Entre o que acontece comigo e minha reação ao que acontece comigo, há um espaço. Neste espaço está minha capacidade em escolher minhas respostas e definir meu destino. - Stephen Covey
Quando influências externas colocam em risco os ditames da alma, um terrível sofrimento ganha espaço na vida da pessoa, esteja ela consciente disso ou não, produzindo espasmos metafóricos que fazem barulho para avisar que a jornada não está sendo cumprida segundo os objetivos mais ressonantes ao crescimento desse ser humano particular, situado em algum instante de seu itinerário evolutivo.
No tempo que exercia de maneira solitária a função de professora, eu sempre me preocupava com meus alunos, principalmente atenta ao fato do quanto a natureza do erro é útil à construção crítica do conhecimento.
Mas para mim sempre foi muito difícil ignorar o quanto não fazia sentido pessoas, que poderiam estar dedicadas a outras tarefas, estarem, naquele momento de suas vidas, totalmente presas a papéis muito mais vinculados a padrões culturais – como é o caso das projeções familiares, por exemplo, – do que a conteúdos vocacionais e que são, portanto, fecundados continuamente pela boa força do coração.
Consequentemente, no mundo de todo dia pululam médicos que detestam doentes, professores que abominam alunos e o ato de ensinar, pais que não suportam passar dias inteiros com seus filhos pequenos, delegando sempre os cuidados das crianças para “os carentes avós”, e por aí refulge a cisão entre alma e personalidade, segundo os inúmeros descasos do ser humano consigo mesmo e com os demais.
E diante de tanta dor e transtornos, pergunto: qual é o papel do terapeuta?
Mas é importante frisar que o contexto da pergunta diz respeito ao terapeuta cujo "protocolo de serviço" pressupõe a escuta dirigida a uma "má comunicação" entre personalidade e alma (eixo ego-self), que resulta em problemas de relacionamentos e de convivência social.
O papel do terapeuta, ouso insistir, é tentar investigar os desacordos criados no eixo eu inferior - Eu superior, apoiando-se este profissional nas imagens que emergem, sejam elas cognitivas (campo mental), corporais (expressões do corpo) e da vida dos sonhos. E essas imagens são sintomas, logo podem ser entendidos como agentes metafóricos, visto que guiam a expressão da alma.
Depois de alguns anos ao lado de pessoas que reivindicam de minha parte esse “papel”, percebi que a única coisa que cabe a um honesto terapeuta é colocar-se próximo a essas imagens, procurando afrouxar a percepção consciente da pessoa acerca de si mesma e para que, combinado isso a um atuar das essências florais*, por exemplo, a vida continue a fluir, mas agora “com poder renovado em direção a novas metas” (Jung).
E essa pessoa, em consequência, ativada pelo convite de um mundo interior explorado e cuidado, poderá passar a experimentar um modo criativo de ser/estar, pondo-se dedicada aos apelos da própria alma, dando-se permissão para viver aquilo que Rilke nos contou um dia: “sabemos que existe espaço dentro de nós para uma segunda grande vida intemporal”.
Escrever sobre temas terapêuticos sempre pressupõe apresentar conceitos pouco originais. Contudo, por tudo que vivi e mesmo pelo pouco que sei, acreditando a presença do relativo muito presente em nossos incertos caminhos, desalojados que somos por pequenos ou grandes desafios, sei que duas atitudes continuam a ter sentido, principalmente em um tempo tão carregado por dilemas saturninos e feridas anímicas: retome a jornada da alma e corra o risco de amar a vida, afinal, da resiliência de um coração quente eu sei que pode brotar, em vez da pedra fria, a flor que jaz oculta nas profundezas.
(*) Meu papel como terapeuta tem a ver com a sugestão de essências florais. Considero-me, por isso, como uma Jardinista, pois sou, de fato, uma profissional que busca indicar as essências mais adequadas para pessoas que me procuram em razão de uma desconexão entre alma e personalidade (eixo ego-Self), por sua vez, fonte contínua de sofrimentos e mal-estar diversos, mas sempre dirigidos por agentes metafóricos.
*Texto extraído do site da Revista O Consolador em Crônicas e Artigos, Ano 8 - N° 384 - 12 de Outubro de 2014, por EUGÊNIA PICKINA.