A doutrina Espírita tem sido tema recorrente de filmes e novelas no Brasil. O centenário de Chico Xavier e o trabalho dos difusores da doutrina é que tem possibilitado tamanha divulgação. Presidente do Centro Espírita Amor e Caridade, de Bauru, e autor de 49 livros espíritas, Richard Simonetti é um dos principais difusores da doutrina espírita no Brasil. Leia abaixo entrevista concedida a Agência Bom Dia.
De que forma o espiritismo responde as questões existenciais de quem está iniciando na doutrina?
O Espiritismo é muito procurado por pessoas que estão em situações difíceis, envolvendo morte. Por isso é chamado de consolador, porque permite que nós entremos em contato com aqueles que já partiram. Além disso, o Espiritismo é uma orientação de vida, que nos mostra de onde viemos, porque estamos na terra e para onde vamos.
Como o senhor vê a exploração do Espiritismo pela mídia?
Com as comemorações em torno do centenário de Chico Xavier, que é uma pessoa muito popular no Brasil e que tem uma obra extensa, houve um “boom” na procura e na divulgação da doutrina. Filmes, novelas, livros estão difundindo o espiritismo e a vida e obra de Chico. Mas, como diria o Kardec, “o Espiritismo não será a religião do futuro, será o futuro das religiões”. O Espiritismo explica muitas coisas que são enunciadas por outras religiões.
É só devido ao centenário de Chico Xavier que está havendo esse “boom”?
O grande problema do Espiritismo é a divulgação. Nós não temos ainda uma estrutura para fazer a divulgação da doutrina. As pessoas que criticam não conhecem e me entristece muito certas divulgações equivocadas. A mídia coloca informações falhas e não estuda a doutrina para falar a verdade das coisas. Então, a gente percebe que o Chico tem uma participação grande e positiva na divulgação do tema.
Os Clubes de Leitura Espírita são importantes na divulgação do Espiritismo?
É um trabalho muito importante. Nós temos milhares de clubes espalhados pelo Brasil. Como o número de associados é grande, o clube consegue comprar um livro de R$ 30 por R$ 7 e vender ao associado por R$ 15. Dá lucro para editora, para o clube e para os associados.
Como o senhor avalia os movimentos sociais do Espiritismo?
O Espiritismo diz que o elemento gerador de todos os males é o egoísmo e, para eliminar o egoísmo, nós devemos praticar a caridade. Então, todo espírita consciente participa de obras sociais.
Como o senhor avalia o crescimento das religiões baseadas em grandes templos e a religião vista como entretenimento?
Infelizmente, esses são os caminhos da atualidade. Algumas igrejas são muito voltadas para a superficialidade. Não há a intenção de praticar o bem. Mas isso é uma fase. A religião propõe que nós nos reformemos.
O Chico foi a reencarnação do Alan Kardec?
Quando Kardec estava terminando sua missão ele foi avisado pelos mentores espirituais de que não conseguiria finalizar tudo. Antes de reencarnar, ele calculou que voltaria para a Terra no início do século vinte, que foi quando Chico nasceu. No meio espírita, tem aqueles que acham que ele é a reencarnação de Kardec e os que acham que não. Quando as coisas deixarem de ser tão passionais, nós poderemos saber através dos mentores espirituais.
A que podemos atribuir a crescente onda de violência que vemos?
Vários fatores atuam aí. O primeiro deles é a miséria. Depois, vem o problema do crescimento da população, que torna a situação mais difícil para os mais carentes e o fenômeno das drogas, que é um grande estímulo à violência. Quanto às explicações espirituais, nós vivemos em meio a espíritos que não tem censo moral e que aqui estão tendo uma oportunidade de evoluir. O espirito sem senso mata um ser humano como se fosse nada. E nós temos que conviver com isso por questões deixadas no nosso passado histórico.
Dentre os seus 49 livros você está promovendo o espiritismo?
A ideia dos livros é divulgar o Espiritismo. Nós temos uma certa dificuldade em ganhar as livrarias leigas, porque para conseguir colocar os livros em uma grande livraria é muito caro e nós não temos dinheiro para isso.
Então, infelizmente a divulgação de livros depende de muito dinheiro e das editoras. Apesar de todas essas dificuldades, eu tenho mais de 2 milhões de livros vendidos, o que é uma quantidade boa, e quanto mais nós vendemos, mais estamos divulgando a doutrina e ajudando o centro. Eu não fico com um real do que eu ganho com os livros.
Admitindo a reencarnação como processo evolutivo eu acho que nós regredimos, porque nas gerações passadas a violência não era como é hoje. O que o senhor acha?
Eu diria que a violência das gerações passadas, como, por exemplo, na época de Jesus Cristo, não era muito diferente do que temos hoje. Nós atingimos o progresso. Se avaliarmos a sociedade como um todo, nós evoluimos. Hoje, pelo menos, não temos o aplauso para o mal. Com os romanos, a sociedade ria enquanto o homem era devorado por uma fera. A violência hoje não é maior do que nas gerações passadas, a Idade Média também é um outro exemplo disso. O que acontece é que hoje os acontecimentos são mais divulgados. Nós ficamos sabendo muito rápido da violência que existe no mundo todo.
*Entrevista extraída do site Partida e Chegada.