terça-feira, 2 de abril de 2019

Pela primeira vez, parte de acervo raro sobre Chico Xavier e a doutrina espírita será exibida ao público em Uberaba

Chico Xavier é considerado referência da doutrina
espírita em Uberaba e região — Foto: Reprodução/TV Integração
Entre jornais e manuscritos datilografados, um dos materiais mais importantes que serão exibidos é a planta de um "museu" carimbada com o nome do arquiteto Oscar Niemeyer.

Pela primeira vez será exibida ao público parte do acervo raro com vários jornais, revistas, fotos, livros e manuscritos datilografados sobre o médium Chico Xavier e a doutrina espírita.

O material, com cerca de 30 itens, ficará na exposição “Memórias Vivas Uberaba – 60 anos de Chico Xavier”, no Shopping Uberaba, a partir desta terça-feira (2), dia em que o médium completaria 109 anos. A exposição, que vai até o dia 15 de abril, é uma das ações em comemoração ao aniversário de Chico.

Os documentos que serão exibidos foram encontrados em um cômodo da Comunhão Espírita Cristã, que foi o primeiro Centro Espírita fundado pelo médium em 1959, quando ele se mudou para Uberaba.

Um dos materiais mais importantes que será exposto é a planta de um “museu” que está carimbada com o nome do arquiteto Oscar Niemeyer.

A surpresa para os pesquisadores em relação a este projeto foi descobrir que, na época, Chico Xavier e outros adeptos da doutrina já pensavam em construir algo bem parecido com o atual Memorial Chico Xavier, e que seria chamado de “Exposição Espírita Permanente”.

"Vai ter toda uma narrativa em torno desse projeto, explicando sobre o que se tratava. Um dos objetivos de expor esse trabalho é descobrir o porquê de o projeto do Niemeyer não ter ido para frente, já que o material tinha sido comprado e o terreno estava pronto. Mostrando isso ao público dá a oportunidade de as pessoas contribuírem com informações que nos ajude nessa descoberta", afirmou o museólogo Carlos Vitor Souza, coordenador do Memorial Chico Xavier.

Projeto previa a construção da "Exposição Espírita
Permanente". — Foto: Ruth Gobbo/Fundação Cultural de Uberaba

Planta foi assinada pelo arquiteto renomado Oscar
Niemeyer. — Foto: Ruth Gobbo/Fundação Cultural de Uberaba

Esta é a primeira vez que o Memorial Chico Xavier fará uma exposição fora do museu. O objetivo, segundo Souza, é aproximar a comunidade do Memorial, levando informações que contribuam com a história de Uberaba e do Espiritismo.

"A expectativa é de que um grande número de pessoas vai conferir esse material e ter contato com o Memorial em um momento de lazer. O Memorial é espaço que está sendo construído aos poucos e a gente quer a comunidade ao nosso lado, participando e interagindo", comentou o museólogo.

Ainda de acordo com ele, durante a exposição, o público interessado também poderá doar livros para ajudar a compor a biblioteca do Memorial.

Importância do acervo

Para os responsáveis pelo trabalho de conservação do material e pela descoberta, o achado já pode ser considerado um patrimônio para o município e para a doutrina espírita, já que guarda informações de todos os tipos, não só da década de 1960, como também do início do século 20.

Por isso, a expectativa da equipe do Memorial é de que esse acervo inédito seja uma fonte de informação e de pesquisa.

"Entre os materiais há uma quantidade imensa de jornais mostrando como a imprensa abordava as questões espíritas naquela época; são mais de 100 tipos de jornais catalogados, cada um com uma visão diferente. Já estamos recebendo ligações de pesquisadores que querem fazer dissertações e teses sobre esse material. Além do público visitante, a gente quer atrair o público pesquisador", acrescentou Souza.

Depois de ser exibido no shopping, o material ficará exposto em caráter permanente no “Centro de Pesquisa e Documentação do Patrimônio Cultural do Espiritismo”, que foi montado dentro do Memorial Chico Xavier.

"A importância desse material reforça a atuação de uma doutrina que teve um impacto social, econômico e cultural. Além disso, Chico é o maior brasileiro de todos os tempos, é o mineiro do século, foi um dos cidadãos que mais projetaram Uberaba no cenário nacional e, até mesmo, internacional. Chico escolheu Uberaba para viver, desencarnou e deixou uma memória. Essa memória precisa ser preservada", afirmou o museólogo.

Livro dos Médiuns, por Allan Kardec, é um dos materiais
raros encontrados que será exibido na exposição. —
Foto: Ruth Gobbo/Fundação Cultural de Uberaba

A descoberta

O tesouro foi descoberto por acaso, em setembro de 2017, pelo pedreiro Lourencildo Gonçalves, que foi fazer um serviço no Centro Comunhão Espírita a pedido de um amigo. Em seguida, o acervo foi entregue por comodato ao Memorial Chico Xavier que, em parceria com a Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM), deu início aos trabalhos de conservação.

Com a supervisão do museólogo do Memorial, estudantes da UFTM fazem a higienização do acervo, além do arrolamento – que é o processo de identificação, numeração e pesquisas de informações básicas sobre o conteúdo de cada arquivo que são registradas em um programa de computador.

"Não só pra mim, mas pra toda equipe do Memorial, esse acervo passa a constituir a identidade do museu, que vê o Espiritismo e o Chico Xavier como fatores histórico-cultural. Então, trabalhamos na linha da informação que a gente transfere para o público em forma de conhecimento", ressaltou Souza.

Até agora, quase 50% do material passou pelo processo de conservação.


Trabalhos de conservação foram iniciados em
2018. — Foto: Ruth Gobbo/Fundação Cultural de Uberaba

Memorial Chico Xavier

A ideia do Memorial Chico Xavier foi concebida em 2003, um ano depois da morte do médium. O museu fica no Parque das Américas e foi inaugurado em 2016. A estrutura tem mais de 8 mil m², conta com obras escritas pelo médium, fitas e livros sobre a história de Chico Xavier.

Na opinião do museólogo, ter esse acervo raro é uma oportunidade de contar a história do espiritismo e de Chico Xavier de uma forma mais "palpável".

"É um sentimento único, porque logo no início do Memorial havia material suficiente para ser exibido. Mas aos poucos, fomos mostrando que o espaço estava funcionando. E a medida que a gente recebe esse acervo, é algo que deixa qualquer profissional do patrimônio muito feliz porque a gente passa a ter uma base para recontar a história", disse Souza.

"É um processo longo, é um caminho que está sendo construído, mas a gente espera que tão longo tudo isso se efetive de uma forma que o Memorial atinja o status de Centro Cultural para o Triângulo Mineiro"

Museólogo Carlos Vitor tem boas expectativas com a
exposição do material inédito. — Foto: Reprodução/TV Integração


Matéria por Mariana Dias, G1 Triângulo Mineiro