Pesquisa evidencia relação entre a dificuldade de perdoar e ocorrências de infarto agudo do miocárdio
Perdoais-nos as nossas ofensas, assim como perdoamos a quem nos tenha ofendido. A frase repetida há milhares de anos durante a oração cristã traz, na verdade, um tema importante e recorrente dentro do ambiente religioso em geral: o perdão. O assunto, porém, tem transbordado dos templos ou igrejas para adentrar o mundo acadêmico.
Tanto que estudos e pesquisas já mostram que o ato de perdoar pode garantir maior qualidade de vida e mais saúde para o coração. Uma pesquisa apresentada este ano no 40º Congresso da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo (Socesp) aponta relação entre a dificuldade de perdoar e ocorrências de infarto agudo do miocárdio.
Responsável pelo estudo, a psicanalista Suzana Avezum explica que separou dois grupos comparáveis. Um de infartados e outro de saudáveis. Eles passaram por testes e responderam a questionários e a conclusão foi que o grupo de pessoas que tinham sofrido infarto tinha uma menor disposição para perdoar. Enquanto os mais sadios tinham uma espiritualidade maior.
Segundo Suzana, a espiritualidade interfere de maneira positiva em relação à disposição de perdoar. No entanto, a psicanalista alerta que o termo não deve ser confundido com religiosidade. Na espiritualidade, a pessoa busca um sentido para a vida e uma relação de harmonia consigo mesma e com os outros. Religiosidade tem a ver com dogmas, a pessoa segue uma religião, frequenta algum culto ou templo, explica ela.
O mecanismo
“Nosso cérebro está preparado para deixar nosso corpo pronto para se defender quando se sente ameaçado. Nos preparamos para atacar ou para fugir”, diz Suzana. Quando alguém nos faz algo ruim, ainda que não seja em nível físico, nosso cérebro interpreta como ataque e libera hormônios como adrenalina e cortisol para nos deixar em alerta.
“O cérebro não tem calendário. Então, imagine você ao longo dos dias remoendo uma situação na qual você considera que alguém te fez mal, alimentando raiva e mágoa. E seu cérebro e corpo revivendo isso e liberando esses hormônios”, pondera Suzana.
Segundo ela, perdoar é uma atitude mental em que o indivíduo abre mão da vingança, da raiva e da mágoa de quem lhe fez mal. Livrar a mente desses sentimentos é uma maneira de proteger o coração.
Em seu estudo, Suzana cita que outras pesquisas já vêm associando a falta de perdão e ruminação da mágoa com a ocorrência de afetividade negativa, como raiva, estresse e depressão. Tais sentimentos podem ter efeito adverso na circulação sanguínea no coração e provocar o aumento da pressão arterial.
O corpo é um
Para José Francisco Kerr Saraiva, presidente da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo (Socesp), cada vez mais a Medicina tem se relacionado com a espiritualidade. “Temos evidências de que a paz, a tranquilidade e a alegria fazem bem ao cérebro, coração. Ao corpo de forma geral. Afinal de contas, o corpo é um só”.
De certa forma, as expressões populares que ligam o coração às emoções fazem sentido: explode coração, coração partido, o coração não vai aguentar. “De forma geral nosso corpo está interligado e nossos pensamentos e nossas emoções também influenciam na saúde física”.
Fonte: Site A Tribuna, escrito por Tatiane Calixto