terça-feira, 2 de junho de 2020

Enquanto perdure a pandemia, que cuidados a Casa Espírita deve tomar?

Tudo em nosso país está a indicar que se encontra longe do fim a pandemia causada pelo novo coronavírus e que continuaremos por um bom tempo sem dispor de vacinas, de medicamentos eficazes e até dos tão falados testes em quantidade suficiente que nos possibilite atender ao que a Organização Mundial de Saúde tanto recomendou a todos os governantes.

Diante desse quadro, quando forem autorizadas a receber público, como as Casas Espíritas deverão proceder? Que cuidados deverão tomar?

As dúvidas vêm de todos os lados. Claro que as máscaras e o uso de álcool em gel já se terão tornado uma rotina, mas todos sabemos que isso não é suficiente. O cuidado com as aglomerações é medida que, como sabemos, tem sido reputada fundamental.

Para responder a estas questões, entrevistamos três conhecidos e respeitados estudiosos espíritas: Antonio Cesar Perri de Carvalho, palestrante, escritor, dirigente espírita, ex-presidente da USE – União das Sociedades Espíritas do Estado de São Paulo e da Federação Espírita Brasileira; Eurípedes Kühl, médium, estudioso espírita e autor de inúmeras obras espíritas, mediúnicas e não mediúnicas; e Gebaldo José de Sousa, estudioso espírita, autor do e-book Mediunidade – Fundamental Estudar Sempre e participante, como esclarecedor, de duas equipes mediúnicas nos dois hospitais espíritas de Goiânia.

A seguir, eis o que os nossos entrevistados disseram com relação às questões que lhes foram apresentadas:

PALESTRAS PÚBLICAS

1 - Se o local das palestras públicas for grande, o distanciamento entre as pessoas não constituirá um grande problema. Como proceder, porém, quando o salão - médio ou pequeno - fica geralmente lotado?

Antonio Cesar Perri - Após superarmos as fases de quarentena da pandemia viveremos uma situação nova, que vem sendo chamada de “novo normal”. E podem surgir orientações sanitárias gerais por parte de cada Governo Estadual. Então precisaremos analisar cada situação e fazermos adequações às realidades dos diferentes centros espíritas.

Será indispensável o atendimento às recomendações das autoridades sanitárias e isso é adequado à proposta de respeito à vida, ao ser espiritual reencarnado. Os centros, de acordo com suas dimensões físicas e a equipe disponível, precisará reanalisar as ofertas de reuniões públicas, talvez com variedade de dias e de horários. Além disso, precisaremos ficar atentos às orientações da área da saúde, com relação à utilização de máscaras e, eventualmente, se evitar contatos físicos, como os fraternos abraços. Um outro aspecto, que vem sendo desenvolvido no período da quarentena, é a utilização de transmissão por internet. Talvez as reuniões públicas devam contar com as duas possibilidades: um grupo fisicamente presente e outro acompanhando à distância. O importante será disponibilizar esclarecimentos na linha do acolhimento e do consolo para os que procuram o centro espírita nessa época tão complexa. 

Eurípedes Kühl - Se o local das palestras públicas for grande, o distanciamento entre as pessoas, como sabemos, não constituirá um grande problema.

No caso de locais médios ou pequenos, sugerimos aos dirigentes limitar o número de participantes, mantido o distanciamento necessário. Havendo quórum para outra palestra, replicá-la, com o mesmo palestrante. Quanto aos presentes, que se evitem abraços ou cumprimentos de mão.

Gebaldo José de Sousa - Importante limitar o número de frequentadores por sessão pública, buscando realizar mais palestras, no mesmo dia ou em vários outros, para dar oportunidades a todos.


PASSES

2 - Como os médiuns passistas poderão atender à tarefa, em face da proximidade com o paciente, considerando ainda que numa sala de passes atuam geralmente muitos passistas?

Eurípedes – Cadeiras espaçadas entre atendidos, que deverão adentrar, um por vez; o mesmo quando terminar o atendimento. Passistas e atendidos usando máscara e, quanto ao passista, melhor se for aquela maior, da testa ao queixo. Importante relembrar e recomendar aos passistas: não tocar nos atendidos.

Gebaldo - Aplicar passes coletivos, como realizado nas grandes Casas Espíritas (FEB; Mansão do Caminho, etc.).

Perri - Os passes devem ser entendidos como doação de energias, de sentimentos e de boas vibrações. Não há necessidade do contato físico. A imposição de mãos com certa distância é mais do que suficiente. Em alguns momentos já não se aplicavam os passes coletivos? É também uma opção. O importante é que onde há salas de passes deve-se obedecer às orientações para maior distância com as pessoas atendidas, entre elas e também entre os passistas. Que se verifique também a possibilidade de adoção da orientação sanitária de utilização de máscaras.


GRUPOS DE ESTUDO

3 - As reuniões de estudo são geralmente realizadas em salas pequenas. Há Centros Espíritas em que, no dia de realização do ESDE, as turmas são numerosas e todas as salas ficam tomadas. Como atender à recomendação relativa ao distanciamento entre as pessoas?

Gebaldo - A solução é limitar o número de participantes, realizando os estudos em mais de um horário ou em vários dias da semana, para não se excluir ninguém.

Perri - Inquestionavelmente haverá necessidade de revisão dessas condições. Não podemos prever em que condições retornaremos às atividades após se superar a fase da pandemia. Poderão permanecer alguns cuidados e por um período que, no momento, não se pode aquilatar. Estamos vivendo uma época em que fomos forçados a reuniões virtuais: de estudo, de vibrações, de palestras. Provavelmente deveremos nos preparar para aperfeiçoarmos essas opções e realizarmos reuniões de estudo também com transmissão ao vivo e com interatividade. E, sem dúvida, nos adaptarmos às condições adequadas de pessoas presentes em cada sala. Tudo indica que viveremos novas realidades após se superar a fase crítica da pandemia. Com certeza ainda permanecerão muitos cuidados preventivos.

Eurípedes - Cuidar da entrada e da saída dos participantes do estudo e observar o mesmo procedimento que mencionamos com relação aos “passes”; se necessário, intercalar horários ou dias dos estudos.


SESSÕES MEDIÚNICAS

4 - Nas sessões privativas, além do ajuntamento de várias pessoas em uma pequena sala, existe uma aproximação acentuada entre os esclarecedores e os médiuns psicofônicos. Como agir?

Perri - As mesmas situações que já apontamos nas outras questões: readequação de número de pessoas presentes na(s) sala(s); provavelmente permanecerá a recomendação de uso de máscara e isso será uma dificuldade ou nova necessidade de adaptações, mas há tipos de máscaras que não dificultam a movimentação da boca; manter-se distância entre os médiuns e entre estes e os esclarecedores. Se houver necessidade de aplicação de passe, são as mesmas condições que expusemos acima, imposição de mãos e com distanciamento.

Eurípedes - Tratando-se de sala pequena, a reunião mediúnica só será possível se houver espaçamento entre os participantes, além das recomendações gerais de higiene. O grupo mediúnico não deverá ser menor do que seis participantes, nem maior que quatorze. Doutrinadores e médiuns psicofônicos devem usar máscara, se possível aquela transparente, de proteção da testa ao queixo.

Gebaldo - Sugerimos que as sessões sejam realizadas em salas maiores. Se necessário, utilizar o mesmo local que é destinado às reuniões públicas, distribuindo os médiuns pelo salão, com a distância de pelo menos dois metros uns dos outros. Esclarecer as Entidades comunicantes com o distanciamento adequado. Aplicar passes coletivos, ao final.


EVANGELIZAÇÃO INFANTIL

5 - A dificuldade apontada no tocante aos grupos de estudo aparece também nas salas de evangelização infantil, que ficam repletas de crianças. Qual a solução?

Eurípedes - Não há outro jeito: pensamos que é necessário dividir o grupo de crianças, para que o distanciamento seja mantido, adotando-se no caso as recomendações gerais a que já nos referimos.

Gebaldo - Limitar o número de participantes, procurando realizar a evangelização em mais de um horário ou em vários dias da semana, para dar oportunidades a todas elas.

Perri - Trata-se de questão delicada, pois as autoridades médicas têm alertado para o fato de que muitas vezes as crianças são portadoras assintomáticas do vírus, mas são transmissoras. Além das questões dos espaços e distanciamentos já registrados, deve-se pensar na possibilidade de os evangelizadores serem selecionados entre pessoas que não estejam no chamado “grupo de risco”. Talvez deva ser levado a sério o detalhe legal: os pais são responsáveis pelos filhos. Nas escolas formais isso já é realidade. Em alguns países, além das escolas formais, os pais assinam documento para permitir que os filhos assistam ao ensino religioso nas diferentes agremiações. Deve existir um diálogo entre dirigentes de centros, evangelizadores e pais das crianças.


ASSISTÊNCIA SOCIAL

6 - Além da distribuição de gêneros alimentícios, em muitas Casas Espíritas a assistência prestada às famílias carentes inclui também o fornecimento de lanche, café, sucos ou algo semelhante, tal como ocorre geralmente numa lanchonete. Como proceder?

Gebaldo - Usar embalagens, para que o consumo seja feito nos lares das pessoas assistidas. Eventualmente, abolir o café ou os sucos, caso não seja possível fornecê-los em recipientes próprios.

Eurípedes - Nesse caso, como as famílias já devem estar cadastradas, o atendimento deve ser feito a determinado número de pessoas, em horários ou dias agendados. Em todos os casos, observar as recomendações gerais.

Perri - Creio que devam ser obedecidos os requisitos sanitários semelhantes aos mais recentemente exigidos para lanchonetes e bares. Ou seja, na assistência em instituições espíritas onde são oferecidos lanches e refeições, devem ser adotados os mesmos cuidados de prevenção: os colaboradores, com máscara e em algumas situações com luvas, distanciamento entre os assistidos e destes com os colaboradores, higienização específica de mesas entre cada atendimento, higienização rigorosa com talheres e pratos utilizados nos lanches e refeições, higienização rigorosa nos ambientes da cozinha e dos banheiros disponibilizados para os atendidos. E neste caso utilizando-se produtos de limpeza recomendados por equipes sanitárias.


OBSERVAÇÃO

No Estado do Paraná, a Secretaria da Saúde publicou no dia 21 de maio uma resolução que estabelece as condições necessárias para que as entidades religiosas voltem a receber público. Segundo a resolução, as entidades religiosas precisam seguir um protocolo com 34 artigos.

Entre as medidas a serem observadas, as entidades religiosas precisam respeitar as orientações para preservação do afastamento físico entre as pessoas e o espaço destinado ao público deve ter a ocupação máxima limitada a 30%, observando-se o afastamento mínimo de dois metros entre as pessoas.

Quanto às pessoas de idade acima de 60 anos e as que integram o grupo de risco - hipertensos, diabéticos, gestantes e outros – a recomendação das autoridades é que elas devam permanecer em casa, acompanhando as celebrações por meios eletrônicos.

*Nós do LEAE não incentivamos a abertura dos centros religiosos, não repudiamos a decisão de aguardar, apenas seguimos as orientações dos profissionais da saúde.

Por Thiago Bernardes para o site de O Consolador com modificações da Equipe de Comunicação do LEAE