quarta-feira, 28 de outubro de 2015

Reflexões sobre o casamento

"Que efeito teria sobre a sociedade humana a abolição do casamento?"
Resp.: "Seria uma regressão à vida dos animais". (Q. 696 d’O Livro dos Espíritos)

Em meio a tantas crises que vivemos, individuais, coletivas e planetária, os relacionamentos não ficariam isentos. Não sabemos se por inabilidade ou incompatibilidade, se por “carma coletivo” ou por capricho, o fato é que os laços afetivos já não se encontram tão apertados. Os solteiros (principalmente as solteiras) querem casar e os casados... Reclamam!

O que não podemos perder de vista é que o casamento tem função importante, tanto para a sociedade quanto para o desenvolvimento psíquico e espiritual do ser, e quando negligenciamos aspectos importantes em sua vivência, os indivíduos e a sociedade como um todo são afetados.


Ainda crianças começamos a conhecer o mundo a partir do mundo diminuto da nossa família; aí também começamos a aprender como nos relacionar e principalmente como deve ser a relação com o nosso cônjuge. Acreditem: aprendemos o que é casamento com os nossos pais, como nos recorda Alberto Almeida¹: “Aprendemos a ser esposos e esposas na convivência diuturna, especialmente com os nossos pais, de forma consciente ou inconsciente...”.

A família é o nosso primeiro modelo de mundo e, consequentemente, lá aprendemos a gostar ou não gostar, agir ou reagir, entregar-se ou preservar-se etc. Por exemplo, se tivemos a “sorte” de crescer em um ambiente onde as emoções eram acolhidas e respeitadas, teremos melhores condições para lidar de forma saudável com elas. Ou ainda, se fomos agraciados por pais amorosos, que demonstravam afeto entre si e pudemos crescer vendo-os abraçados, beijando-se e reconhecendo o valor e qualidade um do outro, muito provavelmente buscaremos construir um modelo dentro desses padrões. Claro que não podemos anular o efeito da relação afetiva dos nossos pais conosco, que também interfere diretamente nas nossas escolhas afetivas.

No sentido oposto, enquanto estivermos presos às nossas feridas da infância, manteremos relacionamentos imaturos e infantis. Isso ocorre, pois, enquanto nosso relacionamento conosco for deficiente, a qualidade dos nossos relacionamentos será afetada, e projetaremos as nossas questões em aberto nas pessoas próximas: e quem é mais próximo que o cônjuge?

Isso nos leva à seguinte conclusão: sem um processo de autoconhecimento cedo ou tarde nossos relacionamentos sofrerão as consequências; ou porque entrarão em crise ou talvez porque nem cheguem a acontecer...

Mas não poderíamos refletir sobre o casamento sem levarmos em consideração as questões culturais, de gênero, religiosas, econômicas etc., por isso que não é tarefa fácil, como já dizia Balzac: “O matrimônio é uma ciência”. 

Há pouco tempo conheci um casal que comemorava 60 anos de casamento, e fiquei admirada quando conversava com a esposa, pois supreendentemente ela revelou: “só eu sei o preço que paguei para chegar aqui”. Aquela foi sem dúvida alguma uma fala que eu não esperava. Será que o casamento todo havia sido ruim? Foram 60 anos... Mas a resposta veio na própria história, pois aquele foi um casamento “arrumado” pelas famílias. Não é que tenha sido ruim, mas também não foi bom, no sentido de proporcionar crescimento aos dois. Disso se conclui que não é a duração de um casamento que dá a sua real dimensão, mas o quanto se aprimoram como indivíduos aqueles que o compõem. Quando olhamos para trás, percebemos como a incompreensão da grandiosidade do casamento existe desde há muito tempo.

Como poderemos acertar se não tivemos modelos para seguir? Onde nos perdemos e com isso perdemos a hora do encontro?

Fomos tão influenciados que crescemos e estruturamos nossos relacionamentos nessas bases frágeis que foram deixadas para nós. Criamos crenças que foram interferindo no fluir natural dos nossos sentimentos, recebemos por herança as experiências frustradas das nossas mães e os medos da entrega dos nossos pais. Para mudar esse resultado, precisamos começar a nos relacionar melhor com a pessoa que somos.

1 A arte do reencontro: casamento. FEP

*Texto extraído do site Correio Espírita