Grupo reúne pessoas que perderam parentes e
lutam para transformar cicatrizes em boas lembranças
Foto de Guilherme
Silveira/DC Rosinéia Guimarães viu os dois filhos morrerem atropelados na porta de sua casa em Poconé |
Alecy Alves - Da Reportagem Diário de CuiabáA dor da perda de um filho, descrita como a maior
por aqueles que a vivenciam (dizem que nunca passa), pode ser amenizada quando
se percebe que não é o único a senti-la. Que tão quanto infinita para ti é para
o próximo. Compartilhá-la em grupo, com pessoas que passam pelo mesmo
sofrimento, funcionaria como um bálsamo capaz de juntar os pedaços do coração
partido e transformar as cicatrizes em boas lembranças. Ou ainda, dentro da
doutrina espírita, permitir contatos extraterrenos que levariam à compreensão da
morte e a certeza de que o filho estaria bem, mesmo em outra dimensão e fora do
monitoramento verbal e visual dos pais.
Mas será esse alento seria mesmo possível? As famílias que experimentam a convivência e discussões em um grupo cuiabano, criado a partir da dor de uma família, garantem que sim.
A empresária Rosinéia Guimarães, 39 anos, que há quase cinco anos viu os dois únicos filhos, Katherine, 20 anos, e Diego, 14, morrerem atropelados na porta de sua casa, em Poconé, é apontada como o maior exemplo de aceitação e compreensão da perda.
Seis dias após a tragédia, no momento de maior desespero e revolta, quando pedia para morrer, conta, recebeu de presente um livro intitulado “Meu Filho Está Vivo!...”, escrito por Nara Nardez, relatando a dor, saudade e apresentando mensagens psicografadas do filho, Marcos Nardez, que também morreu em acidente – de moto.
Rosinéia abandonou a casa e a empresa, uma loja de materiais de construção, e estava entregue a dor. A única coisa que conseguiu fazer na primeira semana pós-morte dos filhos foi ler o livro. “Se o filho dela está vivo os meus também podem estar, pensei”.
A partir daí, diz, passou a freqüentar o grupo de ajuda, liderado pelo casal Nara Nardez e José Carlos Castro Branco(médico), e a buscar respostas para a trágica morte dos filhos até em eventos espíritas fora do estado.
Hoje, com dezenas de mensagem psicografadas dos filhos, Rosinéia avalia que não teria sobrevivido se não fosse o conforto das mensagens psicografadas e o apoio recebido de outras mães do grupo, que também enfrentam perdas.
Depois de recuperar o amor à vida e voltar a uma rotina normal, trabalhar e fazer faculdade, a mãe acredita que ocorrências anteriores à tragédia explicariam os porquês que a atormentavam. Conforme Rosinéia, uma redação escolar do filho Diego, encontrada quatro meses após a morte dele e da irmã, no dia do aniversário dela, seria o sinal de que ele estaria partindo da vida terrena.
“Mãe, sei que essa não é a melhor forma de nos despedirmos, deveria ser frente a frente... Sei que quando receber essa carta sofrerá e indagará o porquê da minha partida...”, são frases do texto do garoto.
A carta estava na mochila dele, que Rosineía remexeu num momento de dor e saudade, logo depois arrumar a mesa do café da manhã especial para os três, preparado como se fossem celebrar o aniversário dela, como costumavam fazer.
Outra passagem, diz, foi em um seminário espírita em São Paulo, do qual participavam mais de 600 pessoas e onde não conhecia ninguém. Lá, o médium Edvaldo Franco, que liderava o evento, mesmo sem nunca terem se visto, repassou uma mensagem dos filhos dela. “Fui procurada no quarto do hotel, onde estava descansando, por que havia uma mensagem sobre meus filhos”, conta.
Doutrina
espírita ajuda mãesMaria de Fátima Soares, que há seis meses perdeu o
filho, Victor Soares Oliveira, 16 anos, em um acidente de carro, é nova no grupo
Evangelho das Mães. Foi a segunda reunião em que ela participou, esta última na
companhia do filho Matheus, de 20 anos.
Além de conforto, nos encontros percebe que estava enganada pensando que sua dor era maior. Há pessoas, citando Rosinéia Guimarães, que perderam os dois únicos filhos, que sofreram perdas maiores. “Imagine, os dois filhos?”, indaga.
Maria de Fátima diz que não imagina o filho morto, sempre sente ele vivo e presente na família. Isto, diz, ocorre porque apreendeu com as outras mães que o ser humano não acaba quando é tirado da família, levado da terra.
Conforme a mãe de Victor, a sensação de que o filho vivo, ao contrário do que muitos podem pensar, não há faz sofrer. “Sinto isso com alegria”, completa.
Dona Evanildes Maria Dias Ferreira, 62 anos, Giginha, como é conhecida, conta que estava louca, revoltada e culpando o mundo pela morte da filha, Maryelle Cristina Ost, de 19 anos. Não entendia porque sua filha, uma jovem saudável, como tantos planos, morreria de choque anafilático em um exame rotineiro.
A resposta, segundo ela, veio do contato com a doutrina espírita, e das conversas e o afago das mães do grupo. E, principalmente, das mensagens espíritas que recebe da filha.
Questionada sobre como saberia que as psicografias são da filha para ela, Giginha diz que identifica os recados pelas datas e palavras. “Ela sempre envia algo em dias especiais, os aniversários da família, meu, dela, porque sabe que eu ficaria triste na ocasião”, explica.
Ela também apreendeu que sua filha “era uma completista”, alguém que nasce para fazer algo que ficou incompleto e precisa retornar assim que conclui a tarefa. No caso dela, 19 anos seria o tempo dedicado a esta missão na terra. (AA)
Além de conforto, nos encontros percebe que estava enganada pensando que sua dor era maior. Há pessoas, citando Rosinéia Guimarães, que perderam os dois únicos filhos, que sofreram perdas maiores. “Imagine, os dois filhos?”, indaga.
Maria de Fátima diz que não imagina o filho morto, sempre sente ele vivo e presente na família. Isto, diz, ocorre porque apreendeu com as outras mães que o ser humano não acaba quando é tirado da família, levado da terra.
Conforme a mãe de Victor, a sensação de que o filho vivo, ao contrário do que muitos podem pensar, não há faz sofrer. “Sinto isso com alegria”, completa.
Dona Evanildes Maria Dias Ferreira, 62 anos, Giginha, como é conhecida, conta que estava louca, revoltada e culpando o mundo pela morte da filha, Maryelle Cristina Ost, de 19 anos. Não entendia porque sua filha, uma jovem saudável, como tantos planos, morreria de choque anafilático em um exame rotineiro.
A resposta, segundo ela, veio do contato com a doutrina espírita, e das conversas e o afago das mães do grupo. E, principalmente, das mensagens espíritas que recebe da filha.
Questionada sobre como saberia que as psicografias são da filha para ela, Giginha diz que identifica os recados pelas datas e palavras. “Ela sempre envia algo em dias especiais, os aniversários da família, meu, dela, porque sabe que eu ficaria triste na ocasião”, explica.
Ela também apreendeu que sua filha “era uma completista”, alguém que nasce para fazer algo que ficou incompleto e precisa retornar assim que conclui a tarefa. No caso dela, 19 anos seria o tempo dedicado a esta missão na terra. (AA)
*Notícia extraída do site do jornal Diário de Cuiabá