quinta-feira, 3 de setembro de 2015

Sobre palestras espíritas

- “E então? Tem dado muitas palestras?!”

Ouvi esta pergunta cerca de onze anos atrás, na ocasião em que tinha a alegria de lançar meu primeiro romance mediúnico, O Pretoriano, pela Mundo Maior editora; mas, mesmo naquela época, mais inexperiente nos meios espíritas, a considerei meio cretina.

Ora. Apesar de guardar origens em família espírita, e desde os dezesseis anos ler ininterruptamente, pode-se dizer, aprofundando estudos na temática fascinante do que os Espíritos nos ensinam através de livros doutrinários ou romanceados, dentre outras correntes relacionadas ao assunto, eu apenas principiava, naquele tempo, a minha participação literária mais efetiva! Comecei com artigos, escrevendo para revistas eletrônicas e sites pessoais, em endereços virtuais que ainda mantenho. Mas os livros, esses, possuía uns dois engavetados em manuscrito; e só então, chegado aquele momento, em que tanto a família, quanto mentores e a espiritualidade assistente me compeliram a oferecer ao público o que começávamos a realizar, venci a inibição da iniciativa, para sair em busca da ampliação devida de horizontes neste sentido!


Não obstante, hoje compreendo com maior clareza a razão do mal-estar que aquela pergunta provocou. Porque, de cima das experiências adquiridas depois, vejo que “dar palestras”, para um autor espírita, possui, ainda agora, para muitos, como já possuía naquela época, um sentido de “ferramenta”;de recurso obrigatório, exigido para se obter popularidade e, por conseguinte, ter conhecidos e vendidos os nossos livros!

Para mim, no entanto, a venda dos livros, ao sabor do gosto do leitor, e respectiva popularidade do médium/autor, são, como deveriam ser sempre, consequências naturais! Não a finalidade principal - mas possíveis consequências do verdadeiro móbil de se ministrar palestras, que deveria ser sintonizado ao mesmo que leva a Espiritualidade protetora e assistente da humanidade a nos tutorar e inspirar, durante os períodos de reencarnação: comunicar as realidades do mundo espiritual, que a todos nós diz respeito! Esclarecer! Auxiliar! Amparar e orientar um mundo ainda quase totalmente perdido no desconhecimento das leis divinas maiores, no entrechoque cármico difícil que, inúmeras vezes, nos desnorteia nos pequenos e grandes desafios do dia a dia! Passar a noção de uma ótica mais verdadeira a respeito das nossas responsabilidades pessoais, e relacionadas ao nosso próximo!

Dar palestras, independente do palestrante ter ou não livros publicados, deveria ter como motivação maior a transmissão, em parceria com nossos mentores do invisível, desses esclarecimentos luminosos, que de fato auxiliam nossos ouvintes nos minutos rápidos do cotidiano! Rotineiramente! O amor à dedicação de se explicar, de maneira vibrante, sobre causa e efeito, lei do retorno, resgates cármicos, reencarnação - tudo isso à luz dos ensinamentos dos Espíritos contidos no Pentateuco e noutras tantas obras respeitáveis, e nos exemplos de tantos adeptos e simpatizantes desses assuntos, muitas vezes anônimos, que andam por aí, espalhando sua cota de luz, sua contribuição verdadeiramente cristã para um mundo melhor!

“Dar palestras” não deveria, jamais, ser citado, quase imposto, a qualquer autor ou espírita iniciante, ou mais experiente nos meios do Movimento, como ferramenta obrigatória de marketing pessoal, caros amigos! É, no mínimo, antiético mediante a essência daquilo que defendemos - embora utilitário, não se nega, às necessidades editoriais que, sim, residem nos critérios de lucros de um mundo material! E foi isso o que me soou mal à sensibilidade de médium psicógrafa de romances, naqueles tempos, ainda iniciante, embora entusiasta - como continua me soando agora!

Não! Eu não tinha dado uma única palestra então, como, ainda hoje, só o fiz na minha página pessoal de palestras no FACEBOOK, e, mais recentemente, nos lançamentos do meu último livro, falando brevemente ao público presente na livraria FNAC Barra da Tijuca, e na Fraternidade Espírita Irmãos de Cascais, a respeito do nosso novo trabalho! Nos primeiros tempos, todavia, poderia alegar que a timidez fosse um fator complicador desta iniciativa, embora hoje não mais. Mas, se palestras tiver que oferecer atualmente sobre Espiritismo, caro leitor, duas explicações são necessárias, ao menos no que diz respeito ao nosso trabalho em particular.

Primeiro, é que não sei, de índole, e nem conseguiria agir no meio espírita à moda do que acontece muito nos meios burocráticos laicos do país, exibindo e exaltando comportamentos não condizentes com o meu modo de ser – forçando amizades, distribuindo sorrisos artificiais, bajulando dirigentes de Centros e seus coligados em busca de uma oportunidade de aparecer mais, ou de receber convites;aumentando geometricamente a importância e a popularidade do que realizamos; falando sem parar, em tom eletrizante calculado, sobre o que fazemos, e o tanto que é maravilhoso o dom mediúnico e todas as minúcias de como os meus mentores e autores dos meus livros fazem notar a sua presença, como qualquer funcionário burocrata que visa se destacar para ganhar uma promoção! Porque tal atitude, nem seria digna de um médium seriamente imbuído do verdadeiro sentido de seu trabalho, quanto, também, despertaria dúvidas nos mais sensatos sobre que espécie de assistência espiritual endossaria essa grande mostra de vaidade vulgar, de postura incompatível para com o que preconiza a própria essência dos ensinamentos Espíritas!

Em segundo, toda palestra que faço em vídeo, ou que venha a proferir pessoalmente diante de pessoas sinceramente interessadas, pode até ter, como consequência bem-vinda, espontânea, da parte dos interessados, a venda de nossos romances, que de fato transmitem lindas revelações de seus autores sobre como funciona a vida da ótica espiritual, e nas esferas invisíveis – mas o móbil maior será, sempre, o assunto, em si! O prazer inesgotável de se falar, de esclarecer, de trocar impressões, e, mesmo,de aprender e crescer em conjunto, compartilhando temas que elevam, não apenas o ouvinte, mas também o palestrante!

Pois é inegável que ele, o palestrante, em primeiro lugar, é o que deve e pode aprender com aquilo que transmite nas tribunas de Centros e Casas espíritas!

*Texto extraído do site da Revista O Consolador, em Crônicas e Artigos, Ano 9 - N° 428 - 23 de Agosto de 2015, por CHRISTINA NUNES.