quarta-feira, 1 de agosto de 2012

A queixa

Você costuma se queixar?

Poucas coisas são tão desagradáveis quanto a queixa sistemática, mas a pessoa queixosa perturba muito mais a si mesma do que às outras que a cercam.

Deve-se reconhecer que a vida é difícil, que a luta diária pela sobrevivência requer muito esforço e esse esforço redunda, não poucas vezes, insuficiente para vencer todos os compromissos que a sociedade impõe. Entretanto, essa é a situação de mais da metade do povo brasileiro. O queixoso não se dá conta disso, e julga-se o único atingido pelas vicissitudes da existência.


Conta-se que uma senhora adentrou desesperada numa sociedade espírita. Imediatamente foi atendida naquilo que chamamos Diálogo Fraterno. Em particular, ela recebeu a atenção de um senhor muito prestativo e sorridente.

Relatou-lhe, então, a razão de sua angústia, entremeando a narrativa com lágrimas muito sentidas. O senhor não imagina o meu sofrimento. Acontece que, há vinte anos, o meu marido me deu um anel de brilhantes como presente de aniversário. Isso foi bem antes de ele morrer e me deixar viúva. Continue, encorajou-a o homem, interessado. Pois veja o senhor meu sofrimento: nesta manhã, dei-me conta que o anel havia sumido... O senhor não é capaz de imaginar o tamanho da minha dor. Será que vocês, aqui no Centro Espírita, não podiam localizar meu anel? É a única recordação que tinha da minha felicidade com meu marido!

Revelando compaixão e serenidade, o homem atencioso esclareceu-a, explicando que os centros espíritas não se prestavam a tais serviços. Mas que ela deveria confiar na bondade de Deus, pois, talvez, antes do que pudesse acreditar, teria a alegria de encontrar o anel, caído em algum canto da casa. A seguir, falou-lhe da beleza da vida e das lembranças emotivas que deveria guardar, com otimismo, em relação ao marido que, apesar de morto para a realidade física, prosseguia vivendo no mundo invisível. A mulher, finalmente, se acalmou.

Somente na despedida, quando foi agradecer pela atenção recebida, é que ela pôde perceber que o homem que a tranquilizara pela perda de um anel não tinha os dois braços.

* * *

De modo algum podemos cerrar os olhos para as verdades dolorosas da existência, contudo, essas dores se tornam muito mais amenas quando paramos para pensar e socorrer aqueles que suportam pesos ainda maiores do que os nossos.
Assim, espanquemos a nuvem da queixa com os instrumentos de segurança plena, e apaguemos a fogueira da impulsividade que nos impele aos atos impensados, afastando-nos dos deveres para com a vida.

A queixa pode ser comparada a um ácido perigoso que sempre produz dano. Antes de nos lamuriarmos, olhemos para trás e contemplemos os que estão na retaguarda.

*Texto extraído do blog Espiritismo na Rede