quarta-feira, 15 de julho de 2015

Polemica Obra de Chico Xavier completa 83 anos

O livro Parnaso de Além Túmulo revolucionou
a literatura mediunica
O ano de 1932 é reconhecidamente marcado pela Revolução Constitucionalista, fato inclusive comemorado com feriado em todo o estado de São Paulo. O que muita gente não sabe é que este foi também um ano marcado por um fato que mudou a história da literatura religiosa no país. Aconteceu em Julho de 1932 o lançamento da obra Parnaso de Além Tumulo, trata-se de uma antologia de poemas cuja autoria é atribuída a poetas desencarnados. 

A obra marca o início do até então desconhecido médium Francisco Candido Xavier, hoje consagrado como coautor de centenas de obras psicografadas. A obra traz sessenta poemas assinados por poetas brasileiros, portugueses e um anônimo. Edições posteriores até a 6ª,  foram acrescidas de novos autores e novos poemas, totalizando cinquenta e seis autores om duzentos e cinquenta e nove poemas. Se aquilo era uma novidade para muita gente no Brasil o mesmo não podia ser classificado como novidade, um médium português, Fernando de Lacerda já havia publicado a obra Do País da Luz, também psicografada.

Aqui como em Portugal, a obra causou muita polemica. Membros da Academia Brasileira de Letras, críticos literários, médicos, muita gente deu sua opinião sobre a obra.  As opiniões variavam do absoluto ceticismo à defesa da existência da comunicação entre os mundos material e espiritual. Listamos algumas opiniões tanto pró como contra à publicação.

O jornalista Manuel Quintão, prefaciando o livro, analisou: "Romantismo, Condoreirismo, Parnasianismo, Simbolismo, aí se ostentam em louçanias de sons e de cores, para afirmar não mais subjetiva, mas objetivamente, a sobrevivência de seus intérpretes. É ler Casimiro e reviver 'Primaveras'; é recitar Castro Alves e sentir 'Espumas Flutuantes'; é declamar Junqueiro e lembrar a 'Morte de D. João'; é frasear Augusto dos Anjos e evocar 'Eu'."


O escritor Humberto de Campos, escreveu para o Jornal Diário Carioca: "Eu faltaria, entretanto, ao dever que me é imposto pela consciência, se não confessasse que, fazendo versos pelas penas do Sr. Francisco Cândido Xavier, os poetas de que ele é intérprete apresentam as mesmas características de inspiração e de expressão que os identificavam neste planeta. Os temas abordados são os que os preocuparam em vida. O gosto é o mesmo e o verso obedece, ordinariamente, à mesma pauta musical. Frouxo e ingênuo em Casimiro de Abreu, largo e sonoro em Castro Alves, sarcástico e variado em Junqueiro, fúnebre e grave em Antero, filosófico e profundo em Augusto dos Anjos."

O escritor Zeferino Brasil escreveu numa crônica pública no jornal Correio do Povo: "Seja como for, o que é certo é que – ou as poesias em apreço são de fato dos autores citados e foram transmitidas do além ao médium que as psicografou, ou o Sr. Francisco Cândido Xavier é um poeta extraordinário, genial mesmo, capaz de produzir e imitar, assombrosamente, os maiores gênios da poesia universal...

O escritor Menotti del Picchia comentou: "Deve haver algo de divindade no fenômeno Francisco Cândido Xavier, o qual, sozinho, vale por toda uma literatura. É que o milagre de ressuscitar espiritualmente os mortos pela vivência psicográfica de inéditos poemas é prodígio que somente pode acontecer na faixa do sobre-humano. Um psico-fisiologista veria nele um monstruoso computador imantado por múltiplas memórias. Um computador de almas e de estilos. O computador, porém, memoriza apenas o já feito. A fria mecânica não possui o dom criativo. Este dimana de Deus. Francisco Cândido Xavier usa a centelha divina imanente em nós[...]

O escritor Monteiro Lobato disse: "Se Chico Xavier produziu tudo aquilo por conta própria, então ele merece ocupar quantas cadeiras quiser na Academia Brasileira de Letras

Negativas - Agripino Grieco escreveu para Diário da Noite: "Os livros póstumos, ou pretensamente póstumos, nada acrescentam à glória de Humberto de Campos, sendo mesmo bastante inferiores aos escritos em vida. Interessante: de todos os livros que conheço como sendo psicografados, escritos por intermédio de um médium, nenhum se equipara aos produzidos pelo escritor em vida."
João Dornas Filho, a respeito de Olavo Bilac: "Esse homem que em vida nunca assinou um verso imperfeito, depois de morto teria ditado ao Sr. Xavier sonetos interinos abaixo de medíocres, cheios de versos mal medidos, mal rimados e, sobretudo, numa língua que Bilac absolutamente não escrevia!"

O jornalista Osório Borba escreveu: "Levo anos e anos pesquisando. Catei inúmeros defeitos de várias espécies, essenciais ou de forma. A conclusão de minha perícia é totalmente negativa. Aqueles escritos 'mediúnicos', por quem quer que conheça alguma coisa de poesia ou literatura, não podem ser tidos como de autoria dos grandes poetas e escritores a quem são atribuídos. Autores de linguagem impecável em vida aparecem 'assinando' coisas imperfeitíssimas como linguagem e técnica poética. Os poetas 'desencarnados' se repetem e se parodiam, a todo o momento, nos trabalhos que lhes atribuem 'mediunicamente'.

Leo Gilson Ribeiro para a revista Realidade: “Uma coisa é clara: quando o ‘espírito’ sobe, sua qualidade desce. É inconcebível que grandes criadores de nossa língua, depois da morte fiquem por aí gargarejando o tatibitate espírita”.

No programa Pinga-Fogo, o jornalista João de Scantimburgo objetou a Chico Xavier: “Eu insisto que sua escrita automática deve ser um produto mais do inconsciente do senhor, do que de mediunidade. Na França foi publicada uma coleção de livros com o título genérico ‘A maneira de...’ em que algumas pessoas fazem a imitação de vários autores. Se o senhor ler, não distinguirá ainda que tenha profundo conhecimento do estilo do autor imitado. E trata-se de uma imitação consciente. O senhor não imita autores dirigidos pelo inconsciente?" / Ora, quando se trata de conteúdo... Insistiu o jornalista citado: “Além de jornalismo, eu também tenho a carreira de Filosofia. E não foram psicografados conteúdos tão complexos como a obra (à maneira de) Platão, a de Aristóteles, a de Santo Agostinho, a de Santo Tomás de Aquino, a de Descartes, a de Kant, e a de outros filósofos e pensadores. Não seria por causa da dificuldade de psicografar essas obras?”

*Texto extraído do site do Jornal de Uberada