O bom humor é uma virtude necessária para a nossa felicidade na Terra. Em vista disso, devemos treiná-lo como qualquer outra aquisição, porque saber não é ser. Conhecer é o primeiro passo, mas é na prática que iremos entrar na posse desse tesouro incalculável que se encontra à nossa disposição: o bom humor.
Quando a felicidade é nossa meta, conseguimos antever a alegria e o contentamento, construindo e fortificando o “agora” na paz que irradia de nossa decisão de ser feliz. Quem quer ser feliz, precisa fazer-se feliz. Precisa sentir-se responsável por isso.
Paulo, o magnânimo Apóstolo dos gentios, escrevendo ao povo de Corinto, instruiu: “Cada um contribua segundo tiver proposto no coração, não com tristeza ou por necessidade; porque Deus ama a quem dá com alegria”. (1)
Não se referia o apóstolo com o verbo “dar” somente à caridade material. Ele fala do tesouro da alegria que precisamos ter no coração para distribuir em nossa vida de relação a todos os que nos rodeiam, começando pelos familiares. É no lar que se constrói a sociedade. Se não temos paciência com nossos familiares, se o bom humor não faz parte do nosso dia a dia, como poderemos ser bons vizinhos, tratar bem os colegas de trabalho, tolerar as ocorrências desagradáveis – que são muitas – se não possuímos esse hábito salutar.
Os Espíritos Superiores responderam a Allan Kardec que há uma soma de felicidade comum a todos os homens: “Com relação à vida material, é a posse do necessário. Com relação à vida moral, a consciência tranquila e a fé no futuro”. (2)
Mas nós nos perdemos na questão do necessário e do supérfluo e passamos a reclamar da vida, e o que é pior: nos sentimos injustiçados, deixando que a tristeza tome conta do nosso mundo interior.
Estamos acostumados a pensar nas coisas ruins. Nossos problemas viram motivo de conversa com os outros. Isso faz com que nos sintamos mal. Precisamos dar um foco positivo, valorizando a vida que é bela e consentida por Deus.
Até a marchinha carnavalesca do grande músico Tom Jobim nos excita a pensar que a felicidade é fugaz e a tristeza não tem fim:
Tristeza não tem fim, felicidade sim. A felicidade é como a pluma
Que o vento vai levando pelo ar. Voa tão leve, mas tem a vida breve
Precisa que haja vento sem parar.
A felicidade é como a gota de orvalho numa pétala de flor
Brilha tranquila depois de leve oscila
E cai como uma lágrima de amor.
Kardec comentou a resposta dada pelas Entidades Sublimadas sobre a causa da infelicidade humana:
“De ordinário, o homem só é infeliz pela importância que liga às coisas deste mundo. Fazem-lhe a infelicidade a vaidade, a ambição e a cobiça desiludidas. Se se colocar fora do círculo acanhado da vida material, se elevar seus pensamentos para o infinito, que é seu destino, mesquinhas e pueris lhe parecerão as vicissitudes da Humanidade, como o são as tristezas da criança que se aflige pela perda de um brinquedo que resumia a sua felicidade suprema.
Aquele que só vê felicidade na satisfação do orgulho e dos apetites grosseiros é infeliz, desde que não os pode satisfazer, ao passo que aquele que nada pede ao supérfluo é feliz com os que outros consideram calamidades”. (3)
“O homem criterioso, a fim de ser feliz, olha sempre para baixo e não para cima, a não ser para elevar sua alma ao infinito”. (4)
Para que a tristeza não tome conta de nós e sejamos felizes, devemos nos aceitar e amar tudo o que nos pertence, buscando a disciplina do bom pensamento, da boa palavra, da boa ação e não cobiçar as coisas alheias.
Estejamos sempre alertas contra a tristeza, construindo em nós a boa vontade e a aceitação das coisas que não podemos mudar, evitando comentários ruins que irão nos prejudicar, assim como a todos os que se encontrarem em sintonia conosco.
Xô, tristeza!
Muita paz!
Notas bibliográficas:
1 – Bíblia Sagrada – João Ferreira de Almeida – Segunda Epístola de Paulo aos Coríntios, 9:7.
2 – O Livro dos Espíritos – Allan Kardec – Parte 4ª, capítulo I, questão 922.
3 – Idem, ibidem – Comentários à questão 933.
4 – Idem, ibidem – Parte 4ª, capítulo I, questão 923.
Texto publicado no site de O Correio Espírita, por Itair Ferreira