Quando o professor Hippolyte Léon Denizard Rivail propôs-se a estudar os fenômenos das mesas girantes e que mais tarde dariam corpo à Doutrina Espírita, ele teve uma característica das mais interessantes e necessárias ao bom andamento das coisas no mundo contemporâneo.
O futuro senhor Allan Kardec teve “ouvidos que compreendem”. Você poderá questionar: Mas o que são ouvidos que compreendem? Antes de explicar falo sobre o outro tipo de ouvido: o ouvido que julga. O ouvido que julga certamente não compreende. Esse ouvido já tem a sua opinião formada e geralmente bate o martelo afirmando: Culpado! Culpado! Culpado!
Esse ouvido que julga está presente nos casamentos, nas escolas, nas religiões...
Esse ouvido que julga está presente nos oradores, nos ouvintes, enfim...
O ouvido que julga está por aí, procurando, buscando, tentando achar um culpado! Kardec, entretanto, preferiu utilizar o ouvido que compreende. O ouvido que compreende é o inverso do ouvido que julga. Ele também está presente nos casamentos, escolas, religiões... Em suma, o ouvido que compreende conecta-se ao seu interlocutor. Não quer culpado, não quer julgar, sua intenção é apenas ouvir para então depois refletir, mas só depois de ouvir... E foi isso que fez Kardec, ouviu a mensagem dos Espíritos. Ouviu e analisou, sem preconceitos, sem julgamentos, sem discriminações. E a mensagem fazia sentido, tinha lógica, cabimento. Como obedecia a sua razão o notável professor francês a aceitou. Mas primeiro ouviu atentamente! Certamente se Kardec julgasse antes de ouvir não codificaria a Doutrina Espírita.
Observemos que essa capacidade desenvolvida por Kardec – ouvidos que compreendem – é o grande diferencial para as pessoas de sucesso no século XXI. E falamos aqui de sucesso espiritual. Da vitória que conseguimos sobre nós mesmos. Ouvir as pessoas, mas ouvir verdadeiramente não é bom apenas para elas, mas também para nós. Quem ouve de fato o semelhante pode nas narrativas e histórias encontrar alternativas para superar os seus próprios desafios.
Num mundo barulhento saber ouvir é essencial. Calar o ruído interior que teima em julgar é fundamental! Para sairmos desse mundo surdo, para nos despirmos desse ouvido que julga, vale a pena estudar o Espiritismo e procurar nas entrelinhas os predicados tão importantes que aquele professor do século XIX reunia.
Kardec foi, indubitavelmente, um ouvido que compreende. Tomemos, pois, como lição a ser feita o desenvolvimento dessa característica tão importante e que foi a marca registrada do codificador do Espiritismo.
*Texto extraído do site da revista O Clarim, postado por Wellington Balbo.