Pai adotivo de mais de 600 órfãos, Divaldo Pereira Franco é
considerado o maior médium do país
Especialistas creem que total de simpatizantes do espiritismo supere 30 milhões |
Algumas visões eram terríveis. Por vezes tão cruéis, que o menino só
conseguia dormir se refugiando na cama dos pais, de mãos dadas com a mãe, dona
Ana. Outras, mais amorosas, tentavam consolá-lo ou enviar recados. Uma das
primeiras a se identificar foi a avó dele, Maria Senhorinha. O espírito apareceu
para o menino de 4 anos, pedindo que chamasse a filha.
Divaldo não sabia o significado da palavra avó ou avô. Todos haviam morrido
antes de seu nascimento. Dona Ana também não conheceu a mãe, morta por
complicações no parto. Mas o filho insistiu e ela o levou correndo à casa de
uma irmã mais velha, Edwirges. Lá, a tia pediu a descrição da mulher que
apareceu para Divaldo e ele a descreveu com detalhes.
Desse momento em diante, Divaldo ganhou o apoio irrestrito da mãe. Com o pai,
as coisas não foram fáceis. Durante anos, o homem simples, comerciante de fumo,
teve um único aliado para fazer o filho parar de falar com os mortos: um chicote
feito de cipó de goiabeira.
Como tudo começou
O primeiro contato de Divaldo com o espiritismo foi em 1944. Mal tinha se
recuperado de uma tragédia familiar envolvendo o suicídio da irmã Nair, ele
enfrentou novo golpe. Um de seus irmãos, José, morreu vítima de um aneurisma. Em
poucas horas, Divaldo deixou de andar e uma paralisia o deixou preso à cama por
mais de seis meses. Quem o curou foi uma famosa médium de Salvador, Ana Ribeiro
Borges. Assim que o visitou, ela viu que o problema era espiritual. Seria
reflexo da presença perturbadora de José. Aturdido pela morte inesperada, o moço
estaria preso ao único na casa portador de mediunidade ostensiva. No mesmo dia,
Divaldo voltou a andar.
A partir daí, Divaldo iniciou suas atividades como espírita e não parou mais.
Mudou-se para Salvador (BA) e abraçou em tempo integral a doutrina e as ações de
caridade por ela pregadas. Em maio, ao completar 86 anos, celebra também mais de
65 anos ininterruptos dedicados à população carente e à atividade mediúnica.
O médium já fez quase 15 mil palestras no Brasil e em 64 países lá fora.
Psicografou mais de 250 livros que, juntos, venderam 10 milhões de exemplares.
Nunca ficou com um único centavo das vendas. A renda é doada, em cartório, à sua
maior obra: a Mansão do Caminho, entidade beneficente fundada há 60 anos, em
Salvador.
O complexo, obra social do Centro Espírita Caminho da Redenção, fundado em
1947, tem 83 mil metros quadrados, mais de 50 prédios e atende diariamente a
quase 5 mil crianças e jovens de famílias de baixa renda do bairro Pau da Lima,
um dos mais carentes e violentos da capital baiana.Tem creche, escolas de ensino
fundamental e médio e cursos complementares. Mantém ainda moderno centro de
parto normal e laboratório de análises clínicas. Toda essa estrutura emprega
mais de 300 funcionários e 400 voluntários em caráter permanente.
Acolhimento de órfãos
O trabalho assistencial de Divaldo começou no centro da cidade, com o
recolhimento de órfãos. Centenas foram chegando, jogados às portas da
instituição. Com o tempo, a casa ficou pequena. Com a ajuda de colaboradores,
Divaldo e Nilson de Souza Pereira, seu braço direito, compraram o terreno de Pau
da Lima, à época um grande aterro sanitário. Ali, construíram tudo praticamente
com as próprias mãos. As crianças continuaram chegando. Divaldo adotou, em seu
nome, mais de 600. E elas continuam chegando.