Por Aline Rangel, publicado no site Partidas e Chegadas
“Decepções são um tipo dos dissabores que acometem pessoas, e só não se decepciona quem pode ver tudo perfeitamente, sem nunca se equivocar, o que não é humano.” (*1)
Aprender a lidar com decepções é capítulo fundamental para uma vida mais saudável e feliz. Como estabelecer vínculos, como investir nas relações interpessoais, sejam as afetivas, as profissionais, ou mesmo as familiares sem considerar que aqui ou ali, estaremos nos deparando com um traço, uma reação, um padrão de comportamento que não se encaixa com nossos modelos, com nossas expectativas…
As pequenas decepções, por serem mais fáceis de ser contornadas, são muitas vezes desmerecidas, desconsideradas em seus conteúdos mais profundos, acumulando-se e transformando-se em grandes problemas de relacionamento… Importantíssimo refletirmos sobre o motivo de nossas atuais decepções… Seriam justas realmente, indicando relações abusivas, neuróticas, que precisam ser avaliadas ou mesmo rompidas? Ou exprimem o quanto estamos funcionando de maneira egoica, sentindo-nos frustrados por percebermos que os outros não nos atendem os caprichos?
Vale, assim, considerar que, antes de julgamentos e reações precipitadas, cabe observação criteriosa acerca do quanto se pode estar projetando no outro das próprias dificuldades, dos próprios conflitos, que nada têm a ver com os limites necessários a serem estabelecidos em nome de um vínculo mais maduro.
As projeções, ou seja, o enxergar no outro uma característica negativa ou positiva que se porte em nível inconsciente, acontecem a todo momento e não poderia ser diferente. O conhecimento que normalmente portamos sobre nós mesmos carece em profundidade, o que faz com que vejamos fora aspectos que muito nos incomodariam se percebidos em nós mesmos, assustando-nos, entristecendo-nos, provocando surtos de raiva, ou reações de nojo, suspeita… Numa certa medida, a projeção tem uma função positiva, já que nos coloca em primeiro contato com estes conteúdos, mas é preciso superá-la para que assimilemos o que necessita ser modificado ou mesmo o que pede espaço para livre e produtiva manifestação.
As decepções nos trazem, portanto, valiosas lições. Seja porque estamos nos submetendo, sem perceber, a uma relação disfuncional e o fato de nos entristecermos profundamente com o que estamos vivendo já nos indique mais lucidez, ou porque se faça uma oportunidade de nos olharmos mais atentamente e perguntarmos: “Por que estou esperando que o outro realize por mim o que me cabe?” Ou ainda: “Por que isso me afetou tanto? É meu coração que está me alertando ou meu ego que exige reparação ou revide?” Vale nos posicionarmos de forma mais adulta e responsável com nossas expectativas! Aquilo que cobramos do outro pode estar (e normalmente está) muito longe do que nós mesmos podemos oferecer, como nos indica a mestra Eugênia em suas mensagens sobre o assunto.
Além disso, estamos também decepcionando corações que nos amam de verdade, sem nos darmos conta, sendo perdoados e aceitos com nossas deficiências… Por que então funcionar como juízes implacáveis, aguardando qualquer momento de deslize para desfiar um rosário de queixas mesquinhas, se precisamos tanto da compreensão de nossos semelhantes para nossas limitações? Sem dúvida, é importantíssimo criarmos limites claros em nossas relações para não sermos abusados em nossas demonstrações de afeto. Uma decepção mais séria e justa pode ser um aviso para que nos posicionemos, nos afastemos e construamos ligações melhores. Mas antes disso, cabe um olhar muito firme e sereno diante do espelho e a pergunta: “Quem, realmente, está me decepcionando agora?”
(*1) Extraído da mensagem “Dissabores” – Benjamin Teixeira, pelo espírito Anacleto, no livro “Sol de Esperança”.
(*2) Sugiro, enfaticamente, a leitura das mensagens “Toda Verdade” e “Dádivas Divinas em Embalagem Complexa”, ambas do espírito Eugênia, pela psicografia de Benjamin Teixeira, disponíveis no site, para os que desejarem aprofundar o tema.