segunda-feira, 3 de abril de 2017

Conexão mental

“A prece faculta uma imediata mudança de comportamento, em razão das energias que a constituem, acalmando interiormente e predispondo à luta de autocrescimento.”[1]

Entendendo que a prece é um fenômeno eminentemente emocional, mas com consequências físicas e espirituais também, verificamos que a oração ungida de propósito superior proporciona-nos imediatamente uma pausa no que estamos sentindo, um alívio, e na sequência um profundo bem-estar que não conseguimos explicar de onde vem.

Quando oramos, saímos da faixa vibratória perturbadora em que nos encontramos e ascendemos, através de uma conexão mental elevada, a outra faixa superior. Os bons amigos espirituais que velam por nós e que desejam o nosso bem, neste momento nos envolvem em eflúvios de paz e amor, fazendo-nos sentir mais leves, dissipando as substâncias deletérias produzidas por nós que nos serviam de retroalimentação e de alimentação para aqueles que sintonizavam nesta faixa vibratória precária.

Kardec, sabiamente, no último capítulo de O Evangelho Segundo o Espiritismo incluiu uma Coletânea de Preces Espíritas. Nós, lidadores do movimento espírita, sabemos que não existem fórmulas mágicas para nos conectarmos com os bons amigos espirituais. Que, em síntese “(...) a oração tudo pode, pelo que realiza no interior do ser, alterando a sua capacidade de entender a vida e os acontecimentos diários”. Posto isso, não haveria necessidade de palavras pré-estabelecidas, bastaria a criatura entrar em contato com o seu interior e deixar fluir o que lhe viesse a mente.

Conforme afirmamos anteriormente, Kardec, conhecendo a criatura humana, sabia que muitos dos que aportariam ao movimento espírita precisariam de uma base, de uma orientação. Então, por que não oferecê-la através de uma coletânea de preces? Mais ainda, antes de cada prece, ele faz uma explicação sucinta e muito clara da razão daquela prece, sendo mais importante esta explicação do que a própria prece.

Existem também aqueles que estão vivenciando agruras tamanhas que se sentem incapacitados de orar. Tendo um fio condutor, a criatura consegue com mais facilidade orar, desvinculando-se das mentes em desalinho que ora comungam com seus pensamentos.

Assim, ele dividiu a coletânea em cinco partes. Preces gerais: “Oração Dominical”, “Reuniões Espíritas”, “Para os Médiuns”. Preces por aquele mesmo que ora: Destacamos as preces “Aos anjos guardiães e aos Espíritos Protetores”, “Para Afastar os Maus Espíritos”, “Nas Aflições da Vida”, etc. Preces por outrem: Destacamos a prece “Por Alguém que Esteja em Aflição”. Preces pelos que já não são da Terra: “Por Alguém que Acaba de Morrer”. Preces pelos doentes e pelos obsediados: “Pelos Doentes”, “Pelos Obsediados”.

Podemos orar por nós mesmos e pelos outros, estejam estes encarnados ou desencarnados.

“Se eu não entender o que significam as palavras, serei um bárbaro para aquele a quem falo e aquele que me fala será para mim um bárbaro. – Se oro numa língua que não entendo, meu coração ora, mas a minha inteligência não colhe fruto. – Se louvais a Deus apenas de coração, como é que um homem do número daqueles que só entendem a sua própria língua responderá amém no fim da vossa ação de graças, uma vez que ele não entende o que dizeis? – Não é que a vossa ação não seja boa, mas os outros não se edificam com ela.” (S. PAULO, 1ª aos Coríntios, cap. XIV, vv. 11, 14, 16 e 17)

Para que a conexão mental se estabeleça deveremos envolver as nossas palavras no sentimento correspondente. Isto pode parecer primário para muitas pessoas, mas se pensarmos que até bem pouco tempo cronológico as missas eram feitas em latim, verificamos que a questão da própria pregação evangélica, não importando o seguimento religioso, era revestida de uma forma que ficavam aquém do entendimento da maioria, dificultando assim a conexão primeira esperada no momento de uma prece. A oração deve ser realizada de uma maneira simples para que todos possam compreender e assim imantar-se do bem emanado, facilitando a troca de energia entre as criaturas, pois existem pregações feitas em nosso idioma, mas que são tão rebuscadas que o nosso conhecimento não nos permite compreender. Existem outras que estão ao nosso alcance, mas que não nos tocam, porque aquele que está emitindo as palavras produz só palavras, sem conteúdo emocional que corrobore o seu pensamento, ou porque não estamos sintonizando na faixa de amor emitida naquele momento – poderia o próprio Jesus estar palestrando que diríamos não entender sequer uma palavra. Temos que nos sentir edificados, ou seja, a nossa prece deve induzir-nos ao bem, provocar-nos o desejo de modificação.

O ato de orar é um momento de reflexão, mesmo que inconsciente. Voltamo-nos para as grandes realizações do bem, para o amor, para a justiça e a caridade. É um momento de apaziguamento conosco. Hoje, verificamos que o que as pessoas mais buscam não é mais a felicidade, mas a paz. São muitos os relatos de “eu não tenho paz”, mas a verdade é muito mais abrangente do que se imagina quando se diz: a paz do mundo começa em mim! Somos dínamos criadores, emanamos interruptamente energia. Precisamos de mecanismos de alimentação desta máquina humana, sendo uma delas a prece.

A prece anima os aflitos, consola os desventurados, ampara os que se consideram deserdados do mundo. Enfim, coloca de pé os que se consideram parte da Criação, como se isso fosse possível, pois somos todos filhos benditos do Pai, que não deixa nenhum à margem, mas nos responsabiliza pelas próprias escolhas e nos permite retorno ao caminho tantas vezes quanto quisermos até que por definitivo caminhemos resolutos pela estrada do bem.

A prece é uma das vigas sustentadoras da nossa encarnação; balsamizando nossas dores, elevando-nos ao alto, para que possamos, em pensamento, já que ainda não conseguimos em atitudes, estarmos nas estâncias mais elevadas da Criação Divina.

1. FRANCO, Divaldo. Jesus e o Evangelho à Luz da Psicologia Profunda. Pelo espírito Joanna de Ângelis. Cap. 35 – Pedir e Consentir.

Por Walkiria Lúcia de Araújo Cavalcante (walkiria.wlac@yahoo.com.br), em 01/04/2017, publicado o site da Revista O Clarim