Estar com alguém que valha a pena, andar de mãos dadas, abraçados, encostar a cabeça no colo, no peito, sentir o silêncio sem ter a obrigação de preenchê-lo com as nossas palavras.
Alguém que me ajude a encontrar o caminho de casa, que não se incomode com o meu silêncio interior. Que goste de assistir um filme daqueles que a maioria não gosta, não entende e que ambos se emocionem e consigam dialogar por um tempo e às vezes até dias sobre o conteúdo profundo do filme visto.
Ah!!! Isso não tem preço, não tem silicone, peitos amostra, bundas, coxas, botox ou infinitos procedimentos que só visam retocar a casca, que alcancem em profundidade a convivência com uma pessoa que julgamos especial. Ainda não encontramos disponível para comercializar no mercado: a Gentileza, a Sensibilidade, a Elegância da simplicidade, a perspicácia dos sinais que o outro nos transmite sem movimentar os lábios, a cumplicidade do dia a dia, o cuidado com as palavras, o respeito com os valores e princípios do ser amado.
Percebo que vivemos infinitos papéis ocupando uma Personalidade, percebo que com a pessoa que Amo me atrevo a ser: educador, consultor, advogado, terapeuta, irmão, amigo, pai, parceiro, filho, amante…
Essa certeza de que não estou só, de que alguém se ocupa e se preocupa comigo, vibra pelo meu êxito, chora com o meu choro, ri o meu riso. Um encontro de Almas afins, almas gêmeas não, mas almas que, se for preciso, gemem juntas. Almas que buscam no poder do diálogo a resolução dos conflitos afetivos, onde a MATURIDADE EMOCIONAL IMPERA, porque chegamos a um nível de compreensão em que não somos adversários, somos um casal que deseja construir uma vida a dois, permeados pela paz, pela compreensão, pela amizade e pelo respeito.
Hoje me perguntaram sobre o que eu penso sobre a Traição. Penso que vivemos numa cultura machista, que qualifica o homem como o Garanhão com um atestado de virilidade. Acredito que uma pessoa que opta por essa atitude ainda não se encontrou, é infeliz, em primeiro lugar consigo mesmo, e, em conseqüência, faz escolhas amorosas infelizes. Quem se AMA se valoriza, não perde tempo em relações “meia boca”, falidas, vazias e infrutíferas. Quem se ama busca inteireza, está 100% na relação. E se eventualmente essa relação não mais corresponde, não mede esforços para buscar a qualidade de vida a dois, pois assim como se dedica a buscar excelência na vida profissional também o faz em outras esferas.
Trair é Trair-se, mentir para si mesmo, auto-engano, fuga, insegurança, receio de enfrentar-se, e de discutir com o outro sobre o que incomoda. A traição aparece como “um momento de lazer” uma nostalgia da minha Lua de mel, ao sabor das ilusões frágeis da “eternidade” do momento vivido.
Geralmente culpamos o nosso parceiro(a) pela nossa traição, afirmando que ele ou ela já não é mais o mesmo, anda frio, sem apetite sexual, mal educado, só fala em crise, vive um eterno conflito, está sempre cansado(a) e estressado(a), tendo a rotina como companheira fiel. Parece que a relação perdeu a graça, o brilho, caímos na mesmice, jogando o relacionamento no piloto automático, onde o Homem perde o status de Homem, sedutor, com todos aqueles atributos que fizeram sua parceira virar do avesso quando o conheceu. Hoje quando ela olha para o ser amado, só vê um Pai, muitas vezes chato, egoísta e autoritário. Do outro lado ele vê uma Mãe megera, desleixada, neurótica… Como sentir atração física e afetiva por alguém com esse perfil?
Como não tive competência para administrar esses conflitos, busco “n” formas e meios de superar esse mal estar, tendo muitas vezes a traição como a Protagonista dessa situação, que pode vir também acompanhada de vícios e envolvimento com drogas lícitas ou não, de trabalho excessivo, de envolvimento filantrópico desmedido às vezes beirando ao fanatismo ou ao workholic, de transtornos mentais e emocionais de leve a severo. Nesse cenário o casal fica reduzido a uma performance de Pai Provedor e Mãe cuidadosa. E o casal? Casal? Que casal? Eles só aparecem como casal em alguns eventos sociais e nas fotos de quando se conheceram.
Deveríamos nos questionar, quando foi que começamos a deixar de nos amar?
Por quê deixamos o nosso relacionamento chegar a esse extremo?
Quando deixamos de acreditar no poder do diálogo, do respeito, da negociação?
Quando deixamos de nos tocar com carinho, paixão, de nos sentir excitados?
Quando deixamos de nos alegrar com a presença do outro, de achar boa a sua ausência?
Quando a voz do outro deixou de ser melodia e passou a ser agonia?
Quando deixou de ser um modelo e passou a ser um pesadelo?
A beleza se transformou em desleixo.
O amor em desafeto.
O diálogo ganhou o status de cobrança, intimidação, coação.
Quando cessou em mim o prazer de tê-la ao meu lado como parceira?
Não sei se é possível datar eventos dessa natureza, acontecem sutilmente, cotidianamente.
Sei que também sou responsável e que, por comodismo, não assumi nenhuma ATITUDE CUIDADORA DESSA RELAÇÃO.
Por preguiça e vergonha, deixei que essa pequena “infiltração” de anos de letargia abalasse o meu alicerce e colocasse a nossa casa em perigo. Então, quando chego a Trair, estou materializando uma Traição que na verdade já ocorreu lá atrás, quando eu não fui capaz, pelos motivos acima citados, consciente ou inconscientemente, de enfrentar os obstáculos diários e fechar as feridas, utilizando o curativo do amor, da maturidade emocional, do desejo de crescer sempre na relação, e de ser feliz com quem amo.
Foto by: Singsang
A traição se apresenta como um espelho, nos colocando frente a frente com as nossas frustrações e medos, onde a verdade se apresenta gerando uma culpa que vai além dos discursos moralistas. Falo de uma culpa interna, baseada nos meus princípios, que norteiam os meus sensos de ética e de respeito que eu deveria nutrir por mim mesmo.
A traição aparece na vida de algumas pessoas como um comportamento de auto-sabotagem, onde o indivíduo torna-se o seu maior adversário, inviabilizando qualquer situação que dê a ele a esperança de realização e felicidade. Por quê ele age assim? Talvez porque não se julgue merecedor de cuidado, alegria e realização afetiva.
De nada adianta mudar o personagem com quem convivo, se o que me motiva a trair não está fora, e sim dentro, são os meus medos e conflitos não resolvidos, que me fazem dependente destas ações “salvadoras”, “relaxantes” e utópicas.
Se você chegou até aqui, lembre-se da introdução do texto, onde deixo clara a possibilidade de se encontrar alguém que nos motive a enfrentar esses “monstros” internos e a superar esses medos enraizados em nossa personalidade, nos impedindo de viver, com qualidade, uma grande aventura amorosa.
*Texto referente ao estudo sobre relacionamentos afetivos realizado no dia 20 de novembro de 2010, redigido pelo psicólogo e integrante do Grupo Arte Nascente, Marcelo Machado de Albuquerque. Extraído do site do Grupo Arte Nascente (GAN).