Perante qualquer informação que nos chegue, independentemente da via de comunicação utilizada (conversa, leitura, audição etc.) é de fundamental importância refletir se o conteúdo da mensagem apresenta os critérios da verdade, da bondade e da utilidade.
Acredita-se que foi o filósofo grego Sócrates (Atenas, 469 a.C/.Atenas, 399 a.C) que teria estabelecido como princípio ético esses três critérios de análise de uma mensagem ou informação, antes de divulgá-la. É metodologia ética porque, como tal, ética (do grego, ethikos) significa dizer “bom costume”, que pode ser exercitado continuamente desde que submenta ações morais ao controle da razão.
Trata-se de uma forma exemplar de desenvolver a arte de viver e de conviver, que oferece condições propícias ao indivíduo de definir, para si, um estilo de vida, privado e público, necessário à manutenção do bom relacionamento interpessoal. Então vejamos:
— A verdade: em bom português, significa estar de conformidade com os fatos ou a realidade.1 Para a Filosofia, a verdade deve ter “validade ou eficácia dos procedimentos cognoscitivos.”2 (Cognoscitivos=que tem a faculdade de conhecer, hábil no aprendizado, capacitado para aprender)
— A Bondade: é a qualidade moral dos que tem a alma nobre e generosa, como conceitua o dicionário, os preceitos filosóficos e religiosos.
—Utilidade: palavra que descreve tudo o que serve de meio ou instrumento para um fim qualquer que, por extensão, indica aquilo que atende às necessidades e satisfações humanas, mantendo-se o homem integrado no meio social onde se encontra inserido.3
Emmanuel destaca que no processo de convivência humana é imprescindível desenvolvamos a capacidade de cooperação, que assim se exprime:
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Ante tais considerações, inserimos, em seguida, uma belíssima e inteligente interpretação dos critérios socráticos, realizada pelo Espírito Irmão X (Humberto de Campos), transmitida por intermédio da mediunidade do saudoso Chico Xavier, a qual se revela como precioso roteiro para a nossa vivência nos dias atuais.
Os Três Crivos
Irmão X
… Certa feita, um homem esbaforido achegou-se a Sócrates e sussurrou-lhe aos ouvidos:
— Escuta, na condição de teu amigo, tenho alguma coisa muito grave para dizer-te, em particular…
— Espera!… ajuntou o sábio prudente. Já passaste o que me vais dizer pelos três crivos?
— Três crivos?! – perguntou o visitante, espantado.
— Sim, meu caro amigo, três crivos. Observemos se tua confidência passou por eles. O primeiro é o crivo da verdade. Guardas absoluta certeza, quanto àquilo que pretendes comunicar?
— Bem, ponderou o interlocutor, assegurar mesmo, não posso… Mas ouvi dizer e… então…
— Exato. Decerto peneiraste o assunto pelo segundo crivo, o da bondade. Ainda que não seja real o que julgas saber, será pelo menos bom o que me queres contar?
Hesitando, o homem replicou:
— Isso não!… Muito pelo contrário…
— Ah! – tornou o sábio – então recorramos ao terceiro crivo: o da utilidade, e notemos o proveito do que tanto te aflige.
— Útil?!… – aduziu o visitante ainda agitado.
— Útil não é…
— Bem – rematou o filósofo num sorriso —, se o que tens a confiar não é verdadeiro, nem bom e nem útil, esqueçamos o problema e não te preocupes com ele, já que nada valem casos sem edificações para nós…
Aí está, meu amigo, a lição de Sócrates, em questões de maledicência…
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Francisco Cândido Xavier. Aulas da Vida. Diversos Espíritos. (Mensagem Os três crivos – Espírito Humberto de Campo/Irmão X). São Bernardo do Campo: GEEM, 1981.
*Texto por Marta Antunes Moura, coordenadora das Comissões Regionais na área da Mediunidade da Federação Espírita Brasileira (FEB), Vice-presidente da FEB.