difíceis e especiais são os casos assim. Conta-se nos dedos. A impressão, nos tempos que correm, sem margem a dúvidas, é a de que relacionamentos principiam e terminam sob nova modalidade descartável perfeitamente compatível com a era de acessórios na qual vivemos. Consumo!
Atualmente convivo com este ou aquele. No momento, o céu! Ele, ou ela, é tudo o que queria, sonhava, ou precisava na vida! Todavia, basta a passagem realística das horas e dos dias para que a projeção do príncipe ou princesa encantados que só viviam nas nossas cabeças ceda lugar ao que simplesmente é! Eu sou isso, ela é aquilo! Simples assim. E este "isto" ou "aquilo", via de regra, e para nosso estupor, nos defronta com o fato de que sempre existem diferenças, em maior ou menor grau. Em muitas das vezes, intoleráveis! E a princesa transforma-se na abóbora, e o príncipe no sapo, descartados rapidamente, para que se saia em busca de novo sonho obcecante de amor.
Segundo nossas expectativas sempre frustradas! E a fórmula se repete. E ninguém tolera nada que o contrarie, e, mais e mais uma vez, se sai em busca do preenchimento deste vazio; desta "perfeição" utópica que nunca se acha! E por aí vai...
Após alguns artigos considerando o prisma idílico deste tema, meus amigos, sob o aspecto das realidades espirituais, que nos ensinam que não existe esta "banda da laranja" que nos tornaria em seres completos, mas sim sintonia, empatia, e grandes afinidades espirituais, oportuno voltar ao assunto para propor alternativas para as situações, talvez que em esmagadora maioria no mundo, daqueles relacionamentos nos quais nos vemos inseridos que talvez não sejam exatamente modelos de concordância, de harmonias e virtudes, de vez que, num mundo material de provas, nossas almas gêmeas andam frequentemente espalhadas por aí, também resolvendo pendências pessoais, cármicas, que as capacitem ao encontro mais pleno da felicidade consigo mesmas e também com outros seres.
Ainda esta semana a atriz Débora Secco, com muita propriedade, considerava acerca de relacionamentos familiares, referindo-se mais especificamente ao contexto entre cunhados. E, com o beneplácito de uma psicóloga bem referendada, afirmava que é imprescindível o respeito mútuo. Respeito pelo outro! Pelo espaço alheio, para que a convivência corra com a harmonia desejável. Afirmo, a partir disso, que esta verdade aplica-se com relevância a relacionamentos conjugais ou amorosos. Mas para que isso se faça possível, imperativo que, junto, se realize entendimento mútuo do que seja lealdade com direito a liberdade, e sem possessividade doentia.
Mas é justamente neste ponto que o bicho começa a pegar!
Porque a passagem das horas, dos dias, dos minutos e dos anos, caros, nos ensina melhor do que qualquer outra coisa que convivência é processo. Não somos de fato acessórios, enfeites na vida mútua, ou belos pássaros decorativos encerrados numa gaiola e destinados a cantar lindamente para enlevo dos ouvidos alheios, cerceados de liberdade de escolha e de preferências! Na realidade, mudamos a cada instante. De gostos, de rumos, de visão e percepção. Fluímos com a vida! E a vida que flui pede o respeito à liberdade de ir e vir, em tudo e todos, e por tudo e por todos.
Que se faça disso um exercício diário, naqueles muitos casos em que se descobre que nossos companheiros não são aqueles sonhados atrizes ou atores de Hollywood, para assim se contar com sucesso no aprendizado que este tipo de relacionamento nos reserva: o de que é muito possível conviver satisfatoriamente, num contexto de amizade, carinho e harmonia, mesmo com os que por umas ou muitas razões ainda não são aquela contraparte com quem certamente um dia nos encontraremos! Em muitas ocasiões, talvez se faça possível até transmutar-se uma relação cheia de diferenças em algo bem grato para ambos! Mas com o uso dos ingredientes mencionados acima: a tolerância, sem a qual fatalmente terminaremos nossas vidas solitários por excessos de crítica para com os outros, e falta de autocrítica para conosco. Sobretudo, com o respeito pela individualidade e liberdade daqueles com quem convivemos!
Assim, se um quer a praia quando o outro quer o futebol, ótimo! Vá um à praia e o outro ao seu jogo de futebol! Outras ocasiões deverão existir nas quais poderão compartilhar o mesmo lazer. Uma viagem, talvez! Um quer a TV para um show, o outro para um filme. Um é festeiro, o outro não é. Um dá para matemática, outro para político. Um é budista. O outro, católico... Ótimo. Nada errado, de fato! Exerçam as suas escolhas. Vivenciem-nas! E cheguem de volta em suas casas felizes, para a troca de impressões! E assim os anos terão passado de modo indolor, e - surpresa! - com a conquista de grandes afetos -valiosos quanto o são as almas gêmeas!
 
*Texto extraído do site da revista O Consolador