O título desta publicação nos vela a uma reflexão muito necessária hoje, pois envolve a construção social de uma falsa noção de felicidade.
Por meio da selfie, que é uma nova possibilidade de auto representação gerada pelos smartphones, ao proporcionar à pessoa a chance de tirar fotos de si mesma, o indivíduo é capaz de criar um personagem que vive uma realidade alternativa. Afinal, ninguém, vai saber se aquele sorriso naquele ambiente bonito realmente reflete um estado interior ou se é apenas uma criação mental, teatral mesmo, a depender das reais circunstâncias que se apresentam e que não estão ao alcance de quem vê aquela fotografia.
As mídias sociais têm se mostrado um terreno fértil para a comparação social, especialmente ao que as ciências do comportamento humano nomeiam de “comparação social ascendente.” Nesse tipo de comparação, as pessoas sentem que a vida dos outros são melhores do que as suas. Esse sentimento é reforçado pelo simples fato de as postagens nas redes sociais tenderem a demonstrar os momentos positivos e felizes às pessoas, como frequência bem maior que os momentos difíceis pelos quais todos passamos.
Dificilmente seu cunhado irá postar a louça do fim de semana por lavar e o tédio dos programas dominicais, mas o churrasco com os amigos serão motivos de stories e vários selfies.
Essa enxurrada de fotos e postagens de vidas felizes, desfilando em nossas timelines, leva-nos, a um sentimento de impotência e de vida sem graça. Nossa vida fica monótona e pobre, em todos os sentidos, comparando-se com as demais postagens nas redes sociais.
Essa sensação é mais cruel naquelas pessoas que se comparam com mais frequência, pois são mais suscetíveis a sofrer os efeitos provocados por publicações de excessiva felicidade, o que causa uma onde de inveja, gerando mais angústia, pois você começa a invejar pessoas que você gosta, e esse sentimento leva culpa ou a relações falsas a comentários sarcásticos.
Ao se apegar aos modelos que o mundo considera como os mais adequados para se encontrar a felicidade, você apenas está condicionando este estado de espírito a fórmulas que podem até ser consagradas, mas que, na verdade, não correspondem a uma experiência verdadeira.
Conectar-se a quem está próximo e de forma leve e simples tem se revelado algo muito salutar na vida das pessoas. Desconectar-se do virtual para conectar-se ao real.
Atualmente, muitas pesquisas na área neurológica e do comportamento humano, mostram, por exemplo, que uma noite em uma mesa tomando café e comendo tapioca, na companhia de amigos que você gosta muito, gera uma compensação psicológica e emocional maior do que comprar um carro novo.
Sabe, por quê? Porque nunca são as coisas que nos deixam mais ou menos felizes. Sempre são pessoas. Quando ouvimos falar em mágoa, tem a ver com pessoas. O mesmo se dá com o perdão e o ressentimento. No entanto, a sociedade precisa nos dizer que a felicidade corresponde àquilo que nós construímos ou podemos comprar.
Fica cada vez mais fica evidente que os relacionamentos afetivos (amigos e parentes) são o que temos de mais valioso. Eles são um elemento crucial na proteção da nossa saúde mental. O apoio emocional é apenas uma das muitas contribuições que as relações afetivas (amigos e familiares) têm em nossa vida, e são promotoras de saúde. Mas, em se tratando de nossos dias, as pessoas estão com poucos ou nenhum amigo e distantes de seus parentes.
Pode parecer contraditório que isso ocorra em plana época das redes sociais e conectividade digital. Mas, na vida humana, apesar dos muitos seguidores em nossas redes sociais, eles contam muito pouco ou quase nada, quando se trata d sua saúde e felicidade.
Portanto, faça o seguinte, troque cinquenta amigos virtuais por um amigo real. Troque o grupo de WhatsApp da família pela visita semanal a um parente. Troque duzentas visualizações de pessoas felizes em selfies pela visão do sorriso de alguém que te quer bem e recebe sua visita, e você verá como sua vida terá mais felicidade e mais sentido.
Rossandro Klinjey – cap. 11 – Livro Eu escolho ser Feliz, postado no Blog Espiritismo na Rede, com modificações da Equipe de Comunicação do LEAE