terça-feira, 2 de maio de 2017

Humor e Espiritismo - Entrevista com Cia. Amigos da Luz

Com vídeos curtos, grupo utiliza a comicidade para criar reflexão sobre como a Doutrina Espírita pode ajudar-nos a lidar com nossos defeitos

Sucesso de público na internet, o grupo Cia. Amigos da Luz tem-se destacado em seu canal no Youtube (www.youtube.com/amigosdaluz) com os vídeos de “Humor e Espiritismo”. Formado pelos amigos Alex Moczydlower, Carla Guapyassu, Ewerton Oliveira, Fábio de Luca, Fábio Oliviere, Jean Rizo, Loeni Mazzei, Sidney Grillo e Sônia Barbosa, o grupo produz de forma leve e descontraída vídeos que trazem ensinamentos espíritas ligados a situações do cotidiano, propiciando ao público um entendimento mais simplificado sobre temas muitas vezes de complexa abordagem. Conversamos com Fábio de Luca, um dos idealizadores da Cia. Amigos da Luz, que, no mesmo tom descontraído com que o grupo se expressa no Youtube, falou sobre os objetivos do projeto e de que forma esse conteúdo, associando humor e Espiritismo, pode aproximar os ensinamentos espíritas de jovens e simpatizantes.



Revista Internacional do Espiritismo (RIE) – O início do grupo foi no teatro, com a peça “Morrendo e Aprendendo”. De que forma surgiu o grupo e quantos componentes havia no início? Atualmente, quantos fazem parte?

Fábio de Luca – Com exceção da Carla Guapyassu (que conheci mais tarde, como minha professora de voz na Faculdade de Artes Cênicas) e do Ewerton Oliveira (fã do nosso canal no Youtube, que se aproximou oferecendo ajuda na produção), todos já nos conhecíamos de trabalhos em comum realizados no teatro, nenhum destes com temática espírita até então. Atualmente, o grupo é formado por nove integrantes. Como eu, Fábio Oliviere, Alex Moczydlower e Sidney Grillo tínhamos a vincular-nos a simpatia pelo Espiritismo, resolvemos nos juntar para montar uma peça inspirada na Doutrina. Daí surgiu, em 2008, a comédia “Morrendo e Aprendendo”. Os demais integrantes foram se aproximando nas outras peças montadas sob essa mesma linha de humor e Espiritismo, além do canal no Youtube, que implementamos na companhia em 2015. Os demais integrantes foram se aproximando seja diretamente nas  peças seguintes  montadas sob essa mesma linha de humor e Espiritismo, seja por simpatia aos nossos vídeos no Youtube.

RIE – E qual a origem do nome?

Fábio – No início do grupo, a maioria dos componentes morava em Nova Iguaçu (RJ), terra onde viveu o saudoso professor Leopoldo Machado, grande personalidade do movimento espírita brasileiro. Nós nos reuníamos para os ensaios na casa do Fábio Oliviere, no Bairro da Luz daquela cidade. Então o nome Amigos da Luz, embora pareça algo meio transcendental, foi inspirado no nome do bairro onde os primeiros encontros aconteciam.

RIE – Em que momento os vídeos para a internet foram agregados ao trabalho do grupo? E como se definiu o formato de unir humor aos ensinos espíritas?

Fábio – Quando se tornou fácil distribuir conteúdo audiovisual pela internet, em sites como o Youtube, ficamos com uma baita vontade de levar para os vídeos a linguagem que já utilizávamos no teatro. Mas ainda não sabíamos bem como fazer, já que fazer teatro e fazer vídeos são duas atividades bem diferentes. Até que comecei a trabalhar no canal de humor Parafernalha, um dos maiores do Brasil no Youtube, como ator e roteirista. Lá tive contato com a produção desse formato de vídeos de comédia curtinhos, fáceis de ser vistos e compartilhados nas redes sociais. Daí, trouxe esse know-how para o nosso grupo e resolvemos experimentar o formato usando a temática espírita. Escolhemos o humor como gênero da maioria dos vídeos porque entendemos que a comédia é muito eficiente em aproximar das pessoas e de seu cotidiano assuntos que à primeira vista parecem complexos e distantes. O Espiritismo nos traz verdadeiros tesouros que, infelizmente, muitas vezes deixamos só na teoria. E o humor sadio, ao utilizar o exagero como elemento de comicidade, sublinha nossos defeitos e abre assim a possibilidade da reflexão sobre como o conhecimento espírita pode nos ajudar a lidar com eles na prática.

RIE – Quais as maiores dificuldades encontradas no desenvolvimento do projeto?

Fábio – Sem dúvida nossas próprias imperfeições. Até hoje! A falta de disciplina é nosso maior desafio. Temos muita vontade de trabalhar, amamos profundamente o que fazemos, mas temos sérios problemas na hora de planejar as coisas, o que acaba comprometendo os cronogramas de produção, edição e roteiro. Isso acarreta alguns atrasos. Em segundo lugar, sofremos – como provavelmente todos que se propõem a produzir cultura de maneira independente no Brasil – com a falta de apoiadores e patrocínio, algo que, se tivéssemos, nos ajudaria a ampliar os projetos e a equipe (atualmente, como somos poucos, acabamos acumulando várias funções). Muitas empresas e até pequenos apoiadores (para locação, figurino, etc.) fecham as portas quando tomam conhecimento que nossa temática é espírita. Eles têm medo de associar sua marca ao Espiritismo e assim afastar uma parcela de clientes mais preconceituosos. 

RIE – Há ou houve parcerias com instituições?

Fábio – Não. Embora tenhamos bastante afinidade com algumas instituições e em todas elas tenhamos conquistado grandes amigos, nossa proximidade até hoje tem acontecido por ocasião das apresentações teatrais ou quando somos convidados a falar um pouco sobre o canal em reuniões públicas ou para mocidades espíritas.

RIE – Muitos espíritas confundem estudo sério com sisudez. Vocês acreditam que este é um fator que pode afastar os jovens da Doutrina Espírita? Como foi a receptividade do público aos vídeos?

Fábio – Acreditamos, sim, que pode afastar os jovens! Sem dúvida! Não só os mais jovens, mas também as demais pessoas! Nesse período de transição que vivemos no planeta, em que as instituições, os valores, a própria noção de autoridade, tudo parece desmoronar, não dá para manter a mesma fórmula de comunicação de antes ao abordar o Espiritismo. Diante do universo que a internet descortinou nas telinhas e telonas de todo o mundo, somos desafiados a ser bem mais criativos, caso contrário acabamos passando pela timeline completamente despercebidos. Essa criatividade, no entanto, não pode descambar para a banalização; deve ser divertida e instrutiva. O engraçado não é o contrário do sério; o contrário do sério é o descomprometido. Então, ao fazer humor, podemos tudo, desde que não percamos de vista nosso compromisso. Quanto à receptividade do público com os vídeos, sempre foi muito boa, desde o início. A maioria aprova, ri bastante conosco das nossas próprias mazelas e reflete junto. Quando as pessoas veem algum equívoco em nosso trabalho, trazem-nos seu ponto de vista com muito respeito, enriquecendo sempre o debate que cada peça ou vídeo pretende causar. Mas, por outro lado, já ouvimos coisas como: “com Espiritismo não se brinca”, “vocês são oportunistas”, “Kardec está se revirando no túmulo por causa de vocês” (se Kardec está no túmulo, imagine onde estaremos nós!). Os que assim pensam, entretanto, constituem parcela muito pequena do público. Estamos abertos a críticas que nos ajudem a melhorar, estimulamos nosso público a nos alertar caso nos desviemos da rota, mas diante de opiniões como essas acima, que não são críticas construtivas, apenas “deixamos pra lá”. Afinal não é possível agradar a todos.

RIE – Acima de tudo, os vídeos de “Humor e Espiritismo” são pautados na transmissão da mensagem espírita, ou seja, não é humor por humor. Este formato facilita o entendimento de quem está conhecendo o Espiritismo? Poderia citar o exemplo de algum tema complexo por vocês abordado?

Fábio – Acreditamos que facilita, sim, porque existem temas que parecem muito complexos e distantes de nós, mas em geral, se prestarmos atenção, são simples e presentes em nosso dia a dia. Um tema desses, por exemplo, é a transição planetária. Abordamos o assunto no vídeo “Ligação do Plano Espiritual”, um dos mais vistos do canal, no qual uma atendente de telemarketing desencarnada “liga” para um encarnado, informando que ele “ganhou uma passagem” para um planeta de ordem inferior à Terra, já que não alcançou evolução moral mínima para continuar a encarnar aqui, quando este mundo tornar-se um mundo de regeneração. Nossos vídeos têm poucos minutos, de modo que evidentemente não dá para esgotar o assunto, mas tentamos pelo menos facilitar o entendimento geral da ideia e estimular a curiosidade para que as pessoas procurem ler mais a respeito.

RIE – Comente sobre os vídeos ao vivo de estudo de “O Livro dos Espíritos”. Como surgiu essa ideia? Há perspectiva de desenvolver estudos com outros livros?

Fábio – A Live surgiu porque algumas pessoas que acompanham o canal pediam um meio de interação mais direto conosco. E como percebíamos que muita, mas muita gente mesmo, que curtia o canal nunca tinha lido nenhum livro da codificação, sequer conheciam Kardec, no máximo tinham lido um ou outro romance psicografado, pensamos em fazer um encontro ao vivo de leitura e comentários sobre O Livro dos Espíritos. Não encaramos isso exatamente como um estudo, tanto que, sempre no início, informamos que a Live não substitui o Estudo Sistematizado da Doutrina Espírita, o qual deve ser feito por quem estiver realmente interessado em aprofundar-se no assunto. Nosso encontro ao vivo tem como objetivo ser mais um bate-papo descontraído, um meio de desmitificar O Livro dos Espíritos e mostrar que não há nada de chato nele, como muitos pensam. Mostrar que, na verdade, ele é um barato! Sobre outros livros, ainda não tivemos tempo de implementar nada, mas com certeza queremos sempre trazer Kardec como foco.

RIE – Qual a importância de incentivar a arte no meio espírita?

Fábio – Temos nas mãos um tesouro, o consolador prometido! Mas para isso tudo dar certo, para realmente funcionar, a mensagem tem de chegar às pessoas. E a arte pode ser a mais bela ponte que podemos construir entre os corações, onde o consolador poderá transitar e frutificar livremente.

RIE – Suas considerações finais.

Fábio – Agradecemos o espaço e o interesse em nosso trabalho. Convidamos os amigos que ainda não nos conheçam a acessar nosso canal no Youtube e a inscrever-se! Isso é muito importante para nós, pois é exatamente um número expressivo de assinantes que faz um canal ter bastante visibilidade na internet. E àqueles que estão afinizados conosco e também têm vontade de produzir conteúdo artístico de temática espírita para web, TV, cinema, ou sabe-se lá que outras mídias mais possam surgir, nossa mensagem é: Cai dentro! Bora ajudar na construção de um mundão novo que vem aí!

Entrevista plicada no site O Clarim, po Cássio Leonardo Carrara (cassio@oclarim.com.br) em 01/05/2017