Em "Os Mortos e os Vivos", o sociólogo
Reginaldo Prandi oferece ao leitor uma breve introdução ao kardecismo, a
"religião discreta" da classe média brasileira, e à umbanda, essa versão
miscigenada e menos "letrada" do espiritismo no Brasil. Ambas as crenças dizem
muito do país, como nos mostra Prandi, com mão leve, em seu texto. O livro é
publicado pela Três Estrelas, selo editorial do Grupo Folha. O autor prefere
sempre sugerir a estabelecer correspondências explícitas entre o espiritismo e
características da sociedade brasileira.
Mas é impossível não perceber as disputas por
status, o anseio da elite e das classes médias por "modernização", as relações
de classe e os preconceitos de cor na história contada por Prandi. Apesar de se
referir à crença imemorial em entidades invisíveis, o "espiritualismo" é
sobretudo um fenômeno moderno. Foi em meados do século 19, diz o autor, que a
prática de comunicação com os espíritos se tornou moda na Europa e nos EUA.
Muitos de seus praticantes acreditavam que seria possível recorrer à ciência
para explicar essas relações mediúnicas.
Esse caráter moderno, cientificista, foi
exaltado por Allan Kardec ao fundar o espiritismo, que se valia também de outra
ideia característica da modernidade, a de progresso, associada às reencarnações
dos espíritos.
A nova doutrina de origem francesa encontrou
terreno fértil no Brasil, único país onde veio a se constituir em religião
completa e autônoma.
Talvez por seu caráter "modernizador", o
espiritismo exerceu forte atração sobre homens ilustres da sociedade carioca. O
cronista João do Rio registrava entre seus seguidores, no início do século 20,
membros das Forças Armadas, advogados, professores e jornalistas.
A escolaridade elevada é ainda hoje uma marca
dos kardecistas. Mais de 30% deles têm o curso superior completo --nível
atingido por 9% dos católicos, e por 4% dos evangélicos pentecostais.
AUTOR
Reginaldo Prandi
EDITORA
Três Estrelas
QUANTO R$
25 (116 págs.)
* Texto extraído do site Partida e Chegada